RC e a guerra fiscal

Rubens Nóbrega

Confesso que sem as colaborações a seguir publicadas este espaço seria preenchido hoje com material absolutamente incompatível com o nível dos seus leitores e o padrão editorial deste que se transformou no verdadeiro Jornal da Paraíba.

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(Do Professor Flávio Lúcio Vieira)

Nessa questão da vinda da Fiat para Pernambuco, o governador Ricardo Coutinho demonstrou que está mesmo perdido. Perdido no sentido de desorientado, sem rumo. Primeiro, ao difundir a falsa idéia de que o Estado seria beneficiado com empregos gerados direta e indiretamente pela instalação da montadora italiana na fronteira com a Paraíba. Ora, a justificativa mais elementar para que tantos recursos públicos sejam destinados a uma das maiores empresa do mundo (é bom lembrar que a Fiat comprou a Chrysler, a terceira maior montadora dos Estados Unidos, durante a crise de 2009) está relacionada aos empregos que ela vai gerar no Estado (de Pernambuco).

Dito isso, pergunta-se, inevitavelmente: com quanto o governo de RC participou dos R$ 5,8 bilhões em incentivos (dispensa e financiamento de ICMS, que, se a Fiat antecipar o pagamento, pode chegar a 95%, empréstimos do BNDES, um terreno de 12 milhões de metros quadrados, construção de um porto, entre outras coisas)? Nesse caso, vale a máxima adaptada a essa realidade: “Aliados, aliados, negócios à parte”. Até por que em todos os casos em que pesados incentivos como esses são doados, a exigência básica do governo é de contratação de mão de obra local, especialmente quando se trata de uma clara política de interiorização do desenvolvimento.

Um segundo aspecto dessa questão remete à chamada guerra fiscal, da qual RC sempre foi um crítico incisivo, inclusive na primeira reunião do Conselho Deliberativo da Sudene da qual participou este ano. Ao invés de ao menos manter-se calado diante de tal descalabro de seu companheiro de partido (doar R$ 5,8 bilhões em troca de 4 bilhões em investimentos!), o governador paraibano não apenas ratificou uma prática injusta e obscura que é a guerra fiscal, fruto da ausência de uma verdadeira política industrial nacional, como tentou tirar dela uma casquinha política.

Se ele tivesse mantido sua postura anterior, essa teria sido uma grande chance de dar relevo a uma causa justa e republicana – acabar com a guerra fiscal – cujo cerne é por fim à destinação privada de recursos públicos, ditos sempre como escassos quando os destinatários são os mais pobres. Especialmente com a legitimidade de ser ele governador de um dos estados mais pobres da Federação. Fica cada vez mais claro que o que falta a RC e a seu governo é um projeto de Estado. Sem isso, ele vai continuar tateando no escuro e dando de cara com erros políticos e administrativos cada vez mais sérios.

 

‘Trabalhe um pouco, Majestade’

(De um excelente paraibuco radicado há vinte anos em Recife).

Seria interessante o Reicardo descer um pouco do trono e dar uma trabalhadinha, em vez de ficar perdendo tempo a escalar o bobo da corte e as damas de companhia para fazer a defesa de seu decadente reinado! Realmente não é conversa do gabinete do Senador Vital Filho. As vagas que a Fiat está abrindo são para as pessoas das onze cidades pernambucanas do entorno de Goiana. Isso é tão verdade que essa escolha foi feita no sentido de se evitar o crescimento desordenado da cidade. A Fiat vai manter essas pessoas nos locais onde moram e vai propiciar transporte diário de ida e volta dos trabalhadores às suas cidades de origem, proporcionando um desenvolvimento igualitário em toda a região da Mata Norte. Qualquer assunto fora disso é conversa mole pra boi dormir!

E a mão-de-obra paraibana? Os sem qualificação vão continuar como estão. Mas não é isso que interessa à corte? Manter os vassalos sem instrução alguma, viciados no pão e no circo? Lógico que paraibanos vão ser contratados pela Fiat e por outros grandes empreendimentos que se instalam em Pernambuco, mas essa mão-de-obra é a que tem qualificação, e isso não é novidade. Desde muito tempo atrás que a Paraíba se tornou especialista em formar profissionais qualificados em suas Universidades, que são referência na região e exportam essa força de trabalho para outros estados do país, por um fato simples: não existe emprego qualificado na Paraíba. Os que permanecem, em geral, ficam na ilusão e na dependência de conseguir um arrego com um político amigo.

Voltando à questão dos empregos em Pernambuco. Em Suape já tem protestos contra a contratação de profissionais de fora de Pernambuco. Ocorreu fato recente no estaleiro Atlântico Sul, onde pernambucanos de baixa instrução foram demitidos para a contratação de profissionais mais qualificados, oriundos de outros estados, principalmente da região Sudeste.

Em resumo, Eduardo Campos foi eleito para solucionar os problemas de emprego e renda dos pernambucanos. Reicardo deveria trabalhar um pouquinho e parar de tentar pegar carona no trabalho dos outros, ter um pouco de hombridade e parar de mendigar migalhas, sobras de emprego do vizinho remediado! O cara pode até se achar rei, mas tem que de vez em quando fazer uma forcinha, senão seu reinado pode acabar como o de Luís XVI, sendo guilhotinado pela força dos votos!