Renúncia em “vaticanês”

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Nonato Guedes

A Rádio Vaticano e a Agência Zenit estão disponibilizando na internet respostas às perguntas mais freqüentes que são feitas a partir da renúncia do Papa Bento XVI. O portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil vem dando destaque ao ping-pong sobre o jargão eclesiástico, de difícil assimilação pelos não iniciados. Afirma-se, por exemplo, que a renúncia de um Papa está prevista e regulamentada pelo Código de Direito Canônico. “Renúncia” é o termo mais específico e técnico para descrever o que Joseph Ratzinger fez. “Demissão, não, porque pressupõe que alguém aceita a demissão para que tenha efeito e, no caso do Papa, isso não é necessário. Abdicação seria o termo mais adequado para um rei”, ensina o manual do Vaticano”.

Também os curiosos são informados de que o anel do Papa é destruído depois que ele deixa de ocupar o posto.  Diz o manual, nessa questão: “O anel do pescador é o sinal visível da autoridade do Papa, que ele recebe no momento solene no início do Pontificado e que usa no dedo anular direito. Esta insígnia papal é documentada desde o tempo de Clemente IV, por volta de 1265, e era utilizada como selo secreto para correspondências privadas. Durante a solene celebração do início do Pontificado, o cardeal decano do Sacro Colégio o coloca no anular da mão direita do novo Papa. Confeccionado em ouro, além de gravado o nome do Pontífice, o anel tem a imagem em relevo do Apóstolo Pedro pescando sobre uma barca. Com o fim do Pontificado, o Cardeal Camerlengo o retira do dedo e, na presença dos representantes do Colégio dos Cardeais quebra-o”.

Cardeal Camerlengo, atualmente o italiano Tarcisio Bertone, é quem preside a Câmara Apostólica e quem exerce a função de cuidar e administrar os bens e os direitos temporais da Santa Sé. No período da Sé Vacante, ele está entre aqueles que não entregam seu cargo e que continuam a exercer suas funções ordinárias, submetendo ao Colégio cardinalício aquilo que deveria ser apresentado ao Sumo Pontífice. É obrigado a vigiar com diligência, junto a três Cardeais Assistentes pro tempore, para que não seja de modo algum violada a confidencialidade do que ocorre na Capela Sistina, recebendo dos Cardeais eleitores, onde se realizam as operações de votações e dos espaços adjacentes, tanto antes quanto durante e depois de tais operações, os escritos de qualquer natureza, que tenham consigo, relativos ao êxito de cada escrutínio, a fim de que sejam incinerados com as cédulas.

Em tempo: uma norma adicional prevista para o conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI proíbe a utilização do Twitter, para evitar vazamentos que comprometam a confidencialidade do sufrágio. Conclave, aliás, vem do latim “cum clave” (fechado) e foi instituído apenas em 1271 pelo Papa Gregório X. Aobrigação do voto secreto somente surgiu a partir de 1621. A obrigação do segredo dos Cardeais durante e após o Conclave veio apenas com o papado de Pio X e incluía também a obrigatoriedade de conservação da documentação em arquivos. Em 1922, um Motu Próprio de Pio XI determinou a espera de 15 dias para iniciar o Conclave, a fim de aguardar a chegada dos cardeais de todo o mundo. Foi o Papa João Paulo II quem fixou que o Conclave deveria ser realizado na Capela Sistina. Também foi João Paulo II quem definiu a Casa Santa Marta como local de acolhida dos Cardeais durante o Conclave.

Lendo-se o manual, fica-se sabendo que Bento XVI escolheu as 20h do dia 28 de fevereiro para terminar o seu ministério como Papa. Porque é a hora em que ele normalmente termina o seu dia de trabalho. Após a renúncia, quer em Castel Gandolfo, quer no Mosteiro “Mater Ecclesia”, Bento XVI será acompanhado por dom Georg Gaenswein, seu secretário particular, que permanece no cargo de Prefeito da Casa Pontifícia. Não estão previstas aparições após 28 de fevereiro. Bento deve deixar o Vaticano de helicóptero às 17 horas do dia 28. Cerca de 15 minutos depois, chegará a Castel Gandolfo, onde deverá saudar os vizinhos e visitantes do balcão da fachada principal. Deverá ser a última aparição pública dele. Após deixar o cargo, Bento XVI deverá ser chamado de “Sua Santidade Bento XVI”, mas também será chamado”Papa Emérito” ou “Romano Pontífice Emérito”. Usará veste branca, sem mantelete. Não são mais previstos os sapatos vermelhos. “Parece que o Papa ficou muito satisfeito com os sapatos que lhe presentearam no México, em Leon”, disse, ontem, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi.