Carlos Chagas
Indica o Datafolha que haverá segundo turno nas eleições presidenciais de 2014, caso Marina Silva, pelo PSB, e José Serra, pelo PSDB, disputem a eleição com Dilma Rousseff. Mesmo assim, conforme a pesquisa, a atual presidente venceria na final, contra a ex-senadora ou contra o ex-governador. Números são números, podem mudar ao sabor do sol ou do relógio, mas fosse a decisão tomada no fim de semana que passou e a sorte estaria lançada. Acresce que sem a necessidade de o Lula entrar na corrida, uma espécie de pulo do gato que o PT guarda não propriamente em segredo, mas só para eventualidades futuras. Com o ex-presidente, não haveria segundo turno e, talvez, nem adversários.
Pode ser explicada a indagação sobre os resultados da nova consulta, realizada depois de Marina Silva haver ingressado no PSB de Eduardo Campos e diante de rumores cada vez mais viáveis sobre José Serra estar na disputa com Aécio Neves. Revela a parcela de eleitores consultados, mesmo pequena com relação aos 120 milhões de eleitores, continuar o país dividido em duas porções: uma, majoritária e capaz de exprimir-se, aferrada ao PT, ao Lula e ao governo Dilma, com seus aliados. Outra, pouco menor e fracionada, buscando recuperar fatias do passado.
Se pudesse haver uma simplificação, seria de um lado os mais pobres que emergiram da miséria, apoiados por menos pobres que reconhecem e aplaudem a mudança. Do outro lado, quantos se julgam discriminados por não ter sido beneficiados como gostariam, no caso, a classe média e as elites. Mais claramente: as agora massas favorecidas versus os esperançosos de receber os favores de antes. Dá para reduzir a equação entre os pobres contra os ricos, ou quase isso, tendo em vista as nuanças de cada situação e de cada opção dentro do universo nacional.
É óbvio que o Lula, Dilma, o PT e os penduricalhos não se apresentam contra as elites, muito menos contra a classe média. Até beneficiam os privilegiados mais do que deveriam. Mas como governam para as massas, apesar de contradições variadas, caracterizam o divisor de águas, expresso no resultado da referida pesquisa. Peneirando tudo, vem a consequência capaz de elevar a temperatura: trava-se uma batalha entre pobres e ricos, com todas as suas contradições.
Fazer o quê, no caso dos derrotados? Seria supérfluo e inócuo esperar que o governo fracassasse de forma absoluta, sobrevindo crise tão grande a ponto de os atuais donos do poder perderem o apoio das massas. Sobra a saída de as elites comprovarem a intenção de mudar. De voltar-se preferencial ou até completamente para os pobres. Convenceriam, através de promessas eleitorais? Só por milagre, mas outra opção não há.
Em suma, é o milenar confronto entre ricos e pobres, entre as massas e as elites, em meio a montes de contradições. Só que desta vez, com indicações diferentes.