Rubens Nóbrega
Que gente é essa que um dia conquistou meio mundo com aquela conversa de tratar a coisa pública com o maior respeito e hoje, sem a menor cerimônia, coloca a coisa pública a serviço do enriquecimento de particulares?
Que gente é essa que um dia combateu do nosso lado o bom combate em prol dos excluídos, dos oprimidos, dos exilados da cidadania, dos sem terra, dos sem casa, dos sem emprego e hoje se posta ao lado dos sem vergonha?
Que gente é essa que um dia nos convenceu a dar-lhe o nosso voto mais consciente e hoje, muito provavelmente, só conseguiria o voto mais alienado, porque trocado por uma coisa qualquer ou comprado por uns poucos trocados?
Que gente é essa que nos ganhou com a promessa de tomar conta do que é nosso segundo os princípios e valores que nos são mais caros, preciosos mesmo, e hoje ganha para manipular, deturpar, distorcer ou nos enganar, enfim?
Que gente é essa que pregava a transparência e as decisões democratizadas e hoje trata com indiferença quem lhe cobra informações e esclarecimentos, além de decidir com prepotência e impor sua vontade com arrogância?
Que gente é essa que antes jurava cumprir a lei e as sentenças judiciais e hoje se aferra à legalidade mais duvidosa ou conveniente, não hesitando um segundo em sacrificar a moralidade no altar dos interesses pessoais, dos amigos ou sócios?
Que gente é essa que no passado recente parecia dar mesmo prioridade ao que é essencial e verdadeiramente relevante e hoje se enaltece em propaganda paga e cara que lhe engrandece o dom de iludir e a capacidade de fazer maquiagem?
Que gente é essa que não faz tanto tempo assim passava a impressão de gerir com eficiência, zelo e espírito republicano os serviços de que o povo precisa e hoje faz tudo para privatizá-los, só não se sabe se por incompetência ou esperteza?
Que gente é essa que antes pregava o concurso como meio de qualificar o serviço público e hoje incha as folhas salariais suportadas pelo erário com prestadores de serviço que, em sua maioria, só servem a quem lhes presta o favor do emprego?
Que gente é essa que antes planejava a transformação e hoje maquina descaradamente a reprodução, sobretudo dos costumes e práticas do que há de mais retrógrado e de maior responsabilidade por todo o atraso que nos amarra e envergonha?
Que gente é essa que antes parecia procurar fazer o bem a todos e todas, sobretudo às pessoas de bem, e hoje faz o mal sem olhar a quem, sobretudo se o mal pode, em conseqüência, lhe aumentar os bens?
O contrato com a Cruz
Reproduzo após os astericos perguntas que enviei ontem pela manhã ao governador do Estado, com cópia para secretário de Comunicação e Assessoria de Imprensa do Hospital de Trauma.
Dizem respeito ao contrato de terceirização do HT à, supostamente, Cruz Vermelha Brasileira do Rio Grande do Sul. Digo supostamente porque não consegui identificar a identidade da organização social a partir do CNPJ que ela forneceu em nota de esclarecimento sobre o seu registro na Receita Federal.
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Senhores, solicito respostas para as questões abaixo, todas baseadas nas exigências da Lei 9.637/98 (a famosa, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais):
1 – Quem são os representantes do Poder Público e membros da comunidade de notória capacidade profissional e idoneidade moral que participam do órgão colegiado de deliberação superior da CVB-RS? (Esclarecer se esses membros são da Paraíba ou do Rio Grande do Sul).
2 – Que metas e respectivos prazos de execução foram especificados no contrato de gestão com o Governo do Estado para o Hospital de Trauma da Capital?
3 – Que critérios objetivos de avaliação de desempenho bem como seus indicadores de qualidade e produtividade estão sendo utilizados e expressamente previstos no contrato?
4 – Quantos dirigentes e empregados da CVB-RS trabalham no Trauma?
5 – Quanto recebe por mês cada dirigente (especificar por cargo, por favor) da CVB-RS que trabalha no Trauma?
6 – O contrato já tem uma comissão de avaliação designada pelo Governo do Estado e/ou Secretaria de Saúde? (se tem, informar nomes dos componentes)
7 – A CVB-RS já publicou (onde) regulamento próprio contendo os procedimentos para a contratação de obras e serviços bem como para compras com emprego de recursos provenientes do Poder Público?
Solicito ainda cópia do Contrato de Gestão e um esclarecimento: qual o verdadeiro CNPJ da CVB-RS?
Atenciosamente, Rubens Nóbrega, Colunista do JP.