Em tempos de internet e a velocidade de suas informações, os políticos começam a se perderem ao medir seu prestigio, iludidos pela mídia tradicional que ora vende o que não dispõe mais na prateleira: credibilidade. Ricardo Coutinho – endeusado desde 2004 pelos plantonistas da comunicação oportuna – acreditou que era tão insuperável, quanto o notabilizaram seus assessores de comunicações e marqueteiros. Elegeram-no como guia de um povo, que por múltiplas razões o consagraram em triunfos extraordinárias. Os métodos? Pouco importa. Em guerras, à ética é pisoteada pelo cego propósito de vitória.
O comício ontem na cidade de Monteiro – evento marcado por um fiasco sem precedentes – deve ser considerado como o primeiro, dos seus piores momentos da vida pública, de outros que ainda poderão advir, resultado de um conjunto e erros e abusos praticados pelo próprio Ricardo Coutinho. Que imagem levou Fernand Haddad, Gleisi Hoffmann; o filho de Eduardo Campos e outros parlamentares petistas do nordeste, daquele que se propunha assumir uma liderança nacional na campanha Lula Livre, e no combate direto ao presidente Jair Bolsonaro?
Inaceitável foi à maneira como enganaram os pouquíssimos presentes. Os locutores anunciavam: “daqui a pouco, presença do governador e sua comitiva”, subtendendo-se que seria João Azevedo. Quando Ricardo Coutinho chegou, os locutores continuaram: “acaba de chegar o governador Ricardo Coutinho” (?). Senador Veneziano Vital do Rego estava num restaurante na entrada da cidade, certamente esperado João Azevedo. Alguém deve ter ligado para ele. Apressou seu almoço e partiu. Do palanque os locutores anunciavam seu nome, mas, lá não apareceu. Da cidade de Monteiro talvez tivesse 100 pessoas. O resto veio nas caravanas de Ônibus.
Arrogância e prepotência são vícios adquiridos na longevidade do poder. O modo como o ex-governador Ricardo Coutinho passou a tratar seu sucessor, foi algo tão abominável pela população, que chegou a comover até a insensível classe política composta pelos que cercavam e se abrigavam na mesma legenda do “socialista”. João Azevedo recebeu apenas as chaves da granja Santana. Na visão de Ricardo e seus asseclas, já estava de bom tamanho. Tudo continuaria como d’antes. Que loucura!
A deserção de Monteiro foi mais uma vitoria de João Azevedo, que não entrou na briga e jamais procurou este tipo de enfrentamento. Seguiu Ricardo Coutinho desde os tempos de prefeito da Capital, despido de qualquer ambição política. Foi tão sincero e correto, que terminou sendo escolhido como candidato de “confiança” do ex-governador. Será que cofundiram sinceridade com ingenuidade? Talvez equivocadamente sim, já que a figura de João é desprovida de vaidade.
Alguns saudosistas da era “Ricardista” querem atribuir o fracasso de Monteiro a falta do “poder de caneta”. Neste caso, Ricardo nunca foi um líder. Antes da “caneta” ele sozinho – como vereador – juntava mais gente. Por que não se observa o evento sob outro prisma? Operação Calvário, por exemplo. No palanque, exceção feita apenas ao filho de Eduardo Campos, a constelação era de estrelas cadentes: todos respondem a processos por corrupção, formação de quadrilha… O povo está mudando seus conceitos sobre lideranças, paradoxalmente “mitificadas” por eles mesmos. Os tempos são outros, que o diga Ricardo Coutinho hoje, após o inesquecível “momento de Monteiro”.
Fonte: Júnior Gurgel
Créditos: Júnior Gurgel