Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e roxo. As cores da bandeira LGBT desfilaram por Moscou durante a Copa do Mundo sem levantar suspeitas. Foram disfarçadas em camisas de futebol.
Um protesto idealizado para driblar as leis russas que reprimem manifestações homossexuais levou seis ativistas de países diferentes para passear pela capital usando camisas de suas seleções. Dispostos em ordem, os uniformes da Espanha, Holanda, Brasil, México, Argentina e Colômbia formavam a bandeira do arco-íris.
Em vigor desde 2013, a lei antipropaganda LGBT prevê multa e prisão para quem promove e distribui materiais de apoio às “relações afetivas não tradicionais” perto de crianças. Atos de violência homofóbica são comuns no país.
O protesto disfarçado foi batizado de “The Hidden Flag” (a bandeira escondida) e organizado pela Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Trans e Bissexuais (FELGTB) da Espanha. Por segurança, as fotos e os vídeos só foram ao ar depois que a equipe já tinha saído da Rússia, no último dia 6.
Durante a ação, ninguém percebeu o que era, conta Eloi Pierozan Jr., 32, o brasileiro do grupo. “Fomos a lugares turísticos, ao metrô, vimos jogo em um bar. As pessoas achavam que éramos apenas amigos fazendo fotos. Recebemos muito carinho, inclusive dos russos”, conta.
Eloi mora em Amsterdã e foi convidado para a viagem por uma conhecida.
“Não gosto de futebol, fui por causa do projeto. Os olhos do mundo estão todos na Rússia. Adorei a ideia de protestar de forma pacífica e criativa”, afirma.
O único momento em que ficou tenso, diz, foi nas fotos ao lado de policiais que encontravam pelas ruas – escolha proposital, para gerar contraste nas imagens.
“Fui sem medo, de coração aberto. Já meu namorado e minha mãe ficaram receosos de que eu fosse preso ou sofresse violência”, diz.
Natural de uma pequena cidade gaúcha, Eloi se assumiu gay aos 21 anos.
“Sempre fui ativista no meu pequeno círculo, com a família, no trabalho”, conta, acrescentando que a repercussão da ação em Moscou foi maior do que esperava. “O mundo inteiro está compartilhando, e muita gente veio me procurar, inclusive jovens gays da Rússia, agradecendo por termos feito isso”.
A Fifa e o COL (Comitê Organizador Local) prometeram que, durante a Copa, torcedores que quisessem exibir símbolos LGBT em estádios não iriam sofrer punições. Mas ONGs internacionais pediram cautela, e o Itamaraty recomendou que torcedores brasileiros evitassem “demonstrações homoafetivas em ambientes públicos”.
“A promessa da Fifa incluía os estádios, mas não mencionava outros locais públicos”, diz Sarah Okrent, diretora de comunicações da LOLA MullenLowe, agência que criou a campanha a pedido da FELGBT.
“Quando a lei antipropaganda LGBT foi aprovada, a sociedade russa apoiou em peso. Nosso medo não era só do governo, era das pessoas nas ruas.”
Segundo Okrent, alguns participantes foram substituídos porque desistiram de ir após conversar com familiares.
“Todos os que foram estavam cientes de que havia algum risco. Felizmente correu tudo bem.”
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão