Profissões Extintas

Bruno Filho

Parei para pensar recentemente nas profissões que conheci no meu tempo de criança e que hoje, dado ao avanço tecnológico e as facilidades de crédito, estão praticamente extintas do cenário que convivemos e para alguns jovens são totalmente desconhecidas , estão descartadas do cotidiano.Profissões inclusive que são próprias dos imigrantes que vieram para cá atrás de trabalho no começo do século passado.

Uma delas é a profissão de sapateiro.Hoje em dia você, por exemplo, ouve alguém falar que vai colocar “meia-sola” em um sapato ? Coisa que no passado era corriqueira demais, e que virou até frase de comparações usadas ironicamente, tipo…”fulano ou fulana, ainda dá uma “meia -sola”…”no mínimo uma incoveniência. Com o uso de borrachas ultra-resistentes, a troca de salto então, ficou quase impossível.

O sapato virou mesmo objeto descartável.O preço adequou-se ao custo de vida, então para a maioria, é melhor comprar um outro par do que investir na reforma.As mulheres ainda utilizam os sapateiros para trocar o famoso “saltinho”, quando gostam muito de um “scarpin” por exemplo.Junto com os sapateiros, estão sendo exterminados os exgraxates.Em menor escala é verdade, mas estão diminuindo assustadoramente.

Outra profissão que quase não existe mais.Os homens que trabalham com forração de sofás e cadeiras.Antigamente, fazia parte dos planos trocar o tecido dos sofás a cada ano, mudando os padrões e até os estilos do móvel.Hoje em dia,crédito facilitado e as pessoas trocam logo esse tipo de móvel de uma vez, e cansamos de ver sofás e cadeiras despejados pela rua ou em terrenos baldios.

Se formos pensar, existem tantas outras, que eu gostaria de elencar,mas que não vem ao caso.O objeto deste comentário é mostrar como em alguns anos o mundo muda rapidamente,as novas vertentes aparecem, e as profissões que passavam de pai para filho, principalmente as de prestação de serviços, quase tem sua vida encerrada para sempre.

Outra profissão que ficou apenas para ilustrar histórias, embora tenha em alguns casos, mudado de nome. Vou me referir especificamente aquela que foi a de muitos imigrantes italianos, inclusive de meu saudoso avô José Bruno quando chegou por aqui vindo da Itália.Essa realmente vinha de bisavô, e atravessava 4 gerações, no mínimo, com sua arte.

O alfaiate… muitas crianças nem sabem do que se trata,e quando digo crianças acrescente também os adolescentes.Aquele senhor, aonde você levava um “corte” de tecidos, e pedia que ele fizesse uma calça, ou um terno.A pergunta sempre pertinente naquele momento era…quanto custava o “feitio”.Somava-se o preço deste com o tecido e ai tinhamos o preço final.

Verdade que ainda existem os alfaiates de confiança.Muita gente ainda faz calças e ternos, mas mudou de patamar.Hoje tornou-se tão raro como caro, e o nome também mudou.Hoje são os estilistas, ou então “personal designer”.Mas, longe do velho alfaiate, que na maioria das vezes tinha sua oficina na sala principal de sua própria casa e atendia gente de todas as classes sociais.

Saudade é tipicamente inerente aos homens emocionais, e eu sou um deles, mas não vivo no passado, apenas me lembro.E isso não é pecado e nem castigo.Antes que eu me esqueça,uma profissão que não se extinguiu, mas cujo formato de atendimento mudou e muito.Falo de um caso típico…não existe mais o “médico de família”, aquele senhor que antes de qualquer coisa transmitia confiança.

Este, entendia de tudo, desde dor de garganta,dor de barriga,dor de cabeça, qualquer tipo de febre ,vermes,crescimento ou não de pêlos pelo corpo, e outros inúmeros assuntos.O que ele dizia era uma lei que deveria ser imediatamente cumprida.Hoje, existe uma triagem para saber aonde é a dor,quando ela surgiu e mais dezenas de perguntas, e aí sim se tenta encaminhar o paciente, que na maioria das vêzes não consegue ser atendido.Sinal dos tempos !

Bruno Filho,jornalista e radialista,que fêz muita calça com barra italiana em alfaiate.E que chama médico de “Tio”.

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