Rádio MEC: 30 anos no ar

Nonato Guedes

Leio matéria de Paulo Virgílio, repórter da Agência Brasil, sobre o transcurso dos 30 anos da Rádio MEC. No dia dez de maio de 1983, a Rádio MEC, anteriormente chamada Rádio Ministério da Educação, sucessora desde 1937 da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, emissora pioneira fundada em 1923 por Edgard Roquette Pinto, iniciava suas transmissões na banda FM. Cumpria, assim, o mesmo caminho trilhado na década anterior por importantes e tradicionais rádios cariocas, como a Nacional, a JB, a Globo e a Tupi. No entanto, ao contrário do que ocorreu nessas emissoras, que adotaram em suas FMs um padrão diferenciado do AM, a FM da Rádio MEC surgiu como legítima herdeira da longa tradição da AM como emissora voltada para a música clássica. Nos primeiros tempos, inclusive, a programação era direcionada para as duas bandas.

A MEC FM chega ao trigésimo aniversário com um perfil consolidado, fazendo jus ao slogan – “A rádio de música clássica do Brasil”, e com uma grade de programação ampla e diversificada, capaz de cobrir todo o universo do que pode se chamar de música de concerto, responsável por 85%, e abrir janelas para outros gêneros musicais igualmente refinados, como o jazz, o instrumental popular brasileiro, a bossa nova e as trilhas sonoras para o cinema. Marcelo Brissac, coordenador da MEC FM, diz que a preocupação é refletir na grade de programação todo o espectro da música clássica, que é imenso – vai do período medieval aos dias de hoje. “É um grande quebra-cabeças para não privilegiar um ou outro, embora a gente saiba que há períodos que são mais pop e outros eruditos, estes envolvendo compositores como Chopin, Mozart, Bach, Betthoven e Tchaicovsky”, relata.

De acordo com Brissac, o critério é diluir as preferências dentro da programação. “O público que gosta de música clássica muitas vezes tem preferência por um determinado compositor e espera ouvi-lo sempre na rádio. Nossa central de atendimento recebe com freqüência reclamações do tipo: vocês não estão tocando mais o Mozart. É claro que tocamos, mas não dá para ser um rádio só de Mozart”, acrescenta. Da segunda à sexta-feira, das 6h às 22h (aos sábados até o meio dia) a emissora tem programação musical comandada ao vivo, do estúdio, por seus locutores e apresentadores. Segundo Brissac, essa programação segue a ordem cronológica da história da música, começando de manhã com os períodos medieval e barroco, passando pelos clássicos do romantismo e chegando, no fim da tarde, às correntes mais modernas. “Nós não tocamos, por exemplo, Schoenberg e música eletroacústica às 8h da manhã”, diz ele.

 

O coordenador da Rádio MEC FM erudita se justifica pelo fato de que o repertório da programação erudita contemporânea enfrenta dificuldades de aceitação por parte do público: “É a mesma coisa que uma pessoa que nunca leu um livro, começar logo pelo “Ulisses”, de James Joyce. Para compreender música clássica, tem que ter ouvido mais aberto, tem que ter afinidade, mas desprendido de preconceito contra sons dissonantes”, lembra ele, com muita propriedade. Ainda à noite, de 20h às 22h, a programação entra num ritmo de harmonia, com cada dia da semana dedicado a concertos diferentes de música clássica. A emissora também transmite programas produzidos por terceiros, que vão do clássico jazz ao chorinho, à autêntica música popular brasileira. Enfim, um ecletismo saudável para os ouvidos apurados e o bom gosto de ouvintes especiais.

 

A adoção da terceirização, com produção de programas independentes, possibilita a incorporação de novos públicos. Há um programa produzido e apresentado por Fábio Canosa que versa, por exemplo, sobre trilhas sonoras para cinema. A legião de cinéfilos, naturalmente, agradece. E mesmo os não-cinéfilos de carteirinha ligam o dial para se informar, para aprender particularidades que desconhecem no dia a dia. O programa “Som de Letra” trata da relação entre a poesia e a música e abriga poetas que recitam versos de sua autoria. É destinado a um outro público, a gente que gosta de literatura.

 

O jornalismo ocupa apenas 15% da grade, exatamente porque a música clássica é o carro-chefe da programação da Rádio MEC FM. Em certo sentido, é bom que haja essa segmentação. Temos, ainda hoje, um exemplo de inovação que deu certo: a rádio CBN, a rádio que toca notícia, afiliada do Sistema Globo de Comunicação. Contém informações nas 24 horas do dia e tem uma legião de admiradores cativos em diferentes recantos do país. Tive o privilégio de trabalhar nessa estação, quando vinculada ao Sistema Correio em João Pessoa, e ultimamente fazendo incursões, no Sistema Paraíba, a convite da produtora Verônica Guerra. É estação de altíssima qualidade, posso atestar.