O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu, por unanimidade, que o esquema de rachadinhas causa danos ao erário público e pode tornar inelegível o agente público pego nessa prática criminosa, ao condenar a ex-vereadora Maria Helena Pereira Fontes (PSL-SP).
No acórdão, publicado na sexta-feira (10), o magistrado destaca que o esquema de rachadinha “é uma clara e ostensiva modalidade de corrupção”.
“O esquema de rachadinha é uma clara e ostensiva modalidade de corrupção, que, por sua vez é a negativa do Estado Constitucional, que tem por missão a manutenção da retidão e da honestidade na conduta dos negócios públicos, pois não só desvia os recursos necessários para a efetiva e eficiente prestação dos serviços públicos”, afirmou Alexandre Moraes em seu voto.
O julgamento foi iniciado em abril, mas o ministro Luís Felipe Salomão pediu vista, e o caso foi concluído recentemente. Ainda em seu voto, Moraes pontuou que o “agente público que pratica rachadinha não só deve ser condenado por improbidade administrativa e na seara criminal, mas deve ficar inelegível nos termos da lei da ficha limpa.
O esquema de rachadinha é caracterizado quando uma pessoa, no exercício de um mandato público, obriga os funcionários de seu gabinete, pagos com dinheiro público, a devolverem parte de seus salários.
No caso de Maria Helena Pereira Fontes, ela teve a candidatura impugnada por já ter sido condenada por improbidade administrativa por enriquecimento ilícito de R$ 146,3 mil à época em que foi vereadora pela capital paulista entre 1997 e 1999. O caso transitou em julgado em 2011 e ela teve que que devolver o valor ao município.
Maria Helena tentou se eleger para um novo mandato na Câmara Municipal de São Paulo em 2020, ao ter sua candidatura deferida pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), mas o caso foi parar no TSE após o MPE (Ministério Público Eleitoral) recorrer da decisão do TRE-SP e, agora, a candidatura foi impugnada. Com a decisão, a ex-vereadora está proibida de disputar qualquer cargo público pelos próximos oito anos.
O esquema criminoso de rachadinhas ganhou repercussão nacional após o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), se tornar alvo de uma investigação no MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que apura a suposta prática da retenção dos salário dos funcionários do gabinete do então deputado estadual.
Além de Flávio, o próprio presidente é suspeito de fazer uso da prática na época em que era deputado federal, bem como o filho 02 do mandatário, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
No caso de Flávio Bolsonaro, hoje senador, a Segunda Turma do STF analisa uma reclamação do MP-RJ contra uma decisão do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio) que concedeu foro privilegiado ao parlamentar nas investigações das rachadinhas. O tema seria debatido entre os magistrados, mas o ministro Nunes Marques retirou a pauta de julgamento.
Inicialmente, o julgamento sobre o foro de Flávio estava marcado para 31 de agosto, mas o ministro Gilmar Mendes decidiu adiá-lo para amanhã, 14 de setembro, atendendo a um pedido do advogado do senador, Rodrigo Roca. Na ocasião, ele alegou estar “impossibilitado de comparecer na sessão agendada”.
O caso das rachadinhas faz parte da denúncia contra o o ex-assessor Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema, e outros 15 ex-assessores. Flávio é suspeito de contratar os funcionários de seu gabinete sob a exigência de que eles devolvessem parte dos salários, sistema chamado de rachadinha.
Além disso, o filho do presidente foi denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O MP considera ainda a possibilidade de apropriação indébita.
Em março deste ano, o UOL publicou a série de reportagens “Anatomia da rachadinha”, baseada na análise de 607.552 operações bancárias de 100 pessoas e empresas investigadas por envolvimento no suposto esquema de corrupção no gabinete de Flávio Bolsonaro, à época deputado estadual, na Alerj. As operações bancárias eram resultantes da quebra de sigilo decretada pela Justiça do Rio. A decisão foi posteriormente anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
As transações mostraram que o então deputado federal Jair Bolsonaro empregou em seu gabinete por oito anos Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher do presidente. Um ano e dois meses depois que Andrea deixou de trabalhar para Bolsonaro, Ana Cristina ficou com todo o dinheiro acumulado na conta em que a irmã recebia o salário: R$ 54 mil – equivalente a R$ 110 mil hoje.
Outras reportagens do UOL revelaram ainda que assessores de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio e de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados sacaram a maior partes dos salários que receberam, um indício da prática de rachadinha.
Fonte: Folhapress
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