Prenúncio de crise

Paulo Santos

O anúncio do possível rompimento de três deputados com o esquema governista – Trócolli Júnior, Tião Gomes e Genival Matias – agitou os ambientes onde se respira política em João Pessoa na véspera da reabertura da Assembleia Legislativa, após 20 dias de paralisação para aproveitamento dos festejos juninos.

A serem verdadeiros os comentários de bastidores é imprevisível o que poderá acontecer, nos próximos dias, na política paraibana. É possível que nenhum governante, antes de Ricardo Coutinho, tenha voltado para o segundo tempo de um ano eleitoral com apoio tão precário na Casa Epitácio Pessoa.

O que foi ruim no primeiro semestre pode ficar pior no segundo. O apoio ao Governo foi precário, em plenário, na primeira fase de 2012, mesmo com a participação dos três parlamentares citados no bunker governamental. Recorde-se que o Palácio da Redenção perdeu votações de Medidas Provisórias e vetos foram derrubados, contra algumas poucas vitórias oficiais graças, nessas oportunidades, a consenso com a oposição.

Até agora os desembarques da nau governista haviam ocorrido de forma pontual envolvendo políticos experientes – como o ex-governador Wilson Braga – e neófitos – como Toinho do Sopão geralmente durante e depois de votações importantes, como a demonstrar que eram tênues os laços que vinculavam muitos deputados à base do Governo.

É público e notório, nesta altura do campeonato, que conflitos de interesses dão fatores propulsores dos conflitos políticos entre a base e o Governo. Não são poucas as queixas sobre falta de diálogo entre o Palácio da Redenção e os parlamentares, desentendimentos entre os que têm mandato na Assembleia e muitos secretários de Governo.

Praticamente todos os governadores ressaltaram, durante seus mandatos, o “peditório” dos deputados. Um desses governantes chegou a fazer uma comparação em tom de ironia: os deputados atravessam a Praça João Pessoa para pedir a construção de um hospital, mas saem satisfeitos se receberam duas gotas de colírio do governador de plantão.

A campanha eleitoral atiça os instintos políticos e a volúpia por beneplácitos oficiais chega ao auge nesse período. Não ter prestígio para obter benefícios em época de eleições sempre foi um incentivo à execração pública. Acontece na Paraíba como ocorre no Maranhão, na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo e daí em diante.

Importa saber, entretanto, o que pode ocorrer com o Governo se expondo à desigualdade, num período em que a tendência é se ver o plenário vazio. Melhor para o Palácio da Redenção. Há relativa folga governista, ainda, porque dois dos principais “espancadores” do Governo – Aníbal Marcolino e Anísio Maia – estão licenciados e ainda não foi possível avaliar se os suplentes, no exercício do mandato, terão as mesmas disposições dos titulares.

É impossível descobrir uma, digamos, estratégia do governador Ricardo Coutinho para esse relacionamento reciprocamente inafetuoso com os deputados. Se houver, que estratégia pode existir numa relação em que ambos têm fortes desconfianças dos parceiros e expõem essas vicissitudes diante do eleitorado sem a menor cerimonia.