RC quer dizer requinte de crueldade

Rubens Nóbrega

Vamos dar o benefício da dúvida. Talvez Ricardo Coutinho não avalie ou não tenha a exata dimensão do mal que faz a pessoas humildes e vulneráveis que ele penaliza duramente através de atos de pura retaliação política.

O caso mais recente afetou cruelmente pais, mães e filhos que dependem do atendimento médico-ambulatorial do Hospital Arlinda Marques, de João Pessoa, onde foram demitidos prestadores de serviço ligados ao vereador Bira, do PSB.

Aliado, correligionário, chefe de gabinete do então deputado estadual Ricardo Coutinho e depois do RC prefeito da Capital, Bira e seus apadrinhados caíram em desgraça junto ao governador.

Tudo porque o vereador ousou defender a candidatura à reeleição do prefeito Luciano Agra e, muito mais, discordar da pré-candidatura da jornalista Estelizabel Bezerra, a favorita do rei. Resultado: perdeu a confiança, o prestígio e os empregos.

Estima-se que o Ricardus I botou no olho da rua da amargura mais de 20 apadrinhados de Bira apenas entre os que trabalhavam no Arlinda Marques, o maior complexo público de atendimento e tratamento pediátrico da Paraíba.

Não é só. Circulou notícia sobre demissão também de pessoas empregadas na Maternidade Frei Damião, outra unidade de saúde da Capital mantida pelo Estado onde Bira teria conseguido empregar contingente menor de eleitores ou cabos eleitorais.

Mas a vassourada não abalou apenas Bira e os demitidos. No caso do Arlinda Marques, os maiores prejudicados são milhares de crianças que conduzidas por seus responsáveis demandam diariamente os serviços daquele complexo.

A degola geral dos afilhados do dissidente Bira não atingiu apenas o vereador e os novos desempregados. Também desestruturou, bagunçou, transformou num caos, enfim, o trabalho dos médicos no hospital e ambulatório do Arlinda.

Porque os alvos imediatos da ira do soberano foram precisamente aqueles homens e mulheres contratados para cuidar de fichas, prontuários, organização de atendimento nos consultórios, encaminhamento para exames etc.

Médicos que levam a sério o seu trabalho e têm compromisso com os seus pacientes sabem da importância do suporte operacional que lhes dão – davam, no caso – os prestadores de serviço dispensados abruptamente.

Observem ainda que a perversidade da represália revela-se mais intensa quando se sabe que as demissões foram consumadas todas de uma vez, sem aviso prévio aos demitidos nem a quem eles auxiliavam. Muito menos aos usuários daqueles serviços.

A desumanidade do ato fica ainda mais evidente quando se sabe que a ‘faxina’ não desmantelou apenas um serviço, mas, sobretudo, a vida e a saúde de milhares de pessoas. E tudo isso só para mostrar – a Bira e a outros recalcitrantes – quem manda!

E tudo isso sem reposição imediata da força de trabalho que, mesmo providenciada, ainda levaria tempo para os novatos aprenderem o serviço de modo a proporcionar a normalidade conseguida há muito custo no Arlinda sob o atual regime.

Resumindo: o rei quer nem saber, tá nem aí, não dá a mínima para quem depende mesmo de um emprego mal remunerado para sobreviver e sustentar família. E mostra, da mesma forma, o quanto se importaria com as crianças que têm no Arlinda a única – e talvez última – esperança de tratamento ou cura.

Desempoderando Rosemeira

Roseane Meira foi outra passageira ilustre do Coletivo RC obrigada a pedir parada por apoiar abertamente a candidatura de Agra à reeleição. Antes poderosa secretária de Saúde da Prefeitura da Capital e, informalmente, do Estado, Rosemeira perdeu espaço e empregos no Ricardus I quando decidiu ficar ao lado do ex-marido (politicamente falando).

Pior: sentiu a mão pesada do antigo companheiro de tantas lutas dentro da própria casa. No final de abril passado, o atual marido da secretária, o economista Murilo Wanzeler, foi demitido da coordenação estadual do Programa Nacional de Melhoria e Qualidade da Atenção Básica em Saúde.

Quem comunicou a Murilo sua exoneração foi o odontólogo Valdson Souza, ‘cria’ de Rosemeira que ascendeu de uma chefia de Distrito de Saúde na Capital para a Secretaria Executiva da Saúde no Estado no começo do Ricardus I. Depois, mostrou serviço e fidelidade irrepreensível ao chefe-maior. Firmou-se secretário titular da pasta.

Além de defenestrar o marido da ex-suserana, Valdson também teria se livrado de Julinho e do Doutor Ernani, pessoas da extrema confiança da dama-de-ferro da Saúde municipal, que as colocou na Estadual para assessorar o Doutor Mário Toscano, primeiro secretário de Saúde do Ricardus I, que não aguentou o tranco e, dizem, os gritos de Rosemeira. Pediu as contas, rapidinho.

Como se fosse pouco, na sequência de quedas e coices sofridos após ‘afrontar’ o imperador, Rosemeira foi repreendida publicamente pela primeira-dama do Estado, Pamela Bório, em função de denunciadas insuficiências nos PSFs da Capital.

Por fim, como ‘desgraça pouca é bobagem’, segundo dizem lá em Bananeiras, reza a lenda que na galeria dos maiores desafetos de Rosemeira estaria a Doutora Cláudia Veras, atual e prestigiadíssima secretária executiva da Saúde Estadual.

Companheira de Estelizabel há dez anos, no primeiro mandato de Ricardo na PMJP a Doutora Veras teria sido confinada atrás de um birô para cumprir função burocrática de pouca relevância. Tudo por ordem, obra e graça da então toda poderosa secretária municipal de Saúde.