Ricardo e a radicalização dos protestos

Nilvan Ferreira

Um estudioso no tema da educação fincou uma frase muito forte: “Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem de experimentar a ignorância”. E é baseado nesta frase bastante marcante para os dias atuais que convido você a fazer uma espécie de reflexão profunda em torno do que o governador Ricardo Coutinho começa a colocar em prática no setor educacional da Paraíba.

A reação da população sertaneja nesta quinta-feira, durante visita do governador, reflete o nível de insatisfação das camadas socias em relação à medida adotada pelo executivo estadual. O protesto soou como um recado: “governador que fecha escola não é bem vindo aqui”. O incidente é merecedor de profunda reflexão em torno do assunto. Talvez tenha sido o protesto mais radical que o governador já enfrentou com apenas pouco mais de um ano a frente do Palácio da Redenção.

O projeto que o estado quer “tocar” a todo custo, sem uma discussão ampla com a sociedade e com a comunidade escolar pode ser considerado um verdadeiro crime. Um atentado dirigido a educação e ao futuro de milhares de crianças e jovens. Onde já se viu decretar o fechamento de quase 200 escolas públicas, deixando milhares de crianças sem acesso à educação perto de casa, dificultando que futuros cidadãos possam ter a escola como instrumento para construir cidadania?

Começo a achar que ninguém tem juízo de verdade neste governo que a Paraíba elegeu pelo voto secreto e direto. Não há como “engolir” este fato e digeri-lo facilmente sem pelo menos protestar. Tudo bem. Que exista uma previsão, baseado num planejamento para a educação a médio e longo prazos, indicando que escolas deveriam ser revistas, do ponto de vista técnico e de funcionamento, visando melhorar o funcionamento da rede em todo estado. Não estou aqui contra reordenamento ou coisa parecida.

Agora, o que não dá pra concordar é que Ricardo Coutinho dizima quase 200 escolas do mapa da educação na Paraíba como se fosse a coisa mais normal do mundo e que, além disso, ninguém tenha o direito de expressar seu descontentamento com a decisão. Governador, respeite a educação. Respeite o futuro dos filhos dos paraibanos que não podem estar na escola particular. Não retire um direito sagrado do cidadão que é o de ter acesso a educação de forma universal.

Quantas novas escolas este governo já construiu no seu primeiro ano de gestão? Que índices educacionais já tiveram avanços positivos? Houve redução nos números de repetência e evasão? Que infraestrutura foi melhorada pelo governo nos últimos doze meses? O governo melhorou ou equipou o sistema de transporte escolar, principalmente no interior e na zona rural?

Faço estas perguntas porque o governo não pode ficar apenas reafirmando que está aniquilando escolas somente com o argumento de que tinham poucos alunos frequentando as mesmas. A grande questão é se o governo está tratando a educação de forma responsável, tornando o ambiente agradável, para que os alunos se sintam confortáveis em sala de aula. Uma escola caindo aos pedaços, sem giz, sem fardamento, sem merenda de qualidade, sem transporte escolar e com professores ganhando uma miséria não pode ser um espaço perfeito para aprendizado permanente.

Ricardo e o seu governo precisam discutir este tema com a sociedade. O governador não pode continuar achando que tudo pode e que a sua palavra é que vale, pois é palavra de REI. A sociedade merece respeito e um assunto como este não pode ser distanciado do cidadão.