Ponha o feijão de molho em meia panela com água aparada na fonte da indignidade.
Escorra e troque a água suja a intervalos regulares, a cada oito horas, por exemplo, mas não descarte os caroços que emergirem.
Nada garante que eles estejam estragados. Mesmo se estiverem, não vão estragar o prato.
Em outro recipiente, acondicione os pertences para dessalgar, acrescendo-lhes água suficiente que deve ser renovada a cada três horas.
Seja generoso nos pertences: quanto mais rabo, paio, costela, lingüiça e charque, melhor.
No dia seguinte, ou 24 horas depois, comece o preparo.
Primeiro, use a faca da imoralidade para cortar a carne superfaturada em forma de isca ou bife.
Prefira acém ou músculo. Compro no grosso a preço de varejo.
Se não tiver, qualquer outra carne de segunda serve. Contanto que o valor seja de primeira.
Deixe à mão e à vista os temperos da improbidade: dois dedos de cinismo, três medidas de desfaçatez e meia xícara de safadeza.
Doure as iscas ou os bifes de carne na frigideira da indecência com duas colheres de sopa de óleo de girassol.
Não se preocupe com o grau de impureza do óleo. Ele é impuro por natureza.
Também não acredite na pureza do óleo. Se tiver alguma coisa nesse sentido no rótulo, não seja besta. É propaganda enganosa.
Coloque as iscas ou os bifes dourados numa travessa refratária untada de manteiga da marca Bilontra e sobre elas espalhe rodelas de devassidão.
Acrescente uma camada de descaramento polvilhada com o fermento da obscenidade.
Cubra tudo com folhas secas de malandragem e leve ao forno pré-aquecido por 20 minutos a 280 graus de esperteza.
Volte ao feijão e escorra a água pela última vez, guardando pelo menos 200 ml do caldo numa caneca de alumínio.
Não se incomode se o caldo soltar um ‘cheirinho’ de podre. Faz parte da receita e dá um charme ao preparo. Ou um ‘toque de classe’, diria o chef.
Leve o feijão ao fogo da sacanagem para refogá-lo no azeite da malversação e vá derramando o caldo sobre ele, aos poucos.
Quando começar a borbulhar de vergonha, vá acrescentando pausadamente os temperos da desonestidade.
Nessa ordem: primeiro, o cinismo; depois, a desfaçatez; por último, a safadeza. Tudo de pouquinho em pouquinho. E vá mexendo lentamente. Melhor se for com uma colher de cara de pau.
Quando todos os temperos estiverem bem misturados ao feijão, comece a mexer bem depressa, para um lado e para o outro, até enganar os caroços ou deixá-los tontos.
Nesse meio tempo, os pertences já deverão estar cozidos (no caldo que sobrou).
Se estiver com pressa, cometa o sacrilégio de cozinhá-los numa panela de pressão. Se não, fogo brando neles por duas ou três horas.
Quando os pertences estiverem prontos, junte-os ao feijão e deixe cozinhar pormais uma hora.
Preste atenção para a gordura que subir à superfície. Você deve retirá-la com uma escumadeira, que é pra sua feijoada ficar light ou ‘me engana que eu gosto’.
Enquanto isso, dê uma olhada no forno pra ver se a carne não está no ponto de tirar. Se estiver, leve a travessa direto à mesa, tendo cuidado para não se queimar.
Se queimar, bote um pouco de lama (você deve saber onde tem em abundância). Espalhe um pouco sobre o local queimado. Passa ligeirinho.
Quando a feijoada estiver pronta, chame os amigos para comer.
Não tenha receio algum de indigestão ou congestão em qualquer dos comensais.
Se você já preparou ou sabe preparar essa feijoada e seus convidados são realmente seus amigos… Não tenho dúvidas de que o paladar de vocês já está acostumado.
Ah, não esqueça a laranja. Laranja é fundamental para ajudar na digestão, ‘cortar’ o sal, absorver a gordura e otras cositas mas.
O que sobrar, não desperdice, por favor. Faça uma lavagem. Você deve saber muito bem como se faz.
Ou guarde as sobras da feijoada para distribuir mais tarde aos eleitores.
Pra que essa carreira?
Não é o que alguém aí pode pensar…
Seguinte. Estou convencido do bem que fazem os radares recém instalados na BR 230 que corta a Grande João Pessoa.
Sob novo formato, substituindo as velhas lombadas eletrônicas, os equipamentos voltaram para multar motorista que trafega acima de 80 km na rodovia.
Fiquei convencido da correção da medida principalmente depois de saber que após a instalação das câmeras os acidentes de Cabedelo a Santa Rita (passando por dentro da Capital) diminuíram em quase 50%.
Devemos lembrar, a propósito, que cada acidentado custa aos cofres públicos cerca de R$ 10 mil (custo da operação de socorro mais internamento e tratamento).
De outro lado, do ponto de vista do cidadão que se vê envolvido ou vitimado por um acidente de trânsito ocasionado por excesso de velocidade ou imprudência, espero que ele entenda que a vida não tem preço.
Além disso, vamos e venhamos, minha gente. Com 80 km por hora o perigo de assalto é quase zero e a essa velocidade a possibilidade de frear o carro e evitar colisões e atropelamentos aumenta exponencialmente.
Ainda assim, vejam: apesar da volta dos radares, e mesmo com toda a sinalização nas margens da BR, entre 22 de junho e 21 de julho último foram pegos pelas lentes dos ‘pardais’ nada menos que 55,4 mil infratores.
Ô, gente, vamos maneirar! Pra que essa carreira toda, se a 80 km/h você consegue chegar a qualquer lugar com apenas 30 segundos de ‘desvantagem’ para quem ‘anda’ a 120 e se arrisca a uma multa de mais de 500 paus?
Agora, se você está preocupado com o faturamento dessa ‘indústria da multa’, é simples: jamais passe dos 80 que essa indústria vai à falência. Se o problema for esse…