Polêmicas

Retrospectiva: Fenômenos Televisivos e os Descartáveis...

Bruno Filho

Como em todos os anos, a televisão surge com alguns programas que agradam em cheio os telespectadores e tornam-se fenômenos de mídia atraindo empresas que anunciam seus produtos batendo recordes nas pesquisas, mesmo que não sejam o supra-sumo da cultura.

Refiro-me especificamente ao semanário CQC, que vai ao ar todas as segundas-feiras a noite e que agrada grande parte do público, o que já não é novidade, mas continua sendo fenômeno. Anunciantes exclusivos, o excessivo número de inserções comerciais protagonizadas pelos próprios apresentadores continuaram.

É uma idéia dos argentinos que entraram com força neste mercado. Programas ao vivo, de entrevistas, além daqueles conhecidos como “game-show”. Não sei até quando sobreviverão, mas reconheço que está dando certo. Não para mim especificamente, não gosto do modêlo “fazer o próximo de chacota” mesmo que mereça.

O principal fenômeno , em minha opinião, fica por conta da novela “Avenida Brasil”, a antiga novela das 8 que começa mais tarde já há algum tempo. Não é estranho uma novela da Globo fazer sucesso, é corriqueiro até pela tradição da emissora, porém nesse caso superou o esperado.

Muito bem interpretados por Murilo Benício e Adriana Esteves, os personagens principais Tufão e Carminha tornaram-se coqueluche na vida das pessoas, serviram de pseudônimo para muita gente, mesmo que os exemplos não tenham sido de todo aceitáveis. Muita coisa mostrada na série aviltou um pouco a sociedade.

No mais, poucas novidades boas, alguns jornais melhoraram suas produções, surgiram novos programas em horários alternativos e os tradicionais continuaram fazendo sucesso, casos de Jô Soares e seu “talk-show” e Silvio Santos com seu interminável programa de auditório. Marcelo Carvalho teve algum sucesso com o “Mega-Senha”.

Do lado negativo muito mais a destacar. Vou até perdoar os canais de televisão aberta que fazem o maior sacrifício para acertar, porém não posso deixar de citar o horripilante “Mulheres Ricas”, que não apresentou nada, absolutamente nada que se aproveitasse.

Conhecer a vida de mulheres consumidoras, que em alguns momentos desrespeitaram a sociedade combalida e sofredora. Imagens de taças de champagne sendo consumidas como água logo pela manhã, viagens malucas de helicópetro, e excursões de ultima hora para jantar e fazer compras em outros países.

Mostrou-se a Av.Vieira Souto no Rio de Janeiro, a Oscar Freire de São Paulo, como se somente nestes locais houvesse vida inteligente. Desculpe, televisão é muito maior. Este amontoado de gente futil realmente decepcionou no sentido cultural. Como pantomima até que agradou os incautos.

Todavia,nada se compara as caríssimas e esvaziadas TVs à cabo. São 150 canais a um preço caríssimo, que ao juntarmos não conseguiremos quase nada. Para quem gosta de esporte até que vale a pena, futebol é o que não falta de todos os lugares do mundo e a todo momento.

Paramos por aí. São 20 canais de filmes que reprisam dioturnamente, tornando impossível assistir um inédito. Tem um tal de “Ultimato Bourne” que deve ter sido reapresentado 300 vezes. Nos documentários sempre os mesmos assuntos,profecias, caça á fantamas e outros quetais. Desastres de avião assisti aos mesmos em 100 oportunidades.

Surgem entre os citados, 30 canais que vendem alguma coisa por telefone. Eu não conheço quem compre, mas estão no ar. Existe um de venda de jóias que permanece ao vivo 24 horas por dia, apresentando dedos e mãos femininas com pulseiras, relógios, anéis, enfim o que for pertinente.

Existe um outro que coloca um rapaz ou as vezes uma moça ao lado de uma serie de letras embaralhadas para que alguem adivinhe qual palavra está escondida ali. Eles demoram 3 horas para decifrar, aproveitando da curiosidade do povo, e cobrando ligações interurbanas caríssimas que lhe obrigam a fazer um cadastro para entrar na fila.

Enfim, não dá para citar tudo. Existe uma pobreza muito grande nesse mercado que esperava em 2010 ter 100 milhões de assinantes e que não chega a 30 milhões em todo o Brasil. Por isso que fico com a nossa velha TV aberta, aquela que realmente preenche e atende os anseios do povo.

Espero que possamos melhorar apresentando mais séries históricas, programas culturais de nossa terra, continuar o capricho nos telejornais como é de praxe, e menos argentinos comandando. Nada contra os portenhos, mas copiar esse tipo de espetaculo é o mesmo que andar para trás.

Bruno Filho, jornalista e radialista, exigente porque é viciado em TV. Não vive sem ela e quer qualidade.

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