As aparências enganam
A vida desse paulistano de 55 anos, filho de uma família de classe média (o pai foi executivo de uma multinacional), graduado e mestre pela USP e doutor em Direito das Relações Sociais pela Federal do Paraná, é uma história de provações. Nasceu prematuro, aos seis meses de gestação. Sobreviveu, mas as sequelas deixaram marcas. Uma paralisia cerebral afetou as pernas e os braços. Deu os primeiros passos aos 3 anos, após delicada cirurgia. Os movimentos dos braços desenvolveram-se por causa de uma intensa e contínua fisioterapia. Uma diplegia o obriga a caminhar com dificuldade.
Desde a infância teve a visão reduzida. O aprendizado escolar exigia o reforço da mãe em casa. “Não enxergava os exercícios na lousa. Matérias que precisavam usar o quadro-negro, como matemática, eram muito difíceis de aprender. As demais eu prestava muita atenção para fazer as provas.” Os professores insistiam: Fonseca deveria ser transferido para o Instituto de Cegos Padre Chico, tradicional escola paulistana que atende crianças deficientes visuais ou com baixa visão. A família não aceitou e o filho retribuiu. O futuro juiz estudou em escolas regulares e se empenhou em levar uma vida normal. “Descobri muito cedo que precisava superar a falta da visão. Participava das brincadeiras na hora do recreio, discutia e brigava como qualquer garoto. Apanhei e bati, mas sempre reagi ao que a vida me impôs. Nunca acreditei nem aceitei quando me diziam não.”