O governador Ricardo Coutinho vai fazer hoje no Trauma de Campina Grande o que deveria ter feito no começo de fevereiro deste ano.
Sim, porque bastaria um mês, 45 dias no máximo, para colocar em funcionamento aquele que é o maior hospital da Paraíba e um dos mais bem equipados do Brasil.
Já no início do ano daria pra ter feito a transposição do pessoal do velho Hospital Regional – cerca de 1.100 funcionários – para o novo HT.
Essa era a única coisa que faltava no hospital inaugurado de verdade em 21 de dezembro de 2010: botar o pessoal pra trabalhar, após o devido treinamento.
Treinamento que poderia ser feito em serviço, aliás, só para não demorar nem parar o atendimento. De quebra, sairia muito mais barato para os cofres públicos.
O resto estava prontinho da Silva no HT, com seus 260 leitos, 60 dos quais em UTI, e todos os equipamentos necessários, financiados com o famoso e tão criticado empréstimo que o Maranhão III tomou no BNDES.
As alegações do Doutor Ricardo e assessores para tentar explicar o atraso no HT são risíveis, de tão facilmente contestáveis que o são.
Vamos considerar, primeiro, o seguinte: quem foi à famosa inauguração de dezembro passado viu que o hospital estava em ordem para receber seus trabalhadores e, na sequência, seus pacientes.
Pode ser que alguém hoje negue, por mau caratismo ou por estar a soldo da nova ordem, mas quem esteve lá naquele 21 de dezembro sabe que não havia razão relevante alguma para tanta demora em abrir os serviços do HT ao público.
O que diz o governo de agora
Nas matérias sobre a inauguração do ano passado está tudo está registrado, filmado, fotografado… Além disso, in loco e ao vivo todos os jornalistas e radialistas presentes receberam as informações e explicações que tiveram oportunidade de pedir e divulgar.
Temos, portanto, parcela considerável da imprensa paraibana como testemunha de que o HT estava no ponto. Porta-vozes e arautos da Nova Paraíba contam outra história sobre o grande hospital de Campina, contudo.
Ontem mesmo li no portal Paraiba.com o secretário Waldson Sousa (Saúde) dizendo que não instalou antes porque não haviam sido concluídas ainda “a parte de nutrição, com cozinha, refeitório, lavanderia, a parte do sistema de gases, a parte elétrica do hospital, precisando de instalação de subestação, a parte de portas e guichês”.
Além disso, disse que o governo passado deixou dívidas pendentes e o atual teve que investir R$ 3 milhões para ajeitar tudo no HT.
Como tais informações não batem com o que eu sabia do assunto, fui tirar a prova dos nove com o Doutor José Maria de França, secretário de Saúde do Maranhão III, um cara no qual acredito porque sei da sua seriedade e capacidade de trabalho.
O que diz quem foi governo
Como não poderia deixar de ser, Zé Maria reagiu com perplexidade às informações divulgadas pela atual gestão. Vejam só o que ele falou.
“Na cozinha faltavam realmente instalar duas coifas, coisa que dá pra fazer em menos de um dia. E as coifas nós deixamos lá, faltando apenas colocar no lugar”, garantiu.
Segundo o ex-secretário, “a parte de nutrição, também, ficou toda pronta, com cinco câmaras frigoríficas funcionando, todas testadas, assim como testamos toda a parte de ar condicionado e, lógico, toda a parte elétrica, inclusive com o suporte de duas subestações que deixamos instaladas”.
E completou: “Tudo o mais igualmente ficou pronto, faltando apenas fazer a transferência do sistema de gás do hospital velho para o novo, o que seria rapidamente providenciado junto à empresa fornecedora”, disse.
Quanto aos R$ 3 milhões (que seriam R$ 3,5 milhões, na verdade), esse dinheiro já estava assegurado junto ao Ministério da Saúde para pagar a uma das construtoras (a que ficou encarregada de finalizar o acabamento).
Queiram ou não Ricardo e os ricardistas, José Maria de França é, de longe, um dos mais preparados secretários de Saúde que já passaram por aquele prédio da Pedro II.
Em matéria de realizações em pedra, cal e equipamentos hospitalares, então, o homem dá de dez em muitos dos seus antecessores ou sucessores.
Particularmente quanto ao HT campinense, junto com Gilson Frade, superintendente da Suplan à época, Zé Maria conseguiu em menos de dois anos agregar carne, músculos, veias e artérias a um verdadeiro esqueleto que recebeu em fevereiro de 2009.
Incompetência ou perversidade?
Por diplomacia ou polidez, Zé Maria não se refere explicitamente ao que encontrou, mas o fato é que quando ele assumiu a Secretaria o HT campinense só tinha paredes sem reboco e a cobertura. Sequer o piso havia implantado.
De uma obra orçada em R$ 120 milhões, o governo de Cássio Cunha Lima havia aplicado pouco mais de R$ 9 milhões.
Com o Estado sob nova direção, foram providenciados todo o acabamento, todo o sistema elétrico e hidráulico, toda a mobília e todos os equipamentos.
Ficou faltando, portanto, como já explicado, apenas transferir o pessoal do hospital velho e treiná-lo no hospital novo.
Coisa que o novo governo deveria ter feito e não fez, por incompetência ou para faturar um feito que não passa de uma etapa posterior e natural de todo o trabalho empreendido pelo governo anterior.
Agora, resta torcer para que a Nova Paraíba dê conta do recado. E confesso que fico um pouco receoso. Não pelos dirigentes e trabalhadores do HT campinense, porque sei que eles podem com esse pote.
Eu tenho medo é do peso dessa rodilha na cabeça ou nos ombros do Doutor Ricardo e sua equipe da saúde.
Afinal, quem adia o funcionamento de um hospital importante e estratégico como aquele só pode ser por incompetência ou perversidade.
Crueldade talvez seja o termo mais adequado, considerando que nos últimos seis meses certamente morreu muita gente que poderia ter sido salva se o HT estivesse em pleno funcionamento.