RICARDO COUTINHO ENTRA NO PIOR CONFRONTO - POR GILVAN FREIRE

ricardo-coutinho1_1.jpg.554x318_q85_crop

Nestes últimos três anos a Paraíba experimentou uma fase incomum de sua vida política, nada igual ao que viveu em pelo menos 50 anos para trás, mesmo contando nesse período anterior algumas experiências dos tempos dos governadores biônicos, os filhotes da ditadura.

Naqueles tempos, a única surpresa mesmo foi Burity, que não tinha tradição política e nem pertencia a família de políticos, tendo sido resgatado da universidade, nos meios acadêmicos. A idéia da ditadura era pinçar um quadro diferenciado, sem vícios, e ideologicamente confiável ao regime. A presunção era de que um quadro desses não ocasionasse crises nem ciúmes das classes que sustentavam o poder militar, e ainda pudesse realizar algumas transformações na administração a fim de tranqüilizar o povo e sossegar o governo central. Era um ensaio de laboratório para evitar rachas entre os comandos políticos locais leais aos generais, especialmente as disputas travadas entre os seguidores de Ernani Sátiro e João Agripino, os líderes civis do movimento golpista de 1964. Ernani, político militante de muitos anos, foi o primeiro governador não eleito do ciclo ditatorial.

 GUARDADAS AS PROPORÇÕES DE TEMPO E LUGAR, Ricardo Coutinho foi a grande surpresa do ciclo da redemocratização, após duras batalhas travadas entre os políticos de carreira e tradição no Estado. Pareceu um político de ocasião, embora já tivesse exercido antes alguns mandatos, de vereador a prefeito da capital, passando pela Assembleia como deputado.

 

Mas o que se viu com RC, de forma inusitada e sem precedentes, foi um governante esquisito, diferindo de todos, autoritário, sem modos e personalista, incapaz de produzir consensos mínimos sobre qualquer questão governamental, ainda que fosse a que mais precisasse do esforço de mais gente para ser equacionada. Ricardo nunca achou que precisasse de ninguém para governar o Estado. Não apenas isso: RC entendeu que era necessário gerar grandes conflitos e graves crises de toda ordem somente para fazer prova de sua capacidade desafiadora e para realçar sua personalidade controladora. Não poderia mesmo dar certo. Ninguém conseguirá vencer sozinho tantas adversidades reais somadas àquelas artificialmente construídas com o espírito provocador de caos.

 

AGORA, DIANTE DOS FANTASMAS QUE CONSTRUIU PARA ASSOMBRAR OS OUTROS, RC ainda não parece assustado – tanto que acaba de demitir milhares de pessoas em massa, através de um ato só de monumental e fatal ataque a seus próprios eleitores da ultima eleição – mas não pode olvidar as pesquisas de opinião, que deixam seu governo e ele próprio em situação dramática de sobrevivência política, notadamente quando a população tenta avaliar o conceito pessoal de que desfruta o governante perante seu povo. Em qualquer circunstância, a essas alturas, o conceito inferior a 25% das intenções de voto para a reeleição coloca Ricardo Coutinho numa posição vexatória, praticamente indicado ao cadafalso quando a propaganda governamental alcança mais de 70 milhões de gastos objetivando limpar a sua imagem embaçada.

 

Apesar de tudo, convencido de que seu signo é de briga, e não de paz, RC se prepara para travar os seus últimos confrontos no governo: digladiar-se com os setores políticos organizados; com a maioria absoluta da população (mais de 75%); com a Assembleia, onde estão muitos de seus ex-aliados (que vão lhe impor um impeachment pela desaprovação das contas); com as pesquisas eleitorais; e com sua própria natureza. Por acaso, é esta o seu maior inimigo, o único que ele poderia vencer sozinho antes de ser vencido por ele. Mas isso seria coisa dos normais, não dos diferentes.