Gilvan Freire
A natureza dos homens é de difícil compreensão. Desde a presença dos primeiros seres na Terra e da formação dos primeiros agrupamentos humanos, provavelmente na África de 2,5 milhões a 3,5 milhões de anos atrás, que as pessoas procuram se entender minimamente. O conhecimento da espécie é necessário, especialmente para estabelecer as relações de convivência pacifica (a coexistência). São significativos os avanços da psicologia, sociologia e antropologia, ciências mais detidas nessas análises. Como base nesses conhecimentos e na capacidade de observar e meditar, os filósofos antigos chegaram a fantásticas conclusões acerca do que representam na Terra os homens e quem, efetivamente, eles são e até onde podem chegar. Conhecer bem os homens é observar seus caminhos e atitudes ao largo da História. E também estudar seu cérebro, hoje a cargo da neurociência.
Mas, com todo o progresso dos estudos da humanidade, pouco se sabe sobre o homem e o potencial ainda inexplorado de seu cérebro. Daí porque, no labirinto da personalidade humana, há sempre e sempre curiosidades, revelações e surpresas, a ponto de perguntarmos em certos momentos: quem é esta pessoa que eu penso conhecer mas não conheço e nem compreendo? Mesmo em se tratando de gente próxima ou de gente exposta no cenário público. É inquietante tentar decifrar o mistério que há dentro de cada individuo, vez que nós não conhecemos totalmente nem a nós mesmos. É como se fossemos conhecidos e estranhos ao mesmo tempo.
Ricardo Coutinho é tipo para estudos. Não porque não se conheçam as características predominantes de sua personalidade, muitas já reveladas nesses últimos tempos da aparição pública. Já se sabe que ele não chora, não se comove, não se emociona e nada sente com relação aos outros, estejam próximos ou distantes. É ele, guardadas as proporções e as especificidades, um homofóbico. Os dicionários dizem que homofobia é a aversão aos homossexuais. No caso de RC é só aversão aos homens mesmo enquanto indivíduos viventes. Às mulheres, nem tanto, porque ele tem gostado (ou só convivido) com muitas, embora por pouco tempo. Não é gregário nem nisso.
Mas é por causa da dificuldade de se compreender a natureza plena de RC que seu período de governo é ainda mais tumultuado do que ele e confunde a opinião pública do Estado. Em certos instantes, muitos quiseram compreender que ele seria transformista, inovador, e que suas palavras e atitudes seriam retilíneas, firmes e imutáveis. O que se vê no governo, contudo, são as derivações mais grosseiras e chocantes de estilo, de prática, de atitude e de opiniões. O homem virou mudancista mas apenas para parecer igual aos outros políticos tradicionais, vez que isso ele parecia não ser antes. Era uma promessa, hoje é um fiasco, um fantasma do novo líder anunciado pelas trombetas em 2010.
Ricardo se elegeu pelas mãos de Cássio, tratou-o com desprestígio, desmontou os principais programas de seu governo, quis enfraquecê-lo politicamente mas, diante do fracasso, o mima agora com palavras intencionalmente secas mas interesseiras. Tem horas em que é frio e fraco, mas muito objetivo na busca da sobrevivência ameaçada. É um felino. Todo mundo sabe que RC sempre detestou os ricos e poderosos, não frequentava ambientes sociais e festas granfinas. No governo, porém, aliou-se aos poderosos da economia, esbanja luxo e luxúria, faz do ambiente de moradia oficial um castelo de mordomias e maluquices e perdeu o pudor até com os aviões do governo, destinados ao trabalho somente.
À feijoada de Abelardinho, um evento de formadores da opinião pública da Paraíba, RC somente tinha ido próximo à sua eleição. Precisava. Depois não foi mais. Semana passada foi. Tá precisando de novo. Por que essa variação toda de atitudes quando precisa e quando não precisa? O mesmo acontece na administração. Fecha o programa do leite, desmancha a FAC, tranca 230 escolas, inflaciona a folha de pessoal, persegue servidores leais ao Estado, bloqueia planos salariais consolidados, retira recursos dos outros poderes, nega segurança à população que se abastece em bancos e acaba de lacrar à noite 33 delegacias na região metropolitana, deixando em pânico a população, numa atitude tresloucada. Afinal, quem é este cara? O que ele será capaz de fazer ainda? Será que ele se vinga da população porque sabe que não conseguiu ser compreendido e amado como governante tão espalhafatoso e desastrado? Quem pode explicar, ou publicamente defender?