Ricardo articula para ter Zé como adversário

Professor Jônatas Frazão

fotoDepois que recebeu o aval das direções Nacional e Estadual do PMDB para a sua intenção de ser candidato a Governador da Paraíba no ano que vem pelo PMDB, o ex-prefeito de Campina Grande Veneziano Vital do Rêgo passou a sofrer na pele as conseqüências do fato. Isso ficou muito claro pelos acontecimentos do final do ano passado prá cá, que, inclusive, ainda persistem, mas de forma diferente, agora.

Ao juntar-se a Romero em Campina logo no primeiro dia da administração e orquestrar uma ação bem articulada para a desconstrução da imagem de Veneziano em Campina e na Paraíba, Ricardo acabou por dar o mote que Veneziano precisava, adotando-o como seu adversário em 2014, mesmo faltando quase dois anos para o pleito.

Se por um lado Veneziano foi agraciado com a sorte de ter recebido de Ricardo Coutinho o contraponto que precisava, por outro, sofreu com as batalhas impostas pelo exército ricardista. E ainda tem sofrido.

Passados esses cerca de cinco meses, de novembro prá cá, digo que Veneziano escapou da primeira batalha da guerra, que consistiu em invadir a mídia paraibana – em especial a de Campina Grande – com “denúncias” de lixo espalhado nas ruas, salários atrasados e… e mais o que? Esses foram os dois motes escolhidos para a guerra, na época.

Não quero aqui dizer que tudo o que foi feito contra Veneziano foi arquitetado. Pode até ter sido, mas quero partir de outro ponto: se pensarmos bem, é muito fácil criar cenário de lixo espalhado nas ruas para deslustrar a imagem de quem fez uma gestão, até que me provem o contrário, digna de elogios. Teve suas falhas, é claro, mas os acertos ocorreram com mais frequência. Então, no caso do lixo, não podemos dizer que houve o problema, nem que não houve. Fica a dúvida.

E a questão dos salários atrasados? Confesso que fiquei com uma pontinha de dúvida se a história realmente procedeu nas dimensões que tentaram mostrar. Vi Veneziano numa entrevista dizer que houve atrasos em alguns pagamentos, citando décimo terceiro de algumas categorias e o mês de dezembro de outras. Mas vi também ele dizendo que nem de longe o fato é o que a oposição tentava colocar na mídia.

O que me deixou mais ainda de orelha em pé foi o fato de Veneziano ter enviado para jornalistas, pela sua assessoria, os extratos bancários das contas da Prefeitura de Campina Grande, afirmando ter deixado dinheiro em caixa para o pagamento dos “remanescentes”, como sua assessoria pontuou. E que só não fez os pagamentos porque o dinheiro entrou nas contas da Prefeitura no apagar das luzes do último dia útil da gestão: 28 de dezembro, quando os bancos já estavam fechados e não havia possibilidade de movimentação bancária.

Eu, mesmo sem ser jornalista, recebi os extratos em meu e-mail, enviados por um amigo. Eram dois do banco do Brasil e um do Bradesco. Quanto a Romero, este também prometeu divulgar os extratos, mas não divulgou. Limitou-se a mostrá-los numa entrevista coletiva e depois guardá-lo em meio a seus papéis, sem dar uma cópia a ninguém. Isso me deixou na maior dúvida.

A verdade é que Veneziano passou por tudo isso e está aí, vivinho da silva. Hoje, ninguém mais fala dos “problemas” de sua gestão e as atenções agora estão voltadas para o que Romero está fazendo – ou o que não está fazendo, pra dizer melhor.

Então, o exército de Ricardo Coutinho preparou uma nova investida esta semana. A ordem, agora, depois de ver que Veneziano não foi liquidado com a batalha do lixo e dos salários, é tirá-lo da disputa. E colocar quem no lugar? José Targino Maranhão.

E a articulação já começou, justamente pela mesma mídia que, há alguns meses, entabulava o lixo e o atraso nos pagamentos. Agora, a estratégia começa por uma suposta pesquisa – que até hoje ninguém viu, é verdade – que traria uma insatisfação por parte dos prefeitos peemedebistas em relação a uma eventual candidatura de Veneziano ao Governo do Estado em 2014.

E dessa vez a estratégia foi bem montada. Nada de ser startada por Fabiano Gomes, Luis Torres ou outro general ricardista da mídia. Ficava muito na cara. Desta vez a estratégia foi posta em prática por Marcos Marinho em Campina Grande, Walter Santos em João Pessoa e Célio Alves em cadeia de emissoras de rádio, pela Tabajara, a emissora governamental.

A estratégia consiste em desidratar a musculatura política de Veneziano para o ano que vem e estimular José Maranhão a ser o candidato, tomar gosto pela coisa novamente. Tanto que esses três jornalistas colocaram informações, através de seus canais de mídia, tentando criar um clima de insatisfação com o nome de Veneziano e de satisfação com o de Maranhão. Estratégia inteligente essa, não?

Com Veneziano fora do páreo e Maranhão tomando gosto pela coisa novamente, Ricardo ficaria mais à vontade, pois teria o mesmo adversário de 2010. Conhece suas fraquezas e sabe que, se em 2010 a disputa já agregava o espírito do “velho” de JM contra o “novo” de RC, agora, quatro anos depois, o velho estará muito mais velho.

Olha que de velho eu entendo, pois sou um deles e sei o quanto há discriminação. E não uso o termo “velho” no sentido pejorativo, mas se associando a ultrapassado, que deve dar lugar aos que tem idéias mais contemporâneas, coisas do tipo. A reedição da disputa de 2014, digo com franqueza, só ampliaria a vantagem do Mago sobre Zé, significando, mais uma vez, um erro grosseiro e grotesco de estratégia política do PMDB. Seria grande e vergonhoso massacre. E é isso o que Ricardo quer.

A verdade é que, em relação a Ricardo Coutinho, não podemos negar duas coisas: a primeira é que ele é inteligente e se cerca de pessoas inteligentes também. A segunda é de que o Mago é adepto da cartilha: “os fins justificam os meios”. Não importa como, passando por cima de quem, usando estratégias nada éticas. O que vale é o resultado que possa ser obtido.