Quase tudo já está perdido

Gilvan Freire

O governador Ricardo Coutinho está começando a sentir as imensas dificuldades que vem tendo para superar os desgastes causados pelo estilo autoritário e truculento que adotou em seu governo nesses 09 meses do primeiro ano. Obstinado como sempre foi em impor um estilo personalíssimo de administração centralizada e intransigente, sem dar satisfação a ninguém e nem aos outros poderes, RC pensava que podia fazer no Estado o que tinha feito na Prefeitura de João Pessoa durante 07 anos. A situação é totalmente diferente. Enquanto as administrações no Estado e município são de tamanho e complexidade desiguais, em João Pessoa RC governou sem oposição, vez que Cícero, o único grande líder oponente, ficou baleado, até recentemente acuado e politicamente esmorecido para combater os erros administrativos e a qualidade da administração de seu opositor.

Agora, as coisas mudaram muito. RC governa o Estado onde a oposição é grande e tem líderes individualmente maiores que o próprio governante, e, além do mais, RC é um dependente político do maior dos líderes estaduais, o senador Cássio, que aos olhos da população foi quem lhe deu a eleição de governador. De outro lado, a fragilidade política e administrativa de Luciano Agra, o preposto que RC deixou na prefeitura da Capital, somada a uma insatisfação generalizada de setores graúdos da comunidade estadual e local, colocam RC de cócoras diante de sua própria auto-suficiência e arrogância.

Era preciso que RC fosse ingênuo para achar, a essas alturas, que as coisas estão bem, ou que não estejam comprometendo já as mínimas possibilidades de seu governo dar certo. Teimoso, sim, mas ingênuo ele não é. Pois se fosse não estaria cometendo os erros de grande risco que vem cometendo com danos irreversíveis à sua imagem de homem público e militante das causas ideológicas mais à esquerda do espectro político. Quem é ingênuo não comete falhas ideológicas tão grosseiras.

O ERRO ESTÁ NO GOVERNANTE

A pessoas com quem tem ainda um pouco de diálogo, mesmo monossilabicamente, RC reconhece que é centralizador e seco, mas diz, com ar de quem age sempre de forma ditatorial, que ou será esmagado ou esmagará muita gente. Esse viés de estabelecer disputa de vida ou morte, quando deveria distensionar as relações conflituosas internas de uma Paraíba que empobreceu por causa das brigas provincianas de seus líderes, é uma anormalidade patológica que, infelizmente, o povo paraibano terminou por escolher nas urnas quando queria e precisava de líder e ações inteiramente opostos. Assim, no lugar de um governante humano, honesto e consensual, o povo, por causa especialmente de Cássio Cunha Lima e suas idiossincrasias nas disputas com Maranhão, viu-se perplexo diante de um novo ser ainda desconhecido porque não tinha revelado toda a sua incapacidade de promover a paz política no Estado e fazer o bem no lugar do mal.

Hoje, já desmitificado para a maior parte dos paraibanos, RC é apenas uma sombra do que o povo esperava que fosse. Cheio de contradições, deslealdades a seus aliados, perseguições a servidores vulneráveis e a fornecedores do Estado, descomprometido com a moralidade pública, cumpliciado com empresários suspeitos de realizar negócios escusos na área política, desvinculado de seu perfil ideológico anterior, prepotente, inabilidoso na relação com os outros poderosos, RC transforma sua dupla gestão no Estado e na Prefeitura numa ação conjugada de desmandos morais e ilegais. E ainda faz desdém das autoridades e cidadãos que ousem contestar seus erros de conduta.

O CAOS ANTECIPA UM FIM PREMATURO

Aos 18% de seu período governamental, RC está colhendo as tempestades decorrentes dos ventos que plantou. E como os desgastes estão danificando mais diretamente a sua imagem de criatura humana e seu histórico de administrador (consolidada através de uma administração municipal que não teve oposição), é inteiramente possível que não reverta mais. Estamos diante de um caos de muitas e graves consequências para essa pobre Paraíba e sua população. Este é o preço de uma democracia de erros e acertos alternados. E da burrice dos homens.

De tudo, porém, algo preocupa bastante: a disfarçatez com que as administrações de RC (prefeitura e Estado) tratam as denúncias que pipocam cada vez mais. Ao invés de respondê-las e resolvê-las, RC e seus auxiliares inexperientes as ignoram, ou promovem retaliações ou ‘sanções sociais’ aos que denunciam, quando não financiam com dinheiro público a desqualificação (‘campanhas de desprestígio’) até de autoridades categorizadas como a juíza Lúcia Ramalho, o procurador Eduardo Varandas e outros que se oponham à onda de ilegalidade e imoralidade hoje predominantes na PB.

Rubens Nóbrega, no Jornal da Paraíba de 27 e 28/09, trouxe os nomes dos que serão queimados na fogueira dos girassois neoliberais, durante o Guevara III, porque não querem ser coniventes.

Volto ao assunto, com mais nomes, na sexta-feira, à tarde, fazendo também uma análise do fracasso da ‘Missão Cuba’.