Primeiro desembargador cego do Brasil, Ricardo Fonseca supera os preconceito

As aparências enganam

Ricardo Fonseca
Sobre a mesa de trabalho, papéis, livros e um retrato da família. Em uma das paredes, o quadro de São Francisco de Assis. Em outra, gravuras dos prédios da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Ao fundo, sobre um acanhado balcão, uma foto sua ao lado do então presidente Lula durante uma cerimônia no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). “Quando o presidente Lula assinou minha nomeação, pediu que eu fosse a Brasília, pois queria me conhecer. Fui com a família para uma audiência de 15 minutos que durou uma hora e meia. Ele mesmo se convidou e disse que viria à minha posse em Curitiba. E veio.” Explica-se: Ricardo Tadeu Marques da Fonseca é o único desembargador deficiente visual do País. E Lula o nomeou para a função. do então presidente Lula durante uma cerimônia no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). “Quando o presidente Lula assinou minha nomeação, pediu que eu fosse a Brasília, pois queria me conhecer. Fui com a família para uma audiência de 15 minutos que durou uma hora e meia. Ele mesmo se convidou e disse que viria à minha posse em Curitiba. E veio.” Explica-se: Ricardo Tadeu Marques da Fonseca é o único desembargador deficiente visual do País. E Lula o nomeou para a função.

A vida desse paulistano de 55 anos, filho de uma família de classe média (o pai foi executivo de uma multinacional), graduado e mestre pela USP e doutor em Direito das Relações Sociais pela Federal do Paraná, é uma história de provações. Nasceu prematuro, aos seis meses de gestação. Sobreviveu, mas as sequelas deixaram marcas. Uma paralisia cerebral afetou as pernas e os braços. Deu os primeiros passos aos 3 anos, após delicada cirurgia. Os movimentos dos braços desenvolveram-se por causa de uma intensa e contínua fisioterapia. Uma diplegia o obriga a caminhar com dificuldade.

Desde a infância teve a visão reduzida. O aprendizado escolar exigia o reforço da mãe em casa. “Não enxergava os exercícios na lousa. Matérias que precisavam usar o quadro-negro, como matemática, eram muito difíceis de aprender. As demais eu prestava muita atenção para fazer as provas.” Os professores insistiam: Fonseca deveria ser transferido para o Instituto de Cegos Padre Chico, tradicional escola paulistana que atende crianças deficientes visuais ou com baixa visão. A família não aceitou e o filho retribuiu. O futuro juiz estudou em escolas regulares e se empenhou em levar uma vida normal. “Descobri muito cedo que precisava superar a falta da visão. Participava das brincadeiras na hora do recreio, discutia e brigava como qualquer garoto. Apanhei e bati, mas sempre reagi ao que a vida me impôs. Nunca acreditei nem aceitei quando me diziam não.”