QUEM NÃO ESTÁ CONSTRUINDO O DESASTRE, PODE ESCAPAR DELE

Por Gilvan Freire

Não há certeza, mas, ao que parece, a democracia eleitoral vai funcionar. Isto é muito bom, porque não há democracia sem eleições. Possivelmente, os eleitores estão conscientes de que, se houver mudanças, ocorrerá pela via do voto, o único instrumento de força coletiva afora o processo de insurreição revolucionária. É, em grande parte, o efeito Copa.

De fato, a Copa coloriu a alma de um povo deprimido politicamente que não sabia o que fazer de uma classe política tão abjeta, sempre posicionada em sentido exatamente contrário à representação popular. Desse confronto entre o que pensa o povo e o que fazem seus representantes, era de se imaginar um choque capaz de roubar a paz social. Mas o efeito Copa, como todas as conseqüências do histórico remédio pão-e-circo, vem dando excelentes resultados. Funciona mesmo.

                        Ainda não dá para saber o que pensam os líderes, especialmente os de maior projeção que disputam os cargos mais relevantes. Pelo menos um candidato à presidência, Eduardo Campos, em um evento anteontem, surpreendeu prometendo combate à corrupção. Embora este seja o discurso recorrente desde as primeiras eleições no país, logo após à proclamação da república, vinha perdendo apelo. Afinal, como poderiam os políticos combater a corrupção, se estão sobrevivendo e se alimentando dela? Se é a corrupção que, como engrenagem industrial, está produzindo em grande escala e gerando o enriquecimento das classes dominantes?

 

E, NA PARAÍBA, O QUE DEVE ACONTECER?

 

Vamos aguardar os discursos e as propostas. Há uma sensação (tomara que falsa) de que nenhum candidato a governador precisará dizer algo novo. É como se o eleitor, por maioria, quisesse apenas Cássio de volta, pela razão mais simplória de que precisa tirar RC do governo. Não deixa de ser uma coisa ideológica, porque RC teria um estilo esquisito, em desacordo com o gosto do povo. Vai ser um confronto interessante do fica não fica, mas, enfim, o agrado ou desagrado do eleitor vai prevalecer, por causa da soberania do voto.

 

Os candidatos nanicos vão defender a ética e combater os maus costumes. É uma boa. Prova de que o ideal não morreu. Mas o grande desafio sobra para o PMDB, o partido que esteve como finalista nas copas políticas dos últimos 20 anos, tendo governado o estado por 10 sob a liderança de Zé Maranhão, que agora aparece como sobrevivente de uma raça em extinção: os políticos limpos e dignos. O maior problema do PMDB foi precisamente não saber como afastar a ascendência de Zé Maranhão sobre os partidários no Estado e não permitir mais que o seu prestígio político fizesse sombra sobre os líderes mais novos, especialmente Veneziano e Vitalzinho, que fizeram de tudo, nos últimos anos, para aposentá-lo, não obstante as pesquisas indicarem que ele ainda é o principal nome do partido.

 

Com o objetivo de reduzir a influência de Maranhão sobre o PMDB, os irmãos Vital tentaram controlar a agremiação, mas os resultados foram funestos. Mesmo sendo aos olhos dos eleitores o melhor candidato a senador durante o período pré-convencional, Maranhão não era cogitado como candidato, enquanto a vaga era oferecida a figuras sem expressão. Mas foi o desastre dessas operações malfeitas que trouxe o ex-governador de volta, ao lado de Roberto Paulino, na chamada chapa puro sangue, a única engenharia capaz de garantir oxigênio à candidatura de um dos irmãos Vital.

 

Mesmo assim, funcionando como tábua da salvação, ou seja: como bóia de náufragos, Maranhão não teve o direito de escolher o seu suplente na chapa de senador. Logo que convidou um agente político compatível com sua biografia de homem público, os irmãos Vital reivindicaram o lugar para a mãe, a fim de formar o maior agrupamento político familiar da história da Paraíba. Agora é Vital para governador, Veneziano para federal e Nilda para a suplência de senador, retirando a sua candidatura de estadual para favorecer Ivaldo Morais, sogro de Vital, e Tatiana Medeiros, a candidata de Veneziano. Se essa demonstração de força oligárquica e concentração de poder doméstico funcionarem, Vitalzinho passa a ser o favorito do pleito. Se não funcionar, é porque o desastre está neles.