Ricardo reavalia apoio da base na Assembleia

Nonato Guedes

Interlocutores do governador Ricardo Coutinho admitem que está sendo deflagrada no círculo do poder uma reavaliação em torno do alinhamento da base oficial na Assembleia Legislativa, no que diz respeito a votações de matérias encaminhadas pelo Executivo. O primeiro semestre deste ano não foi dos mais promissores para a administração socialista, apesar de vitórias pontuais conseguidas. Essas vitórias se dão sempre por margem apertada e à custa de intensa mobilização de bastidores. As derrotas enfrentadas ontem, no encerramento do primeiro período legislativo de 2012, acenderam a luz vermelha no círculo palaciano. O adiamento da votação do empréstimo que seria contraído para injetar recursos na Cagepa e a aprovação da MP do magistério com uma emenda do deputado Janduhy Carneiro (PPS) que não agradava ao Palácio acirraram as discussões sobre reformulação de estratégia.

O deputado Hervázio Bezerra (PSDB), líder do governo, não escondeu seu desapontamento com o desfecho, queixando-se de descumprimento de acordo de lideranças. “A oposição prevaleceu-se de ausências em nossa bancada para tratorar o governo literalmente”, desabafou. Para Hervázio, os deputados agiram por motivação exclusivamente política, sem qualquer apreciação de mérito técnica ou jurídica. A oposição reclama que não houve detalhamento prévio por parte do governo que possibilitasse um convencimento a respeito. A matéria tratando do empréstimo de R$ 150 milhões para a Cagepa deixou de tramitar porque o deputado Vituriano de Abreu (PSC) alegou carência de subsídios concretos para firmar posição. “Não houve tempo útil para uma avaliação mais profunda”, comentou o deputado Gervásio Filho, do PMDB. O empréstimo era considerado prioritário pelo governo porque contribuiria para resolver dívidas pendentes da estatal de abastecimento d´agua. Hervázio diz que o regimento interno foi rasgado, e, o que é pior, com o apoio de parlamentares que se identificam como integrantes da base situacionista.
As tentativas de negociação de última hora não surtiram efeito. Já a Medida Provisória prevendo adequação do salário do magistério ao piso nacional foi aprovada com emenda destinada a manter a progressão salarial da categoria, contrariando a diretriz original do texto governista. A MP com a emenda de Janduhy Carneiro foi aprovada por 31 votos a zero. O líder Hervázio preferiu abster-se de votar, quando sentiu o clima de derrota iminente. O presidente da Assembleia, Ricardo Marcelo (PSDB) foi enfático ao deixar claro que o trancamento da pauta não era mais possível. “Acordo existe para ser cumprido, e o acordo foi no sentido de destravar a pauta”, justificou o presidente do Legislativo. Ricardo Marcelo fez questão de votar favoravelmente à matéria com a emenda beneficiando o magistério. Ele já havia demonstrado insatisfação com o tratamento dispensado pelo Executivo à Assembleia em reivindicações de interesse do Poder, ressaltando que os demais poderes (Tribunal de Justiça e Tribunal de Contas) são bem aquinhoados, enquanto a AL não consegue, sequer, apoio, para viabilizar o projeto de transferência da sede para o Altiplano Cabo Branco, uma das metas da atual gestão. “A situação é realmente insustentável, e cabe ao governo respeitar melhor o Legislativo para não acumular outras derrotas”, afirma o deputado Frei Anastácio Ribeiro, do Partido dos Trabalhadores, alegando que “não há submissão ao Executivo como ele deseja”.