Rubens Nóbrega

Gutemberg Cardoso e Nilvan Ferreira, apresentadores do imperdível Polêmica Paraíba (Paraíba FM, de João Pessoa), botaram pra ver a banda passar, ontem, lançando uma oportuna campanha via twitter para sensibilizar o prefeito Luciano Agra a revogar o decreto que cria incentivos especiais à indústria da multa na Capital.

Mas o prefeito, lógico, não está disposto a atender aos apelos e muito menos se incomoda diante da revolta de cidadãos que reagiram irritadamente, revoltadamente, à medida que permite ao amarelinho engordar o contracheque multando e praticando outros atos punitivos contra motoristas pretensamente infratores.

Muitos condenam o decreto do prefeito porque não há a menor garantia – pelo contrário – de que apenas infratores de verdade serão punidos, como devem ser punidos, porque ninguém está aqui pra defender os irresponsáveis que dirigem feito loucos e não respeitam a sinalização nem as leis do trânsito.

De outro lado, contudo, é bastante razoável imaginar que são perfeitamente possíveis autuações equivocadas e em alguns casos dolosamente criadas, só para o agente multador interar sua cota de multas gratificáveis.

Mesmo assim, Luciano Agra se mantém inflexível, indiferente às críticas e ainda graceja, fazendo pouco de quem está contra. Na cabeça do prefeito, muita gente gosta de transgredir e, mais ainda, de não ser penalizada pela transgressão.

Na cabeça do prefeito, certamente também é impossível que a reação ao decreto parta de gente de bem, honesta, bem intencionada, que gostaria de viver numa cidade onde o agente de trânsito deveria ser bem remunerado por outras atividades e missões, além das multas.

Gostaríamos de ver o amarelinho mostrando capacidade e competência também no fiscalizar, orientar, advertir e prevenir motoristas. Adoraríamos ver o amarelinho ajudando o trânsito a fluir sem congestionamentos, a desobstruir ruas interrompidas por colisões leves, a evitar que pedestres sejam atropelados na travessia da faixa…

Há tanta coisa boa para um amarelinho fazer em prol das pessoas que lhe pagam o salário pouco, tanto quanto pagam o salário muito do prefeito, mas o nosso prefeito, lamentavelmente, nada enxerga além da própria soberba, da própria infalibilidade. Jamais vai aceitar o que lhe sugerem diferente do que pensa ou do que pensa que sabe.

A sorte, para a nossa sorte, é saber que do jeito que vai ninguém deve se admirar se as urnas de 2012 terminarem por revogar não somente o infeliz decreto, mas a própria chance de Luciano Agra ou qualquer outro candidato governista continuar mandando na Prefeitura de João Pessoa.
O Professor comenta

Evidente que ele não deixaria passar essa em branco.

Refiro-me ao Professor Menezes, que faz tudo para não tirar o carro da garagem, mas não consegue porque não consegue andar de ônibus em João Pessoa.

Não consegue porque invariavelmente irrita-se com a qualidade do transporte, do serviço e do preço da passagem.

Por essa e outras, esperei ontem que ele me mandasse uma palinha sobre o decreto incentivador das multas e ele não me falhou. Vejam a seguir.

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Danou-se, caro amigo. Já tínhamos o roubo à mão armada, agora temos o roubo à mão legal. Esta não é outra a impressão que passamos a ter com essa medida da Prefeitura da Capital, instituindo uma pretensa produtividade dos agentes de trânsito com base no crescimento das multas que estes apliquem.

Como bem disse você, em seu artigo de hoje, não se vê um só “amarelinho” executando tarefas que imaginamos pertinentes a esse tipo de servidor, tais como orientando o trânsito em confluências de ruas próximas a instituições que geram grandes afluências de trânsito em determinadas horas, como colégios e templos de qualquer denominação.

Também não vemos agentes de trânsito coibindo a circulação de bicicletas e veículos assemelhados nos passeios públicos, notadamente na praia de Tambaú, como não vemos “amarelinhos” ajudando ou orientando motoristas em interrupções momentâneas do trânsito, como acidentes envolvendo veículos diversos, com ou sem vítimas. Nestes casos, o procedimento se explica facilmente e, agora, ainda mais, pois que a bicicleta e assemelhados e em acidentes de veículos não há condições de aplicação de multa.

Infelizmente, medidas dessa natureza conduzem a abusos os mais diversos, valendo lembrar famigerado procedimento similar, implementado por governador do Rio de Janeiro, que levou a um aumento considerável de enfrentamentos, alguns até com morte, entre motoristas e agentes de trânsito.

Como à primeira vista não há possibilidades de mortes em confronto armado, vamos ter um festival de multas, muitas das quais aplicadas nem sempre com muita criatividade e certamente com pouca seriedade.

E tudo isso gestado, meu caro, no cérebro de alguém que em determinado momento da vida se disse formador de elites, como a sociedade imagina ser o papel das Universidades.

Um abraço do Professor Menezes.