Rubens Nóbrega

Excelentíssimo Senhor Governador do Estado, Doutor Ricardo Vieira Coutinho.

Rubens José Barbosa da Nóbrega, brasileiro da Paraíba, bem casado, pai de três lindos filhos e avô de um neto mais lindo ainda, embora desqualificado e indexado pela ordem vigente, mesmo assim vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência expor e ao final – ou pelo meio – requerer o que segue.

Senhor Governador, deve ser do seu conhecimento que neste ano da graça de 2012 transcorre o centenário do ‘Eu’, de Augusto dos Anjos, mas não se tem notícia até aqui, no Estado em que nasceu o poeta maior, de alguma programação comemorativa à altura do mais importante livro de poesia escrito em língua portuguesa no Século XX.

Perdoe-me se pareço exagerado, Excelentíssimo, mas na última sexta-feira fui tomado pelo entusiasmo e simultânea preocupação daquele que deve ser o maior fã e um dos mais profundos conhecedores da obra de Augusto dos Anjos. Refiro-me ao jornalista Gonzaga Rodrigues.

Proseando sobre o assunto com o nosso amado e venerado Neguin, pude perceber a sua angústia em não vislumbrar, por enquanto, uma Paraíba mobilizada e motivada para manifestar solene ou popularmente, por ocasião de fato tão relevante, reconhecimento tão necessário quanto oportuno àquele a quem merecidamente um dia elegeu o Paraibano do Século.

Pois bem, Governador, presidente da Academia Paraibana de Letras, o nosso aclamado e idolatrado cronista vem fazendo o que pode pelo evento e o homenageado. Como exemplo, cito o esforço de Gonzaga em reorganizar o Memorial Augusto dos Anjos na sede da APL, com empenho e devoção de beato montando seu relicário.

Se é muito para uma Academia imortal pela própria natureza, porque não tem onde cair morta, literalmente, é muito pouco diante da dimensão do ‘Eu’ e do seu augusto autor, principalmente quando se trata de marcar mais uma chance – e que chance! – de reverenciarmos aquele que é, sem dúvida, a maior expressão literária da Paraíba.

Nessa linha de entendimento e argumento, não vejo como não recorrer ao poder público para suplicar iniciativa e patrocínio de um roteiro comemorativo que se outra serventia não tiver servirá pelo menos para mostrar que a Paraíba, por determinação do seu líder mais poderoso, sabe ser a mãe gentil que valoriza de fato e de direito a obra mais lida e melhor referenciada de todas as produzidas pelos filhos deste solo.

Além do quê, Excelso Comandante, vão dar muito ponto ao senhor se o senhor tomar esse pião na unha e não deixar passar em branco o centenário do ‘Eu’. Para tanto, permita-me sugerir que o senhor crie e encarregue comissão especial de organizar, promover e realizar aquele que pode ser o maior acontecimento cultural do ano e, seguramente, do seu governo.

Imagino que uma comissão assim deveria reunir dirigentes dos mais representativos órgãos estaduais ligados à cultura e às artes, dispostos a trabalhar em parceria e de forma paritária com seus congêneres de entidades igualmente importantes como a própria APL, universidades e organizações não estatais vinculados à área.

Imagino ainda que um grupo com esse perfi l e missão venha a ser formado por representantes da Secretaria Estadual de Cultura, Fundação Espaço Cultural, Fundação Casa de José Américo, Universidade Estadual da Paraíba, Universidades Federais da Paraíba e de Campina Grande e as nossas Academias de Letras e de Poesia.

Imagino, além disso, que a comissão do Centenário possa incluir entre irrecusáveis conferências, palestras, debates e exposições sobre Augusto e sua obra, quem sabe a publicação de uma nova fortuna crítica do ‘Eu’ e concursos literários em escolas de primeiro, segundo e terceiro graus.

Se não for pedir demais, Senhor Governador, que o senhor aproveite e ordene ao prefeito da Capital um trato, se não no Parque todo, pelo menos naquele canteiro em que plantaram a herma de Augusto na Lagoa. Lembrando que não basta apenas recuperar. Tem que cercar e proteger o local e seu tesouro permanentemente, contra os vândalos ignaros ou indiferentes mais sabidos.

Vamos lá, Excelência, convoque Gonzaga para discutir a proposta. Chame o secretário Chico César e tente convencê-lo a aderir ao projeto. Não podemos prescindir do auxílio luxuoso de auxiliar tão categorizado quanto ele, que além de tudo é também uma enormidade como poeta e criador.

Esqueça por um segundo as minhas insolências e malcriações e pense no tento que o senhor marcará junto aos culturais mais genuínos da Pequenina. Volte a ser pelo menos por um dia o velho Ricardo de guerra, que não perdia lançamento de livro, vernissage, recital, peça ou enterro de imortal.

Não faça nem desfaça por mim, Governador. Faça por Augusto dos Anjos, por Gonzaga Rodrigues e outros estudiosos que adoram o ‘Eu’ tanto quanto ele. Refiro-me a intelectuais do naipe e valor de uma Ângela Bezerra de Castro, de um Hildeberto Barbosa ou de um Ronaldo Cunha Lima, o mais festejado popularizador da obra merecedora de todas as homenagens nos cem anos de sua primeira edição.

Certo de sua atenção, confiante na sua sensibilidade e esperançoso na sua compreensão de que o homem pode ser maior do que as suas circunstâncias, peço e espero deferimento.

Em João Pessoa, Paraíba, 17 de março de 2012. (Assina o requerente ou, se preferir, suplicante)