Quanto vale uma vida? - Rubens Nóbrega

Tenho muita sorte. Vejam vocês: depois de passar a maior parte do dia de ontem entre a tristeza e a sensação de impotência, tudo por conta das lembranças das cenas e notícias deprimentes da última segunda-feira, no começo da noite abro o meu i-meio e encontro lá mensagem que me devolve à esperança de que nem tudo está perdido e de que não estou pregando sozinho no deserto. Muito pelo contrário.

Realentou-me a alma o texto que reproduzo adiante, da lavra de Flávio Lúcio Vieira, professor universitário top de linha, título de Doutor e tudo o mais, além de meu analista político de cabeceira. Depois de um bom tempo sem honrar o trabalho deste colunista com suas valiosas colaborações, voltou a fazê-lo ontem. Inspirado – disse-me ele – no artigo que escrevi e aqui publiquei na edição dessa terça (31 de maio) sobre a morte de um jovem na porta do Hospital de Trauma da Capital.
Trata-se da morte do motociclista Cristiano Alves Correia, de 25 anos, que sofreu acidente de moto domingo à noite na cidade de Itambé (PE), fronteira com a Paraíba. Ele foi trazido por familiares para João Pessoa, mas aqui encontrou o Trauma sem cirurgiões gerais para atendê-lo. Há dois ou mais dias esses médicos haviam pedido demissão ao governo que lhes pagava os serviços, mas não dialogava nem resolvia e parecia se comprazer em confrontar, afrontar e até humilhar quem apenas pedia de volta o que esse mesmo governo lhes suprimira da remuneração.

Pois bem, sob o título que dá título à coluna de hoje, após os asteriscos deixo vocês com o Professor Doutor Flávio Lúcio. Depois eu volto pra fechar.

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Para responder à pergunta acima, sugiro uma inversão. Ao invés de uma pergunta retórica sobre uma vida abstrata, que tal perguntarmos: quanto vale a minha vida? Quantos reais a mais no contracheque de um médico superaria o dilema ético de deixar-me morrer sem atendimento? Quantos milhões a mais no caixa do governo, provenientes de uma mesquinha e desumana economia de recursos, cuja cegueira e ambição desmedidas impedem o governador e seus auxiliares de verem as vítimas que são deixadas pelo caminho (servidores desempregados, professores sem salário, estudantes sem aula, jovens à mercê da própria sorte morrendo em filas de hospitais sem direito a atendimento) seriam suficientes para justificar que minha vida fosse salva? E se fosse o meu filho ou o filho do governador?
Infelizmente, a morte do jovem que faleceu no domingo passado, vítima dessa junção de deslumbramento com o poder associada a uma concepção que faz da política um vale-tudo para que objetivos sejam cumpridos, em breve será um número a mais num frio relatório. Para o governador, essa morte, que simboliza tantas outras que aconteceram ou que estão por vir, não pode ser transformada em mera estatística; não pode compor um número cuja soma tem um limite que é político, e não ético. Não pode ser puro cálculo.

Se assim for, cabe uma nova pergunta: existiria uma justificativa para tanta frieza? Parafraseando o ex-primeiro ministro da Inglaterra durante a I Guerra Mundial, Lloyd George, se as pessoas (os eleitores) realmente soubessem o que se passa, essa guerra acabaria em um dia. O que está em jogo nessa disputa por recursos? Um desenvolvimento mais humano, orientado para o bem estar das pessoas, ou mais obras de concreto visíveis aos olhos do mundo. Então, é de obras que se trata, e não de vidas? Essa é a tristeza política dos nossos dias.

Enfim, acostumamo-nos de tal maneira a conviver com os problemas da saúde pública – eles afetam a classe média, por acaso? – que isso passou a fazer parte do nosso cotidiano, tornou-se coisa banal. E a morte desse jovem será tragada, não pelos olhos de Capitu, mas pela maré de propaganda de obras resultado dessa economia à custa de tanto sofrimento.

Tomara que isso termine logo e que governador olhe para as pessoas, e menos para a política e para o seu futuro político. Isso evitaria que os panos de descerramento das placas das futuras inaugurações não venham embebidos de tanta tristeza.

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Eu não disse que o cara é bom? Bom só, não. De Flávio Lúcio diria assim o saudoso Luiz Lua Gonzaga: “O homem é bom, o homem é espetacular”.

Show no rádio

Se já era muito bom ouvir Gilvan Freire falar sobre a política da Pequenina nas tribunas, púlpitos, rodas, microfones e câmeras que lhe abrem espaço, muito mais tem sido ler os artigos que ele talentosa e brilhantemente vem escrevendo e generosamente distribuindo aos amigos, via Internet.
Mas ontem, no ‘Polêmica Paraíba’ de Gutemberg Cardoso e Nilvan Ferreira (Paraíba FM 101.7, de João Pessoa), Gilvan se superou. Sua lucidez e verve prodigiosas, sua memória espantosa e velocidade de raciocínio encantaram os ouvintes desse que é, de longe, o mais respeitado e acreditado programa do radiojornalismo paraibano no nobilíssimo horário de meio dia, de segunda a sexta-feira.

Pela qualificação de entrevistados como Gilvan Freire, pela qualidade de seus apresentadores e produtores, o ‘Polêmica’ praticamente consolidou-se como o mais autêntico canal de propagação das mais aflitivas angústias e, ao mesmo tempo, das melhores expectativas do povo paraibano.

Somando ao ‘Paraíba Agora’, apresentado das seis às oito da manhã por Marcelo José e Lenilson Guedes, e à ‘Hora do Rush’, que vai ao ar das seis às sete da noite na mesma emissora, o jornalismo comandado por Gutemberg na Paraíba FM assumiu de vez a irrecusável e irrenunciável missão de fazer a resistência e o contraponto às redes de rádio que o governo Ricardo Coutinho estaria formando em todo o Estado.

Essas redes chapa-branca pretendem, lógico, fazer a propaganda e faturar a propaganda de governo. Não estarão a serviço da verdade, por óbvio, nem da publicidade constitucional dos atos de governo. Estarão a serviço do projeto de poder do Doutor Ricardo e, a exemplo de outros esquemas de promoção governamental e do governante, serão regiamente pagas e sustentadas com o dinheiro do contribuinte.

Bem… É bom parar por aqui. Antes que a tristeza volte e me tire de novo o ânimo de continuar noticiando e avaliando tamanhas infelicidades, coisa que faço na esperança de que isso vai passar, de que um dia isso vai mudar. Apesar do que andam aprontando o governo e o governante que temos.