Ricardo, a campanha e o porto de águas profundas

Nilvan Ferreira

Confesso que não estou entendendo mais nada. Os políticos do meu estado ou são mesmo engraçados, ou têm memória curta, ou nós é que somos os verdadeiros “patetas”. E não existe outra linguagem para classificar o que podemos chamar de “brincadeira”por parte dos nossos agentes públicos. Um dia dizem uma coisa, noutro desdizem o que afirmaram no dia anterior e assim vai.

Senão vejamos: é ou não pura verdade que na campanha eleitoral de 2010, o então candidato Ricardo Coutinho, bradou para todos os cantos deste estado que nós não precisávamos nos preocupar com a idéia de construção de um Porto de Águas Profundas? Acredito que ninguém duvida, uma vez que os arquivos da campanha eleitoral estão a disposição na internet para serem relembrados.

A polêmica em torno do Porto de Águas Profunda foi tão intensa que o candidato que defendeu a proposta em seu programa de governo, no caso, José Maranhão, do PMDB, sempre que tocava neste assunto era diametralmente rebatido pelo candidato do PSB, Ricardo Coutinho. E a tese dele, Ricardo, era simples e fácil de entender, por mais que hoje ele próprio defenda uma coisa completamente diferente. Segundo Ricardo, a Paraíba já tinha um porto, o de Cabedelo, que precisava ser reestruturado, reformado, ampliado, equipado.

A tese de Ricardo ia mais longe. Defendia que para negócios portuários de maior envergadura, envolvendo negócios paraibanos, poderíamos continuar usando o Porto de SUAPE, localizado no vizinho estado de Pernambuco. Foi isto que ele propagou no seu guia eleitoral e nos debates públicos onde enfrentou o seu principal rival, José Maranhão, na época, registre-se mais uma vez, assumido defensor da idéia de que o nosso estado deveria ter sim um novo porto, o de águas profundas, a ser construído através de uma Parceria Público Privada, nas imediações de cidade de Lucena, litoral norte do estado.

Mas, de forma impressionante, o que antes não era viável, segundo Ricardo, hoje, ao que parece, conseguiu convencer o governador que a tese é outra. Que a realidade é bem diferente e que a Paraíba tem a necessidade de ter em seu território um Porto de Águas Profundas. E é o próprio governador e seu governo que vem assumindo o discurso em defesa de um novo porto na Paraíba.

Agora, Ricardo, o governador, bem que poderia pedir desculpas a Maranhão. Seria justo, justíssimo. Maranhão, na campanha, foi taxado por Ricardo de fazer promessas equivocadas ao povo da Paraíba e o Porto de Águas Profundas era uma delas. Maranhão foi taxado de tudo o que não presta porque levantou a tese do porto. Foi chamado de político ultrapassado, velho, que só prometia e não fazia, além de homem público que estava na hora e no momento de ser substituído pelo “novo”, pelo inovador, pelo revolucionário.

Hoje, o Porto de Águas Profundas é quase uma unanimidade. É peça de debate dos setores preocupados com o crescimento do nosso estado. O porto é tido como algo fundamental para um estado que precisa crescer e se firmar como ponto estratégico na economia regional. A proposta é aprofundada e defendida até pelos que antes condenavam seus defensores.

Maranhão sempre esteve certo quando dizia que a Paraíba não poderia ser rebaixada à condição de capitania de Pernambuco; que não poderíamos depender do estado vizinho pra tudo e que tínhamos que elencar e lutar pelas obras estruturantes que tanto necessitamos. Por outro lado, Ricardo hoje reconhece que o porto é fundamental e agora corre para recuperar o tempo perdido. Foi convencido pela realidade econômica atual que temos potencial e que podemos ser donos do nosso próprio destino.