Ao final de várias reuniões nos últimos dois dias com o presidente interino Michel Temer e a cúpula do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) bateu o martelo nesta terça-feira: o início do julgamento final da presidente Dilma Rousseff será no dia 25 e não no dia 29, como anunciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e deve ser concluído até o dia 29, portanto ainda em agosto. Seguindo o cronograma aprovado no Senado, Renan disse que, se preciso for, as testemunhas de acusação e defesa, inclusive a presidente afastada Dilma Rousseff, serão ouvidos até no sábado e domingo, se necessário.
Ele negou que a conclusão do impeachment em agosto tenha feito parte de um acordo para a nomeação do novo ministro do Turismo, o deputado Marx Beltrão, a seu pedido, e viabilizar a viagem de Temer a reunião do G-20, na China, já como titular.
Nesta quinta-feira, após a votação do relatório do senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) na Comissão do Impeachment, Renan deve se reunir com líderes e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski para estabelecer regras de procedimento durante a sessão de julgamento no plenário: quantas questões de ordem serão respondidas, prazo de fala das cinco acusações de defesa e cinco de acusação e tempo que cada senador vai falar.
— Se for necessário vamos ouvir testemunhas, sexta, sábado e domingo, inclusive a própria presidente Dilma. Podemos suspender a sessão para dormir e comer, o que é razoável. Farei tudo, tudo que for possível, dentro das regras e respeitado o estado de direito, para que a votação termine até o final do mês. Estaremos dando uma resposta à sociedade, que já não aguenta mais que essa questão seja delongada — disse Renan.
Ele negou que tenha discutido, no almoço com Temer, sobre a indicação do novo ministro do Turismo.
— Isso não cabe a mim. Não faço indicação nenhuma — disse.
Também negou que Temer tenha lhe pedido para antecipar a votação do dia 29, anteriormente anunciada pela assessoria do Supremo, para o dia 25.
— Absolutamente! O presidente Temer não faria esse apelo a mim, jamais. Conversamos sobre conjuntura e pauta — disse Renan.
O presidente interino almoçou hoje com o presidente do Senado e com os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado. Como o site de O GLOBO revelou, Temer queria discutir com Renan o calendário de votação do impeachment.
Na noite desta segunda-feira, Temer participou de um jantar com senadores, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e pecuaristas na residência do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes. Segundo senadores que participaram do encontro, na ocasião, Temer disse que iria conversar com Renan e com Jucá sobre a possibilidade de mudança no calendário do impeachment.
Logo após o comunicado de Renan, o líder da Minoria, senador Lindberg Faria (PT-RJ) foi ao seu gabinete para dizer que não aceita a data do dia 25, e que pelo calendário, no mínimo dia 26. Na reunião de quinta-feira com os líderes, ele vai defender que a sessão seja marcada dia 29, sem data para acabar.
— Estávamos propensos a fazer um acordo de procedimentos para reduzir o número de testemunhas para 15. Mas se insistirem em aceitar essa interferência de Temer e forem impor esse atropelo, vamos usar nossas armas e ouvir nossas 40 testemunhas — disse Lindbergh Faria.
Logo depois, no plenário, Renan foi contestado novamente pelo líder da Minoria, que protestou contra o que chamou de “interferência indevida” do presidente interino para atropelar os prazos. O presidente do Senado reafirmou que o calendário previamente aprovado permitiria a sessão no dia 25 e disse que nem a presidente afastada Dilma Rousseff aguenta mais a demora na definição sobre seu afastamento do cargo.
Na tarde desta terça-feira, Renan Calheiros telefonou para o presidente do Supremo com objetivo de acertar o encontro amanhã. No telefonema, segundo interlocutores, o ministro explicou a Renan que o calendário divulgado por ele no último sábado – e revelado com exclusividade pelo GLOBO, contava todos os prazos.
O presidente da Corte ressaltou que sua única preocupação é com o cumprimento dos prazos e que não haja contestações da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff.
Fonte: O Globo