O PSB deu ontem o primeiro passo oficial para escolher Marina Silva substituta de Eduardo Campos na corrida presidencial. Seu presidente, Roberto Amaral, divulgou nota dizendo que foi aberto “processo de consultas visando a construção de alternativa política consensual a ser adotada pela Executiva” do partido.
A nota termina com a frase dita por Eduardo Campos, estampada em todas as camisetas utilizadas nos últimos dias por seus aliados, “não vamos desistir do Brasil”.
Segundo o texto, o ex-candidato do PSB “nos legou o dever de tornar realidade sua luta, que é a de todos nós: construir um Brasil próspero e justo”.
O documento foi distribuído pouco antes do enterro de Eduardo Campos, ontem, às vésperas da reunião agendada para quarta-feira (20), quando não só será oficializada a candidatura de Marina como deve ser escolhido seu vice.O mais cotado é o deputado Beto Albuquerque (RS), próximo a Eduardo Campos. A decisão, entretanto, passará pelo crivo da viúva Renata Campos.
Seu nome também é citado como uma das possíveis candidatas a vice. Inicialmente, foi dito que, por ser funcionária pública e não ter se licenciado do cargo, ela estaria impedida. Aliados dela disseram, porém, que Renata está afastada do trabalho legalmente desde que saiu de licença maternidade para ter o quinto filho.
O irmão de Eduardo Campos, Antônio Campos, sugeriu na tarde de ontem que a família Arraes não vai deixar a política. Ele disse que torce para que seu sobrinho João -filho mais velho de Eduardo- ingresse na política e assegurou que sua cunhada Renata não deve aceitar, neste momento, qualquer proposta para ser candidata.
“Isso não foi colocado agora. Renata está priorizando a criação dos filhos, mas ela é quadro político importante, fez política com Eduardo também, e foi uma valorosa companheira do meu irmão”, disse.
Hoje, Renata deve se reunir com as principais lideranças partidárias que compõem a aliança da Frente Popular em Pernambuco para pedir comprometimento com os ideias do marido.
Lula e Dilma participam do velório em Recife
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram vaiados na manhã de ontem ao chegarem ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, para o velório de Eduardo Campos, que se tornou adversário dos dois no ano passado, quando decidiu disputar a Presidência.
Eles chegaram por pouco antes das 10h. Lula chorou na chegada, abraçou um dos filhos de Eduardo Campos, conversou longamente com Renata, viúva de Campos, e ficou atrás do prefeito do Recife, Geraldo Julio.
Após as vaias, alguém puxou aplausos e o público acompanhou. Pessoas na plateia gritaram o nome de Campos.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o ex-ministro da Saúde de Dilma e candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, e o ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante estavam com a presidente e o ex-presidente.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), o ex-governador José Serra (PSDB-SP) e o senador Aécio Neves (MG), candidato tucano à Presidência participaram do velório. Além deles, acompanham a cerimônia os governadores Jaques Wagner (PT-BA), Agnelo Queiroz (PT-DF), Renato Casagrante (PSB-ES), Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), a ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos), o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, os senadores Armando Monteiro (PTB-PE) e Eunício Oliveira (PMDB-CE).
O pastor Everaldo, candidato à Presidência pelo PSC, a coordenadora do programa de governo de Marina, Neca Setúbal, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT) participam da missa campal.
Despedida vira ato político pró Marina
A despedida do ex-governador Eduardo Campos ontem ganhou ares de ato político com distribuição de bandeiras, jingles executados em carros de som, banners em postes, vaias e gritos de “Fora, Dilma!”, “Fora, PT!” e “Marina presidente!”.
Velório e enterro aconteceram quatro dias após a morte de Campos, quatro assessores -o jornalista Carlos Percol, o fotógrafo Alexandre Severo, o cinegrafista Marcelo Lyra e o assessor Pedro Valadares- o piloto Marcos Martins e o copiloto Geraldo Magela Barbosa da Cunha.
As pessoas começaram a chegar ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, já na manhã de sábado. Algumas caravanas vieram do interior. Os caixões com os restos mortais de Campos, Percol e Severo chegaram por volta das 2h.
A cerimônia reuniu 160 mil pessoas, segundo o governo de Pernambuco, 100 mil apenas durante a 1 hora e 40 minutos de missa campal celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. Coberto com as bandeiras do Brasil, de Pernambuco e do PSB, o caixão de Campos foi rodeado por familiares, amigos, artistas e políticos. Admiradores esperavam por três horas em uma fila quilométrica para passar diante das urnas fúnebres. A maioria estava emocionada e muitos fizeram fotos e vídeos.
Marina Silva, que com a morte do ex-governador assume a disputa presidencial pelo PSB, ficou ao lado da viúva Renata e dos cinco filhos do casal durante quase todo o tempo entre o início da noite de sábado e o sepultamento, às 18h38 de domingo.Ela foi recebida por um grito de guerra antes dito com o nome Eduardo: “Brasil, pra frente! Marina presidente!”.
Renata e a mãe de Campos, a ministra do TCU (Tribunal de Contas da União) Ana Arraes, foram saudadas e retribuíram com acenos e beijos de cima do caminhão dos Bombeiros que levou o corpo do ex-governador em cortejo.
Em certo momento, os filhos de Campos mostraram quatro dedos da mão e gritaram “Quarenta! Quarenta!”, número do PSB.
Os pouco mais de dois quilômetros de cortejo entre a sede do governo e o cemitério tiveram ruas tomadas. Nas janelas dos prédios, panos pretos e bandeiras do partido.Carros de som tocavam o jingle de Campos na campanha de reeleição em 2010 e o da presidencial deste ano.
Banners com o rosto do ex-governador e frases como “Suas ideias permanecem vivas em cada um de nós” foram afixados em postes. Na chegada ao cemitério, uma multidão já aguardava do lado de dentro. Muitos não conseguiram entrar. Emocionados, Renata e os filhos beijaram o caixão e depositaram um chapéu de palha sobre ele. Sob aplausos e 20 minutos de fogos de artifício, Campos foi sepultado.
Correio da Paraíba