Remexendo a caldeirada

Rubens Nóbrega

Aguardei por toda a semana números do Governo do Estado sobre os gastos reais com a famosa caldeirada de 9 mil quilos de peixe e crustáceos de primeiríssima qualidade adquiridos pela Secretaria da Administração para consumo na Granja Santana.
Os dados me foram prometidos pela secretária Aracilba Rocha (Finanças), que na sexta-feira 13 compareceu ao Polêmica da Paraíba FM para desferir, entre outras estocadas nos adversários e críticos do governo, que a caldeirada foi maior e bem mais dispendiosa no Maranhão III.
Ela disse, por exemplo, que em cifras redondas o governo anterior teria investido R$ 3 milhões – contra R$ 2 milhões 600 mil do atual – para comer o que menos de 10% dos contribuintes que pagam essa e outras mordomias oficiais raramente têm condições de comprar, preparar e se fartar.
A secretária informou também que toda essa grana foi paga a um só fornecedor: o Mercadinho União, da Capital, enquanto o novo pregão para abastecer a Granja resultará em economia de 30% nos gastos futuros (a conferir) mediante fornecimento agora repartido entre sete ou oito empresas.
O problema dessas informações, no que se refere a dinheiro, é que elas não batem com o que está disponível no Sagres, o sistema de acompanhamento de gastos públicos que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) mantém na Internet ao alcance de qualquer simples curioso ou interessado direto.
Pelo Sagres, do começo ao final do Maranhão III (de fevereiro de 2009 a dezembro de 2010), foram gastos cerca de R$ 4,7 milhões com alimentos, adquiridos graças a um pregão realizado há três do qual também se utilizou o Ricardus I para comprar mais de R$ 1 milhão em gêneros do gênero. Mas, atenção: o que o Estado pagou ao Mercadinho União (mais de R$ 5,7 milhões em perecíveis, não perecíveis, ingredientes e itens diversos para cozinha e mesa) resultou de compras feitas por diversos órgãos, secretarias e autarquias estaduais.
No Sagres, a Granja sequer aparece entre os compradores. Presume-se, então, que tenha sido atendida através da Casa Civil do Governador. Se foi, e deve ter sido, porque é a CC a provedora da residência oficial do governante, aí aparece outro choque com o que disse a Doutora Aracilba.
Pela Casa Civil, o Maranhão II gastou uns R$ 146 mil nos comes e outros itens que pegou no Mercadinho União em um ano e oito meses de gestão, enquanto que o Ricardus I ‘comeu’ R$ 200 mil em um ano e três meses.
Diante do exposto, vê-se que essas considerações seriam absolutamente desnecessárias se, para além do cheiro da caldeirada, as tardias e incongruentes explicações oficiais não espalhassem no ar um forte odor de manipulação e de politização.
Eis uma polêmica que poderia ter sido facilmente esclarecida. Se, no Ricardus I, praticassem um pouco a transparência republicana que o monarca tanto prometeu antes de assumir o trono.

 

O cálculo de Vau

O amigo Vau também se deteve sobre os números da caldeirada real e meteu a sua colher no assunto, mas de outra forma. Adiante, a deliciosa colaboração.
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Levando-se em conta que uma pessoa normal come em média 250 gramas de carne, peixe ou crustáceo numa refeição, um quilo do que a gente vai pagar para a Corte se empanturrar dá pra 4 pessoas. Com 9 mil quilos, é coisa para 36 mil pessoas, ou seja, quase toda a população de Pombal.
Agora, se as nove toneladas de frutos do mar forem preparadas para o deleite apenas dos moradores da Granja Santana e seus convidados, considerando que o Ricardus I tem mais 2 anos e 5 meses de mandato, ou seja, 870 dias, e tem comida estocada para 36 mil, deduz-se que o consumo deve ser feito por 41,3 pessoas todo santo dia ao longo dos próximos 29 meses, que é pra não desperdiçar um grama sequer nem deixar sobras para o próximo inquilino da majestática dacha.
Por outro lado, sabendo que milhares e milhares de pessoas (inclusive crianças) passam fome diariamente na Paraíba, pensei cá com meus botões (parafraseando o Roberto): como será estocada tal quantidade de alimentos? Terá a Casa Real pessoal qualificado, equipamentos e espaço para tanto?
Pois bem, pesquisando informações na mãe dos desinformados, a Internet, mais precisamente no sítio da IFetSC, veja o que pesquei:
– para estocar 10 toneladas de pescado, necessário construir uma câmara fria especialmente dimensionada para tal fim, que permita refrigerar, congelar e conservar produtos perecíveis, além de toda uma infraestrutura (casa de máquinas, subestação, serviços de administração, oficinas de manutenção, vestiários, sanitários etc.) necessária ao seu funcionamento;
– tem que ter pessoal habilitado para manejar o pescado, com pleno conhecimento da natureza do produto, temperatura interna, umidade relativa do ar (interna e externa), controle da quantidade diária de saída do produto, tipo de embalagem, duração de estocagem etc.
Como se vê, meu caro Rubens, é muito mais peixe do que sonha o meu pirão e deseja, em vão, o meu pobre estômago vazio.
O bóson de Higgs
Pra fechar por hoje, uma magnífica do meu caríssimo Professor Oliveira. A partir deste ponto.
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Prezado Rubens, ao ler na terça (17) o seu artigo ‘Operação Risco Nágua’, de imediato lembrei a notícia sobre reunião de cientistas realizada último dia 4 no Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear, em Genebra, Suíça. Na oportunidade, anunciaram a descoberta de uma partícula subatômica consistente com o modelo que descreve o bóson de Higgs, formulado teoricamente há cerca de 50 anos por alguns físicos, entre eles o britânico Peter Higgs.
A existência dessa misteriosa partícula foi concebida para preencher uma lacuna no modelo que descreve as partículas elementares que formam toda a matéria existente no mundo que conhecemos, como as forças agem sobre elas e como elas interagem entre si. A descoberta é importante porque abre caminho para um entendimento mais profundo sobre nossa própria existência – de onde viemos e para onde vamos. Ou seja, sabendo como se formam as partículas, os átomos, as estrelas etc., é possível prever o que vai acontecer com o universo e os planetas no futuro.
Diante desse cenário, ocorreu-me a seguinte questão: quem, no universo político da nossa pequenina e brava Paraíba, imagina-se ‘o bóson de Higgs’?