Privilégio: Eu vi o Maior de Todos ( Parte III )

Bruno Filho

Recentemente escrevi sobre o paraibano Togo Renan Soares, nosso “Kanela”, o maior treinador de basquete brasileiro de todos os tempos. Bi-campeão Mundial e medalhista Olímpico, além de ter feito escola no País revelando para as quadras os maiores jogadores da modalidade.

Não poderia deixar de escrever nesta série então sobre o esporte da cesta que já me proporcionou grandes alegrias e que conheci de perto, já que acompanhando meu saudoso pai estive jogos memoráveis protagonizados por equipes paulistas e pela Seleção Brasileira.

Volto ao ano de 1964. Com 7 anos recem-completados estou no Ginásio do Parque São Jorge, recebendo mais de 10 mil pessoas para uma partida entre Corinthians e Real Madrid, o campeão europeu recheado de americanos em suas fileiras. Sempre foi um clube rico.

A regra ainda não havia mudado naquela ocasião e só valiam cestas de 2 pontos. Pouquíssimo se via de placares centenários como acontece normalmente hoje em dia. Foi a primeira vez que aconteceu, e dos dois lados. O Corinthians ganhou por 118 a 109, um recorde inesquecível.

Poucas vezes eu vi tanta vibração de uma torcida, que com tanto barulho no Ginásio tornou o ambiente ensudercedor. Eram jogadas rápidas dos dois lados com arremessos certeiros e aquela movintação fazia com que brilhassem meus olhos espantados.

O Corinthians tinha Vlamir Marques, hoje comentarista da ESPN, o maior jogador de basquete de todos os tempos até o surgimento de Oscar, ao lado de Amauri Passos o único atleta que conheci que fazia de tudo, jogava basquete, futebol, volei, tenis com a mesma categoria.

Ao lado deles Ubiratan Maciel, o Bira, pivô altamente técnico, e seu companheiro Rosa Branca, ambos já nos deixaram e são falecidos. Um baiano, coadjuvante de luxo completava o quinteto, era Mical. Um time dos sonhos. Imaginem uma equipe de basquete empurrada por uma torcida de futebol e jogando em casa, imbatível.

Claro que vi outras façanhas ao longo da minha vida, como a vitória brasileira no Pan-Americano de Indianápolis contra os americanos donos da casa em 1987. Insuperável. Mas este dia do qual escrevo nunca mais vou esquecer. Habita minha mente com tanta força que sou capaz de escutar o som das bolas caindo na redinha mesmo com aquele estrondoso barulho.

E ainda ouço a voz do meu velho pai com o microfone da Panamericana gritando a frase… “De chuáaaaaaaaaaaa !…” referindo-se para quem não sabe, aquelas bolas que caem sem tocar no aro. Uma lembrança boa do então segundo esporte da preferência nacional.

Essa minha geração viu cada coisa inacreditável, uma pena que a memória seja curta e hoje não existam mais os clubes tradicionais com equipes de basquete. São empresas jogando contra empresas, parece até campeonato do SESI ou do SESC com todo o respeito.

Bruno Filho, jornalista e radialista, Vlamir foi o “Garrincha” das quadras.

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