Quanto mais médicos

Por Rubens Nóbrega

João Costa admirou-se do tamanho da mulher. Ela devia ter o quê? Metro e oitenta? Por aí… Maria do Rosário, coitada, perto dela parecia uma criança de oito anos. As duas estavam na missa, lado a lado, no mesmo banco, na maior contrição. Melhor esperar a bênção final do padre pra saber quem é.

Feito. Depois do ‘Ide em paz…’, João correu para alcançar Maria do Rosário ainda no patamar da Igreja. Mas lá encontrou as duas mulheres ainda juntas e não precisou pedir qualquer informação para matar a curiosidade. Foi logo chamado pela baixinha e apresentado à Doutora Iolanda.

“O João aqui, Doutora, é jornalista famoso lá na Capital”, disse. Aí João derramou-se. Tirou o Panamá da cabeça, levou-o ao peito e se inclinou suavemente para complementar a mesura com um ‘muito prazer’. Mas a Doutora não pareceu muito à vontade, talvez por estar diante de um jornalista e já saber como boa parte da imprensa estava tratando e hostilizando pessoas como ela.

Rosário, percebendo a besteira que fez ao ‘entregar’ logo de saída a profissão do conterrâneo, tratou de tirar a Doutora dali. Despediu-se ligeiro de João Costa, mas deixou convite de almoço na casa dela. O convidado não apenas foi como chegou cedo, comeu feito padre e doutor e conversou um bocado. Principalmente sobre a Doutora. Mas por interesse puramente jornalístico, posso garantir.

– Ela é cubana, João. Veio no programa do governo para tomar conta do PSF aqui do nosso bairro que estava sem médico há mais de dois anos. O povo tá adorando ela. E a bicha é danada, visse? Não se atrasa, atende todo mundo e também bota a turma dos agentes pra trabalhar. Fez até uma escala de visitas a pacientes que não podem vir até o posto. E com ela não essa história não. Tem que ir mesmo, de casa em casa – resumiu a anfitriã.
Entusiasta do programa

João Costa saiu da casa de Rosário pra lá de satisfeito. Com o almoço e o relato sobre a médica. Pois desde o começo apoiou o programa dos médicos de fora com fervor de petista juramentado, mesmo sem ter nada a ver com o partido. E, sempre que pode, na rádio ou no portal onde escreve, ‘desce a macaca’ nos contra.
“Esses médicos, Rubens, não vêm pra cá fazer medicina de rico, medicina de tecnologia, de aparelhos. Eles foram formados e treinados para fazer medicina preventiva de massa, coisa que os cubanos fazem com muita competência em diversos países do planeta”, explicou-me outro dia.


Medo de conscientização?

Naquela mesma ocasião em que conversou comigo sobre o Mais Médicos, João citou o exemplo de um ou uma vindo da Espanha, escalado para atuar em um município do Vale do Mamanguape. O Doutor ou Doutora estaria resolvendo 60 por cento das doenças do povo pobre do pedaço repassando noções de higiene básica, além de insistir para o povo ferver água de beber, usar filtro, essas coisas.
Enquanto isso, no consultório sempre que pode recomenda a seus pacientes que cobrem das autoridades saneamento básico. “Deve ser por isso o medo que esse pessoal tem tanto medo dos médicos importados. Porque, Rubens, além de darem o expediente deles direitinho, de darem conta do recado, de estarem resgatando o sentido original do Programa de Saúde da Família, esses médicos começam a mostrar o quê e o quanto o povo deve cobrar o que é dele por direito”, emendou.

 

Alguns dados vitais

Estudo divulgado no começo do ano pelo próprio Conselho Federal de Medicina (CFM), com base em dados apurados até outubro de 2012, mostrou a seguinte realidade:
• o Brasil chegou a 388.015 médicos, o que dá uma média de dois profissionais por grupo de 1.000 habitantes;
• há uma concentração fantástica de médicos nas grandes cidades, a exemplo de João Pessoa, que fica com 70% de todos os médicos em atuação na Paraíba;
• a propósito, João Pessoa tem 5,22 por mil habitantes, enquanto no interior a média não passa de 0,46 (menos de meio médico) para cada mil pessoas.
De sua parte, a Organização Mundial de Saúde (OMS) também divulgou estudo, só que em maio passado, mostrando que o Brasil tem pouco mais de 1,76 médico por mil habitantes. É o pior entre os países emergentes (que na média tem 1,78 por mil). Já em relação à Paraíba, pode-se dizer que o estudo da OMS nos coloca no mesmo patamar que o Iraque, Vietnã e Guatemala. E ainda tem gente…


Choro e ranger de dentes

Apesar dos números mostrados no tópico anterior, quando o governo anunciou o Mais Médicos o CFM montou uma guerrilha de resistência, esbravejou, esticou a corda até não poder mais e por muito pouco não sofreu uma intervenção branca. Hoje, o Conselho está mais ‘calmo’ e parece meio conformado, mas no comum dos mortais subsistem alguns contra, entre os quais aqueles que espumam de ódio porque o Brasil importou médicos, principalmente de Cuba. Aí é que eles choram e rangem os dentes com tanta força e raiva que daqui a pouco a Presidente Dilma vai ter que criar o Programa Mais Dentistas pra livrar esse povo de ficar banguelo ou de boca murcha.