Que pena, Demóstenes!

Rubens Nóbrega

Não escondo de ninguém que sou fã de Lula e por conta disso jamais consegui disfarçar minha contrariedade quando via e ouvia certas figuras da oposição esculhambando o presidente e o governo.
Ao mesmo tempo, talvez contraditoriamente, admirava e respeitava alguns desses expoentes que ocupavam e ainda ocupam espaços generosos da grande mídia para atacar Lula e, de 2011 pra cá, o presidente e a sua sucessora.
Entre tucanos e pefelistas que achava merecedores de respeito, apesar de sinceramente detestá-los, posso mencionar Arthur Virgílio, Tasso Jereissatti, ACM Neto, Álvaro Dias e Demóstenes Torres.
Os dois primeiros, talvez os mais contundentes críticos de Lula no Senado da legislatura passada, foram reprovados pelas urnas na tentativa de reeleição. Quem sabe se, justamente, pelo tipo de oposição raivosa que faziam a Lula.
Os outros – ACM, Álvaro e Demóstenes – ou conseguiram se reeleger ou entraram na segunda metade do mandato e até bem pouco tempo eram as mais evidentes e recorrentes expressões de oposição ao governo petista.
Mas aí o Doutor Demóstenes rolou cachoeira abaixo e se afogou nas águas profundas, escuras e lodosas nas quais, pelo visto, costumava tomar banho com frequência. Pena, pena mesmo.
Ainda mais porque quem acreditava na sinceridade de um Demóstenes, discordando frontalmente dele ou concordando integralmente com ele, sabe aquilatar o tamanho da perda de um senador com aquela postura, com aquela moral que nos parecia legítima, verossímil, convincente.
Quem respeitava Demóstenes respeitava porque sabia e sabe o quanto é importante para um país feito o nosso ter oposição vigilante, combativa, do tipo que não permite a homogenia ou a pasteurização da sociedade brasileira.
Brasil perde com oposição fraca
É triste ver esse tipo de oposição minguando, emagrecendo tal e qual Demóstenes Torres depois da bariátrica, uma cirurgia que parece ter lhe reduzido muito mais do que o estômago. A impressão é a de um corte radical na estatura de reverência do senador.
Lamento, lamento de verdade ver a oposição se enfraquecendo por falta de discurso, de votos ou de crédito junto à população mais antenada, mais informada, mais politizada.
É muito ruim, acreditem, ter uma oposição sem valores confiáveis, sem perspectiva de poder, com prazo de validade vencido, sem serventia de vacina contra o vírus da mexicanização que costuma pegar os poderosos da hora que se demoram muito tempo ou se revezam muitas vezes no poder.
No tipo de democracia que nos coube, com o perfil de políticos que temos em boa quantidade, nada mais nocivo para o Brasil como um todo e certos estados em particular que a submissão do povo a um projeto de mando longevo.
Se, com a possibilidade de apenas uma reeleição, muitos começam a tiranizar a gestão desde o primeiro mandato, imaginem, então, uma figura tipo Ricardo Coutinho, por exemplo, ser reconduzido para três ou mais períodos de governo.
Deus nos livre de vermos consolidado no Brasil ou na Paraíba esse socialismo chavista de segunda linha que os girassolaicos tentam emplacar em nossa Pequenina desde quando passaram a conversa no eleitorado de 2010.
A lógica do nosso sistema solar
Professor Oliveira, das melhores referências de pessoa e cidadão que a vida me proporcionou, mandou-me outro dia cópia de ‘A Confissão’ de Galileu à Inquisição Católica, no famoso julgamento de 1615.
O texto remete ao momento crucial em que perante o Tribunal do Santo Ofício o admirado cientista florentino livrou a cara e a pele ao renegar a própria ciência que lhe dava a certeza de a Terra girar em torno do Sol.
Mas o propósito central do Mestre era chamar-me a atenção, dentro do texto, para os trechos em que sobressaem a figura e as palavras do Cardeal Bellarmino, para quem afirmar que a Terra girava em torno do Sol era “tão errado quanto dizer que Jesus não é filho de uma virgem”. Achando pouco, Sua Eminência baixou decreto proibindo que os planetas girassem em torno do Sol.
“Caro Rubens, ao ler ‘A Confissão’ de Galileu Galilei e ao me deparar, em seu preâmbulo, com a informação sobre o decreto do Cardeal Bellarmino, fiquei muito preocupado com a possibilidade de uma atitude dessa natureza ser adotada atualmente na nossa pequenina e brava Paraíba”, confidenciou-me o Professor Oliveira.
Não captei de imediato a razão dos temores do festejado guru. Tanto que lhe encaminhei mensagem por i-meio indagando, sinceramente, quem – entre os filhos deste solo – seria capaz de semelhante coisa.
O Professor não arriscou palpite nem nos correspondemos mais sobre o assunto. Mas, se for quem estou pensando, não tem perigo. Asseguro-lhe que o nosso Astro Rei não dispensa de forma alguma o monte de planetóides que gravitam em torno dele.
São esses asteróides que dão sentido à existência e funcionamento do peculiar sistema solar paraibano. É a rotação de todos e de cada asteróide ao redor do nosso Rei Sol que o mantém na posição de centro do universo.