PRUDENTE, LUCIANO JOGA “GO” ENQUANTO OS OUTROS JOGAM XADREZ.
Por Rômulo Oliveira*
A grande maioria de nós foi aconselhada na adolescência a aprender jogar xadrez. Seja na escola ou em casa, o ensinamento era o de que ao dominar o jogo, se dominaria também a arte da estratégia que serviria para a vida, negócios e política. Poucos de nós, entretanto, ouviu falar sobre um milenar jogo de tabuleiro oriental chamado “Go”.
O Go é um jogo de cerco e território, de regras muitos simples e acessíveis a todas as idades. Começa com o tabuleiro retangular vazio, habitualmente com 19×19 intercepções. É jogado com pedras pretas e brancas. Cada jogador coloca alternadamente uma pedra numa intercepção, tentando cercar território do outro. As pedras permanecem no tabuleiro, na mesma posição onde foram colocadas, a não ser que venham a ser, por sua vez, cercadas e capturadas. Vence quem conseguir dominar uma maior área do tabuleiro.
A sua origem permanece incerta e é rodeada por vários mitos. Entre eles, há um que afirma que o general Sun-Tsu jogava Go enquanto escrevia a “Arte da Guerra”, dada a natureza filosófica e estratégica do jogo. Na China antiga, das quatro grandes artes – Go, Poesia, Guquin (um instrumento de corda) e a caligrafia – o Go, apesar da sua aparente simplicidade, era considerada a mais difícil de apreender, compreender e dominar.
Ao avaliar as últimas mexidas do prefeito Luciano Cartaxo no tabuleiro da oposição, destacadamente após seu declínio na postulação ao cargo de governador, não é difícil admitir que o alcaide tenha preferido o jogo de Go ao convencional xadrez.
Explico.
O interesse em entrar na disputa estadual – tragado pela vaidade da oposição – foi seu primeiro movimento; na sequência disto veio à desistência, o segundo movimento. Até aqui era xadrez que se jogava. Com o jogo zerado, a partir de então, Luciano percebeu que era hora jogar outro jogo, e não hesitou: saiu do PSD, se filiando ao PV e desde então monitora a repercussão do lançamento da pré-candidatura do seu irmão, Lucélio, ao governo por setores do seu grupo. Atingindo a oposição de dentro pra fora por todos os flancos possíveis.
Trocando em miúdos, cada vez que Luciano mexe em uma pedra do seu jogo ele cerca o território da oposição (principalmente do PSDB) empurrando quaisquer pretensões – que não as dele – contra o canto do tabuleiro.
O novo plano tático do prefeito da Capital é uma resposta legítima ao comportamento dos seus “aliados” em relação a sua postulação inicial. A desistência de Romero, por exemplo, reforça a tese defendida por alguns de que Cartaxo teve sua candidatura fritada. Nesse sentido, o dito Plano “P”, na verdade, não seria uma saída de última hora, mas a estratégia inicial do clã Cunha Lima, em que pese os esforços do senador Cássio para não aparecer publicamente à frente dessa manobra – pelo menos até agora.
Para o grupo do senador, a candidatura do deputado Pedro atenderia a dois objetivos práticos: isolaria o grupo Ribeiro, não abrindo o espaço na prefeitura de Campina Grande para o vice, já que sabem que os aliados de hoje serão adversários em 2020; e o segundo seria tentar renovar a “marca” Cunha Lima, tão desgastada nos últimos tempos, acumulando uma cassação em 2009, uma derrota em 2014 e a linha de frente de um golpe em 2016, como é dito por alguns.
Paralelo isso, Luciano, em mais um movimento certeiro, avança nas tratativas para consolidar a candidatura de Lucélio como candidato da oposição. Pois sabe que o PSDB – por uma questão lógica – depende do seu apoio para reeleger sua da maior liderança ao senado. De modo que, ou assume seu candidato ao governo ou verá uma nova força se estabelecer no cenário paraibano em voo solo; restando para si um apoio constrangedor a candidatura de José Maranhão. Isso tudo em se falando de cenários prováveis, já que o pior para os tucanos seria ver Luciano e toda sua estrutura política ao lado de Ricardo Coutinho. Algo que, apesar de improvável, geraria em 2018, um estrago muito maior do que em 2014.
No tabuleiro da oposição, em menos dois meses, Luciano passou de pré-candidato ao governo subordinado para jogador essencial, já que dele depende a sobrevivência política de gente graúda…
Para quem caminha no terreno da política saber cultivar a dependência é uma arte essencial, assim já nos ensinava Baltasar Gracián em “A Arte da Prudência”: (…) A lição mais importante que a experiência ensina é conservar a dependência, e nutri-la sem satisfazê-la, mesmo diante de um rei. Mas não chegue a extremos, calando para que os outros errem ou tornando o mal incurável em proveito próprio”.
Prudente, Luciano controla os seus movimentos jogando num tabuleiro de Go, enquanto os outros perdem o sono jogando num xadrez previsível.
*Advogado
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Rômulo Oliveira