Reforma não impede Fenart

Rubens Nóbrega

Que a infra do Espaço Cultural José Lins do Rêgo, de João Pessoa, precisa de uma recuperada legal, talvez geral, ninguém duvida ou discorda.
Tanto que a minha primeira reação foi de aplauso, ontem, ao ver na capa do Caderno Vida e Arte, deste Jornal, matéria assinada por Tiago Germano anunciando: “Espaço Cultural vai fechar para reforma”.
Mas, lamentavelmente, no correr da leitura do ótimo texto do colega comecei a, digamos, brochar.
Bateu-me o desânimo ver o governo confirmando agora o que o governador sinalizava desde novembro: vai fazer uma coisa boa e necessária, mas, talvez para não perder viagem nem o estilo, aproveita para fazer uma ruim.
A coisa ruim é usar a recuperação ou possível reforma do Espaço Cultural como pretexto para não realizar mais uma vez o Festival Nacional de Arte (Fenart), e dessa vez em pleno ano do centenário do ‘Eu’ de Augusto dos Anjos.
Interessante notar que a reforma deve começar em maio, justamente o mês em que se realizou o último Fenart, o de 2010.
Curioso notar também que o Fenart deixou de acontecer justamente no primeiro ano do Ricardus I, que por toda a vida fez praça de ‘cultural’ e graças a esse marketing angariou muito apoio e voto no meio cult da Pequenina.
Impressionante notar, além desse detalhe, que programam uma reforma para começar em maio, justamente o mês que inaugura o período mais chuvoso na Capital e em tese mais inadequado para serviços como esse que estão anunciando.
Principalmente se considerarmos que o investimento maior será na recuperação do teto do Espaço. Digo isso baseado em informação oficial que a matéria do JP traz em um de seus parágrafos, exatamente assim:
– Orlando Soares, superintendente da Suplan, confirmou à reportagem que um recurso previsto em R$ 4 milhões será investido nos primeiros meses para a reestruturação completa do teto do Espaço Cultural.
Pelo visto, a engenharia ou a tecnologia não evoluiu e eles terão que fazer feito o menino aqui fazia lá em Bananeiras: aproveitava o inverno pra subir no telhado e ajudar a tirar (ou botar mais) goteira na casa onde a gente morava.
Nada melhor que chuva para mostrar onde está pingando, empoçando, encharcando, entupindo, infiltrando… Não é mesmo?
De qualquer modo, espero e torço sinceramente para que o governo repense. Dá muito bem pra realizar o Fenart e, logo após, começar o serviço no Espaço.
E se chover durante o Festival e começar a pingar e a molhar a Praça do Povo, nem se preocupe, Majestade: a gente bota uns baldes e umas bacias pra aparar e diz ao povo que é uma ‘instalação’.
Quanto à reforma em si, se fizer o que está prometendo o governo dará sequência ou concluirá o profícuo trabalho de resgate do Espaço Cultural empreendido pela gestão de Maurício Burity na Funesc.
A propósito, não se admirem se a totalidade ou boa parte dos recursos que o governo de agora aplicar na anunciada reforma tiver sido assegurada pelo filho de Tarcísio Burity, o idealizador, construtor e fundador do Espaço.
O legado de Maurício
Ao se despedir do cargo, há um ano, Maurício deixou em ponto de liberação quase R$ 2 milhões, provenientes de emendas da bancada federal, para o processo de revitalização do Espaço.
Daquele dinheiro, pelo menos R$ 500 mil já haviam sido disponibilizados para compra de equipamentos de som e luz para o teatro Paulo Pontes e o cine-teatro Bangüê.
Outros R$ 500 mil estavam a caminho e deveriam ser aplicados na construção do Museu de Arte Contemporânea da Paraíba, o MacPB, projetado para funcionar dentro do próprio Espaço.
Lembro que ao fazer o balanço de sua gestão no final de dezembro de 2010, Maurício Burity informava ainda que captara outros R$ 500 mil junto ao Ministério do Turismo para construir uma nova entrada para o Espaço Cultural.
Outros R$ 200 mil, oriundos do Ministério da Cultura, ficaram garantidos para uma reforma do Museu José Lins do Rêgo, com previsão de serem repassados ao Estado no primeiro trimestre deste ano.
Deve ser dado ainda a Maurício Burity e equipe o crédito pela reabertura da Biblioteca Juarez da Gama Batista, fechada havia sete anos, e do Planetário.
Em um ano e sete meses de administração (maio de 2009 a dezembro de 2010), Maurício criou e instalou a Escola de Música Juarez Johnson, o Espaço Cine Digital e reativou o Cine Bangüê como cinema.
Como se fosse pouco, o presidente da Funesc no Maranhão III também reabriu o Teatro de Arena, onde o colunista e a torcida puderam rever bons espetáculos de velhos e novos ídolos da música popular brasileira.
Graças a ele e ao Mestre Fuba, na pele de empresário e produtor do insuperável Projeto Seis e Meia, voltei a assistir a shows magníficos de Renato e seus Blue Caps e desse enorme e irrepreensível intérprete que atende pelo nome de Renato Braz.
Por essas e outras, morena, quando o presente não traz alegria e o futuro à vista desanima qualquer esperança, vêm logo à memória os versos inesquecíveis de João de Barros: “A saudade mata a gente…”.