PT prioriza Dilma em 2014 e cede nos Estados

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Nonato Guedes, com agências

O deputado estadual Frei Anastácio Ribeiro, do PT, não está na contramão dos fatos quando sugere que o partido abra mão de lançar candidatura ao governo na Paraíba, podendo investir, se for o caso, numa candidatura ao Senado. Uma matéria do jornal “O Globo” ressalta que a prioridade do PT nacional é reeleger a presidente Dilma Rousseff e ampliar a bancada no Congresso, apoiando candidatos aliados aos governos em palanques regionais. A única exceção é o Rio de Janeiro, onde o senador Lindbergh Farias (natural de João Pessoa) tem o aval da cúpula nacional para concorrer contra Luiz Fernando Pezão, do PMDB. Circularam versões de que Lindbergh teria ameaçado migrar para o PSB a fim de manter a candidatura se fosse rifado no PT. De concreto, o parlamentar ficou lisonjeado com as palavras do ex-presidente Lula, que em entrevista ao “Valor Econômico” definiu Lindbergh como um “encantador de serpentes” na política.

O “Globo” revela que além da prioridade máxima – reeleger Dilma – a meta do PT para as eleições do ano que vem é eleger mais de cem deputados federais e aumentar a bancada de senadores de 12 para 20. Na Câmara, atualmente, são 88 os deputados petistas. Quanto aos governos estaduais, a orientação é abrir mão de candidatura própria para apoiar aliados, onde o partido não tiver nomes fortes, em troca de apoio na eleição presidencial. As discussões podem se tornar renhidas no PT paraibano se for defendida a tese de aliança com o PSB em apoio à candidatura do governador Ricardo Coutinho à reeleição. Um grupo expressivo, capitaneado pelo prefeito da capital, Luciano Cartaxo, e pelo deputado Anísio Maia, repele com veemência a hipótese. Mas petistas estão de sobreaviso diante dos entendimentos a nível nacional para convencer o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a não entrar no páreo presidencial, o que retiraria votos da presidente no Nordeste.

Na prática, o Partido dos Trabalhadores tende a dar continuidade à estratégia adotada desde 2006, na campanha de reeleição de Lula no rastro do escândalo do mensalão: priorizar a disputa presidencial e deixar em segundo plano as disputas estaduais. Isso deve acontecer, por exemplo, no Ceará, onde o PT pretende apoiar o senador Eunício Oliveira (PMDB) para governador, e no Amazonas, onde o apoio vai para o líder governista no Senado, Eduardo Braga, do PMDB. Nesse meio de campo, uma alternativa para o PT paraibano seria apoiar a candidatura de Veneziano Vital do Rego, do PMDB. Mas líderes influentes da legenda no Estado vinham se distanciando da cúpula peemedebista e investindo numa aliança com o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, do PP, cuja irmã, a deputada estadual Daniella, também é cogitada para compor chapa majoritária, possivelmente ocupando a vaga de vice. Quanto à candidatura própria do PT ao Senado, pela Paraíba, há muitas especulações e nenhuma certeza, a não ser a de que dificilmente o deputado federal Luiz Couto terá chances de concorrer à vaga majoritária.

As fontes de “O Globo” ressaltam que para não ficar totalmente dependente dos mesmos aliados no plano nacional, no Congresso, o PT investirá na campanha de deputados e senadores, visando fornecer uma sustentação mais folgada a um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff. Para diminuir essa dependência dos aliados, a estratégia consistiria em manter-se como a maior bancada na Câmara e tornar-se a maior no Senado. Se for bem sucedido, o PT poderia, então, ter a presidência das duas Casas a partir de 2015. Atualmente, o PMDB é quem controla as direções de Senado e Câmara, com Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves.

Debate com Falcão

Apurou-se que na reunião da semana passada entre o presidente nacional Rui Falcão e os presidentes regionais do PT, foi discutida a conjuntura nacional e submetidos a avaliação os cenários estaduais. Apesar de estarem preocupados com a movimentação do virtual candidato do PSB, Eduardo Campos, e com a simpatia do empresariado por ele, os petistas chegaram à conclusão de que ele não deverá ter palanques fortes nos principais colégios eleitorais: São Paulo, Belo Horizonte e Rio. Em relação ao senador Aécio Neves, do PSDB, os petistas apostam que, considerando o cenário atual, ele não conseguirá unir seu partido, o que, na avaliação deles, prejudicará sua campanha. E se deleitam com as “cotoveladas” trocadas entre o mineiro e o ex-governador de São Paulo, José Serra, que, de acordo com rumores, estaria sendo induzido a trocar o PSDB pelo PPS para disputar o governo paulista, apoiando Eduardo Campos a presidente da República.

Já a análise feita pelos petistas sobre a ex-senadora Marina Silva é que seu projeto de criar um novo partido, a Rede, está pouco consolidado. Os petistas acreditam que sua organização é muito frágil e atribuem o segundo lugar de Marina nas pesquisas para 2014 ao recall das eleições de 2010, quando ela teve cerca de 20 milhões de votos para presidente. A ex-senadora aparece com 16% em pesquisa Datafolha divulgada no último dia 23 de março. Nos Estados, há preocupação no PT com governos comandados atualmente pelo partido. É o caso, por exemplo, do Rio Grande do Sul, onde o governador Tarso Genro disputará a reeleição. Sua administração tem sido mal avaliada devido a problemas nas finanças do Estado, de Segurança Pública e desgaste com os professores, que não estão recebendo o piso nacional do magistério. Também há desgastes nas administrações petistas de Jaques Wagner, na Bahia, que não pode mais disputar a reeleição, e Agnelo Queiroz, que está no primeiro mandato no Distrito Federal, e tem uma reeleição difícil. Nesses lugares, a estratégia maior é no sentido de montar um palanque para Dilma, mesmo que não haja chance real de vitória local para a agremiação.

Uma exceção na política de agradar os aliados, priorizando a reeleição, deverá ser o Rio, confirma “O Globo”. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) será candidato a governador, contrariando o PMDB, que lançará o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Dirigentes nacionais do PT afirmam que já não têm como impedir a candidatura de Lindbergh, uma vez que o PT do Rio abriu mão de concorrer, para apoiar o PMDB, nas duas últimas eleições para governador. E, como o petista aparece na frente de Pezão nas pesquisas, não há argumento para implodir sua candidatura. O esforço será para que a disputa não deixe seqüelas. No caso de São Paulo, o ex-presidente Lula defende que o PT abra mão da cabeça de chapa para apoiar um eventual nome de outro partido, como o PMDB, que agregue mais apoios do que um petista. Mas essa saída encontra forte resistência no PT, e o PMDB ainda não tem candidato com um perfil forte. Em Minas, o PT lançará para o governo o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento). Com a candidatura de Aécio Neves à presidência da República, o PT está otimista quanto às chances de vitória, já que o PSDB não tem um nome forte para a disputa. O governador Antonio Anastásia (PSDB) já foi reeleito e não pode disputar de novo. Enfim, a provável candidatura presidencial de Eduardo Campos deve bagunçar um pouco a formação dos palanques de Dilma em alguns estados. Em Pernambuco, onde o PT e PSB eram aliados até as eleições municipais do ano passado, os petistas lançarão um nome só para garantir um palanque para Dilma. A engenharia mais difícil será no Ceará, onde PT, PMDB e PSB discutem a formação de uma chapa com Eunício Oliveira na cabeça. O problema é que os irmãos Gomes – governador Cid e o ex-ministro Ciro- ambos do PSB, já declararam que apóiam a reeleição de Dilma, a despeito das pretensões eleitorais de Eduardo Campos.