Recordar é saber

Rubens Nóbrega

Primeira realização de Ricardo Coutinho como prefeito da Capital, o Terminal de Integração de Ônibus da Cidade Baixa foi obra realmente inovadora. Sua construção veio antes da licitação, algo inédito na administração municipal.

Devemos conceder o benefício da dúvida ao gestor iniciante, contudo. Afinal, naquele ano, 2005, o hoje governador estreava em mandato executivo. Talvez não soubesse que era preciso primeiro licitar para depois construir, como manda a lei.

A suspeita de que o então alcaide desconhecia tais procedimentos é reforçada pelo fato de naquele período ele também ter autorizado ou aceitado que a Emlur adicionasse sem licitação uma nova empresa – a Líder – à coleta de lixo da cidade.

Aquela adição rendeu ao prefeito e aos dirigentes da Emlur da época uma ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Estadual.

Não se sabe que fim levou esse processo, mas é certo que tal como a dor ensinar a gemer o ajuizamento daquela ação deve ter ensinado a Ricardo e equipe que licitar é preciso. Tanto quanto navegar…
Por essa e outras, dois anos depois a Emlur abriria sua primeira licitação milionária para a limpeza urbana da Capital. Quem vencesse fecharia contrato de R$ 139 milhões por 48 meses de serviço. Problema: o negócio estava tão, tão… Que a Justiça cancelou, a pedido do Ministério Público!
Mas nada como uma gestão criativa, não é mesmo? Pois bem, a Emlur escolheu e contratou por emergência – e com dispensa de licitação – uma terceira empresa para recolher o lixo. A escolha recaiu sobre a Marquise, mas sem deixar no sereno as outras duas grandes coletoras – Líder e Limp Fort.
Essas foram recontratadas aproveitando-se a dispensa de licitação que botou a Marquise na roda da fortuna: em apenas seis meses, contados a partir de 15 de setembro de 2007, as três empresas faturaram quase R$ 14 milhões. E ao final do contrato de ‘emergência’, uma nova licitação viria para consagrá-las de vez.
Publicado o edital do novo certame, todavia, o negócio parecia mais uma vez tão arrumado para entregar o contrato às mesmas três empresas – Limp Fort, Líder e Marquise – que a vitória delas na licitação foi cantada e publicada antecipadamente. Quem ‘entregou’ as vencedoras da licitação antes da abertura dos envelopes com os preços de cada concorrente foi o blog Máfia do Lixo. Em 26 de março de 2008.
Detalhe: nesse meio tempo, um sócio da Líder foi preso na Operação Hígia da Polícia Federal. O rapaz foi acusado – vejam só! – de fraudar licitações. Apesar disso, de tudo isso, a gestão girassolaica sequer fez careta diante de todo aquele chorume.

 

Depois do lixo, a merenda

Seis ou sete meses após o caso do lixo, empresários locais e regionais do setor de alimentos denunciarem direcionamento de uma licitação que a Prefeitura sob Ricardo Coutinho promoveria para terceirizar a merenda escolar da rede municipal de ensino.
Repetindo o roteiro do mal cheiroso contrato precedente, o certame da merenda foi realizado e dele saiu vencedora a SP Alimentação. Com direito à publicação de anúncio cifrado antecipando o resultado e tudo o mais.
Protagonista de escândalos de repercussão nacional, como fatiar uma salsicha ao meio para dois alunos comerem, a SP também era acusada de pagar propinas a prefeitos e secretários que lhe facilitassem vantajosos contratos de fornecimento da merenda.
Felizmente pra nós, no caso envolvendo a PMJP não há acusação – muito menos comprovação – de que prefeito ou secretário tenha sido subornado, mesmo a gente sabendo que o contrato que a SP ganhou na Capital paraibana foi coisa de cinema. Ou de mega sena acumulada por três semanas seguidas: R$ 46 milhões.

 

Uma ideia puxa outra…
Depois da empresa paulista especialista em merenda, foi a vez de uma empresa baiana – a Ideia Digital – vir aqui faturar os tubos, quer dizer, os fios. Faturar na Prefeitura sob Ricardo Coutinho, que contratou os baianos por mais de R$ 6 milhões para instalar em João Pessoa o famoso Jampa Digital.
Não foi uma boa ideia. O projeto, que daria vigilância eletrônica e Internet sem fio gratuitamente aos pessoenses, fracassou retumbantemente. Por falhas constantes de funcionamento e sob o peso de acusações de que a empresa contratada também seria chegada ao oferecimento de bola aos seus contratantes.
De concreto, pra valer, da história restou um inquérito na PF (que já teria comprovado superfaturamento no negócio da Ideia com a PMJP, de acordo com a matéria publicada ontem neste Jornal da Paraíba) e mais uma ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público contra o prefeito.
Não contra Ricardo Coutinho, o prefeito das licitações da SP Alimentação e da Ideia Digital. Contra o prefeito Luciano Agra, que honrou os contratos do antecessor e por ele vai passar o resto da vida respondendo na Justiça.


Médicos homenageiam Cássio

“Pelos relevantes serviços prestados na defesa do projeto de lei de regulamentação do Ato Médico (do qual é relator)”, o Conselho Federal e o Regional de Medicina (CFM e CRM) vão homenagear o senador Cássio Cunha Lima nesta sexta, às 20h, no auditório do CRM (Avenida Pedro II, 1335, Centro de João Pessoa).