Quando as palavras demoralizam os homens

Gilvan Freire

Um dos maiores problemas dos lideres políticos, nesses novos tempos em que a atividade promiscuiu-se muito e não tem mais os princípios de honras antes exigidos dos homens públicos, é como conciliar o que os políticos estão cada vez mais fazendo com o que o povo gostaria mais que fizessem. Mesmo assim, isso parece muito contraditório, porque o eleitor, ao votar, não procura escolher dentre os candidatos aqueles que demonstrem agir de conformidade com os critérios morais mais defendidos por ele próprio, eleitor.

De tanto esperar e cobrar interiormente pela mudança dos costumes deteriorados, o povo vai ficando calejado, embora, segundo pesquisas de opinião pública, nem de longe esteja satisfeito com os desvios de conduta que permeiam o setor político nos últimos anos.

Conceitualmente, se para os políticos profissionais uma eleição, hoje, significa ter de compor vários quilos de votos para apurar apenas mil gramas, por causa da inconfiabilidade do eleitor, para o povo também serão necessários os mesmos quilogramas de líderes para pesar menos grama ainda. É uma espécie de falência moral consensual em que ninguém contribui de um lado para melhorar o outro.

Mas, de forma surpreendente, observa-se que o povo, mesmo não fazendo de forma correta a sua parte no processo e se omitindo quando chega a melhor hora de intervir(nas eleições), está sempre a procura de um líder que tenha as antigas qualidades exigidas, especialmente a palavra e a honra da palavra, duas virtudes decadentes na política que continuam tendo bom uso noutros setores da atividade humana.

É uma crise sem solução aparente, pois o povo quer lideres com palavra, mas escolhe quem não a tem. Ou até mesmo dispensam seus líderes de tê-la.

SEM PALAVRA E HONRA NÃO HÁ LÍDERES

Na política quanto no amor, em que via de regra as palavras desonram as promessas, a traição é a consequência mais previsível e chega antes que males piores aconteçam. Em sentido contrário, quando a palavra é veraz e faz parte dos pactos e dos compromissos entre os homens, seja na política ou nos negócios, ou no amor entre homens e mulheres e seus derivados afetivos, há equilíbrio, segurança, confiança e respeito. Há honorabilidade, uma qualidade humana que empresta às pessoas a condição de correto, ou o que se chama de ‘homem de bem’, padrão de decência que transforma as pessoas em referenciais. É uma adjetivação de duplo sexo que tem garantido às mulheres melhor e mais duradoura fama que aos homens, porque elas parecem mais zelosas com relação à sua honra.

Esse descaso entre a palavra e a honra, em tese, não se aplicaria ao governador Ricardo Coutinho, que se fez líder projetando a imagem de um ‘homem decente’, só porque a sua palavra parecia está acima dos políticos tradicionais. Se bem que, na prefeitura de João Pessoa, RC foi variando tanto entre a palavra proferida e a realizada – coisa de quem ainda não tem personalidade definida – que, ao final, o que sobrou do homem e da palavra já estava por menos da metade. E, ainda assim, ele não era dos piores.

No governo do estado, porém, Ricardo perdeu o que sobrou da prefeitura e deixa, sem demonstrar preocupação, que sua palavra – que há de ter necessariamente a honra pelo menos do cargo – vire fumaça. Quando isso acontece, os homens e sua honra viram fumaça também.

A decisão do Tribunal de Contas dessa última semana reduziu a palavra de RC a vento, no que eram suas alegações contra o governo anterior, ao qual culpava pelos fracassos do atual. Setores da imprensa livre e lideranças dos servidores vinham acusando o governo de RC de distorcer dados e manipular informações para confundir o povo. O TCE agora passou o atestado mais devastador da imagem pública da gestão atual e desmentiu RC e seus asseclas, que engendraram uma maquina fraudulenta de mentir à população. Quando as esperanças depositadas na honra dos políticos ruem, é como se todos afundassem num poço de lama, se por outras razões na lama já não estiverem.

Saiba, no próximo artigo, como é realizado o calvário da palavra e da honra da palavra dos que perderam o puder para salvar o poder.