Pra que empréstimo?

Rubens Nóbrega

Pra que empréstimo de R$ 150 milhões à Cagepa, onde o Ricardus I diz ter encontrado déficit de R$ 6,4 milhões por mês, se ao mesmo tempo o monarca se gaba de ter reduzido a folha da empresa em mais de R$ 4 milhões e elevado em 29% a receita, que chega aos R$ 30 milhões mensais apenas com o recebimento das contas d’água na rede bancária?

Sou péssimo em Matemática, ruim de correr água da Cagepa, mas somando os R$ 4 milhões que supostamente cortaram na despesa com cargos comissionados aos R$ 10 milhões a mais que passaram a apurar com o reajuste de tarifa, não deu pra cobrir o tal déficit de R$ 6,4 milhões? Ainda assim não deu? Como? Explique aí, Majestade.

Eis o grande problema. Nem governo nem Cagepa conseguem explicar direito. Assim, fica complicado apoiar um empréstimo desse vulto. Ainda mais se o absoluto também não aceita, por exemplo, discutir o assunto com segmentos representativos da sociedade ou apresentar um plano de reestruturação digno do nome para a empresa ou fazer auditoria independente e séria na companhia.

Uma auditoria que pudesse dizer com clareza, segurança e a confiabilidade que o governo não inspira se a Cagepa necessita realmente ou não dos R$ 150 milhões.

Só não venham dizer agora que sem esse empréstimo a empresa vai a leilão ou fechar. Não digam porque ainda tenho nos meus alfarrábios as garantias dadas já este ano pela diretoria atual de que a Cagepa entrou em franca recuperação com o advento da Nova Paraíba e, portanto, não corre o menor risco de ser privatizada.

Assim, tanto quanto o empréstimo, não faria o menor sentido o temor diante de iminente privatização espalhado por dirigente sindical empenhado em convencer a Assembléia a aprovar operação bancária que leva o maior jeito de cheque em branco.
Bom Pastor: denúncia apurada

“Está havendo tortura no Bom Pastor”, denunciaram-me na sexta-feira (20). De imediato, via twitter repassei a denúncia ao governador Ricardo Coutinho e ao vice-governador Rômulo Gouveia, com pedido de apuração e providências.

Doutor Rômulo deu retorno. Acionou a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado para verificar o que estaria se passando no presídio feminino da Capital. Na sequência, entra no circuito o Doutor Sheyner Asfora, presidente do Conselho da Comunidade da Vara de Execução Penal de João Pessoa.

O Conselho se reúne no final da tarde da segunda-feira (23). Participam, além de Asfora, os conselheiros Padre Bosco e Guiany Coutinho e o Promotor de Justiça Nilo Siqueira. Os quatro ouvem o pai de uma detenta que estaria sendo a mais torturada de todas por ter dado à imprensa conhecimento de maus-tratos. Ouvido o pai, começo da noite o Conselho vai ao Bom Pastor ouvir a filha.

A portas fechadas, diante apenas dos membros do Conselho e do promotor, ela se diz perseguida pela direção, da qual receberia tratamento desigual. Depois, relata um incidente: rebelou-se contra um castigo, atirou-se no chão e agarrou-se a uma cadeira, tendo que ser imobilizada e algemada para ser levada ao isolamento. Garante, contudo, que “jamais passou por qualquer sessão de tortura dentro daquela unidade prisional”.

Subsistem, por parte de denunciantes, acusações de condições subumanas nos locais onde são postas de castigo as presas rebeldes. Há que se apurar, também. Mas, quanto à denúncia sobre tortura, entendo que restou comprovada a improcedência. No que me compete, resta reconhecer e elogiar diligência e competência com que o Conselho da Comunidade agiu nesse caso.

 

Em defesa da nova estrada

Sertanejo da melhor qualidade, Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e auditor fiscal do Ministério do Trabalho, defende com veemência a Rodovia da Reintegração que o Governo do Estado vai construir para interligar por asfalto as cidades de Cacimba de Areia, Passagem, Areia de Baraúnas, Salgadinho e Assunção.

Ontem, nesta coluna, a nova estrada foi alvo de incisivos questionamentos formulados por um cidadão de Santa Luzia. Ele vê na obra séria ameaça à subsistência de mais de mil famílias do Vale do Sabugi que tiram o sustento do que vendem na BR 230, que nessa microrregião corta Junco e São Mamede, além de Santa Luzia.

Com a Rodovia da Reintegração, será encurtado o percurso entre Juazeirinho e Patos, o que certamente atrairá o fluxo de mais de mil carros, caminhões e ônibus que passam diariamente pela BR 230. A mudança de fluxo deverá causar abalo dos grandes na economia do Sabugi, particularmente em Santa Luzia, Junco e São Mamede.

Luiz Gonzaga lembra, contudo, que há 50 anos “a estrada de Patos para Campina Grande passava justamente pela cidade de Salgadinho, abordando Cacimba de Areia, Passagem e o então povoado de Estaca Zero (atual Assunção)”. E Salgadinho “era o ponto onde os viajantes paravam para matar a fome e a sede”. Agora, reconhece, o Sabugi deverá sofrer o que a Serra da Viração sofreu há meio século. A nova estrada corrigiria, portanto, o que tem o colega deve ter como injustiça histórica:

– Que me perdoem os habitantes do Vale, mas a nova estrada só faz justiça aos habitantes de Cacimba de Areia, Passagem, Areia de Baraúnas, Salgadinho e Assunção, resgatando aquilo de que foram defraudados no passado. E quem vai lhes pagar o prejuízo que sofreram nestes quase cinquenta anos? – arremata Luiz Gonzaga.