Ricardo: armas contra insatisfações localizadas

João Manoel de Carvalho

Para quem se propôs a ousada e delicada tarefa de renovar os costumes políticos da Paraíba, numa fase crítica em que assumiu o Poder, evidentemente teria de enfrentar grandes dificuldades e vencer obstáculos enormes para levar a cabo tão relevante resposta.

O Sr. Ricardo Coutinho parece ser um dos pucos e, talvez, o único político a ocupar o Poder no Estado sem ter emigrado de famílias tradicionais e ter pertencido a grupos hegemônicos da elite econômica e política que domina a vida pública paraibana, nos últimos cinquenta anos.

Para concretizar seu projeto de dirigir os destinos políticos e administrativos do Estado, foi compelido a celebrar uma aliança a um dos grupos políticos mais tradicionais, sem o qual jamais teria chegado à suprema magistratura estadual.

Ao chegar ao Governo, encontrou um Estado com a economia estagnada e sua administração destroçada e teve de redobrar esforços para reequilibrar o orçamento e viabilizar seus projetos de gestão pública.

As suas primeiras medidas provocaram dura reação por parte dos setores corporativos incrustados na área sindical, particularmente, entre as categorias do fisco estadual, médicos e funcionários públicos de um modo geral.

As insatisfações desses setores localizados têm, no entanto, o poder de ferir a sensibilidade de parte da classe média e não se pode subestimar o seu poder de irradiação na opinião pública do Estado, pois são, em última análise setores corporativos poderosos com potencial suficiente de persuasão sobre o Poder Público.

Certo ou errado, o Governo do Sr. Ricardo Coutinho decidiu enfrentar essas corporações e não permitir que a administração estadual permanecesse submissa ou refém desses grupos.

Os interesses contrariados em consequência da reação governamental logo se disseminaram e resultou na formação de crostas e de profundos resíduos de ressentimentos e de uma oposição raivosa, radical e sistemática a qualquer iniciativa da administração estadual.

É lícito considerar que esses ressentimentos são mais visíveis em João Pessoa e nessas classes determinadas, mas a maior tarefa do Governo do Sr. Ricardo Coutinho, a partir desse quadro crítico, é enfrentá-lo com estratégias adequadas para evitar o pior dos cenários, que seria a generalização incontida e irrefreável dessas insatisfações.

Uma análise sóbria e isenta dessas circunstâncias terá de reconhecer que o governador tem procurado estruturar obras de grande interesse público pelo interior como construção de rodovias, estradas vicinais, hospitais de grande e médio porte. Com isso tem conseguido obter densa aprovação de sua administração perante a opinião pública interiorana.

A melhor resposta que o Governo pode dar à opinião pública para conter esses ímpetos de irresignação localizados é justamente a iniciativa de realizar grandes obras capazes de convencer os paraibanos de que o Governo estaria promovendo, efetivamente, o interesse público e pouco cuidando de querelas partidárias ou pessoais.