Rubens Nóbrega

Desde quarta-feira última, 24, quem mora em São Paulo, Capital, pode solicitar a mudança de nome da sua rua se ela tiver sido ‘batizada’ em homenagem a alguma figura da nossa história contemporânea que tenha cometido atrocidades contra seres humanos em regimes ditatoriais.

A possibilidade tem amparo em lei sancionada pelo prefeito Fernando Haddad. A iniciativa paulistana deve inspirar movimentos que vez por outra eclodem em outras capitais, João Pessoa entre elas, para derrubar dos registros e placas que identificam alguns dos nossos bairros os nomes de generais que nos presidiram na ditadura militar.

Na mira estariam os conjuntos Castelo Branco, Costa e Silva e Ernesto Geisel, além do Valentina de Figueiredo. Este seria homenagem à mãe de João Figueiredo, último general-presidente do ciclo autoritário inaugurado pelo golpe de 1964, articulado e patrocinado pelos Estados Unidos.

Ah, antes de prosseguir, deixem-me dizer uma coisa: se alguém tem dúvidas de que John Kennedy mandou derrubar João Goulart, recomendo assistir ao documentário ‘O dia que durou 21 anos’, de Camilo Tavares, até a semana passada em cartaz no cinema do Mag Shopping.

No filme, os diálogos (reproduzidos a partir de áudios originais de conversas telefônicas) entre Kennedy e Lincoln Gordon, então embaixador norte-americano no Brasil, não deixam dúvidas quanto à participação da Casa Branca e da CIA na trama que levou à deposição de Jango e sua substituição pelo marechal Castelo Branco.

Um nome salvador

Pegando carona na forma como o jornalista Helder Moura abre seus contrapontos, informo que essa quem me contou foi o advogado Giuseppe Lyra, atilado observador e arguto conhecedor da cena histórica e política da Paraíba.

Seguinte. Final dos anos 70, começo dos 80, Paraíba sob o governo de Tarcísio Burity, técnicos da Cehap e do Ipep montaram projeto para construção de um grande conjunto residencial na zona sul da Capital e levaram o bicho pra Brasília, onde inicialmente amargaram um tremendo veto federal. Literalmente.

Ainda patinando na famosa crise do petróleo dos setenta, o regime militar desacelerara o ‘milagre econômico’ e começava a dar sinais de contenção na liberação de verba fácil e a fundo perdido para obras públicas, principalmente no Nordeste.

Mas, se estou recontando os fatos direitinho, penso que foi o saudoso Hermes Pessoa quem encaminhou pessoalmente o projeto às instâncias ministeriais adequadas.

Diante da rejeição preliminar, o então presidente da Cehap já se preparava para de lá mesmo acionar o prestígio do governador Buriry, com vistas a remover as barreiras à liberação do financiamento… Foi aí que um técnico do BNH pousou na sorte da Paraíba, chamou o nosso representante a um canto de sala e ao pé de ouvido sugeriu:

– Faça o seguinte: volte a João Pessoa, dê uma mexida de leve no projeto, que está muito bom, e traga de volta com um acréscimo fundamental: bote o nome de Valentina de Figueiredo no conjunto residencial. Como o Doutor bem sabe, trata-se da mãe do homem…

Nem precisava, mas…

Vou dizer, mesmo assim: menos de seis meses depois, o BNH botava na conta do Governo do Estado o dinheiro necessário à construção do Valentina de Figueiredo, entregue em 1984. Só por isso, entendo que esse conjunto merece ser poupado de eventuais tentativas de mudança de nome de bairro em função de vínculos com a ditadura.

***
Mais uma coisa: evidente que qualquer proposta de modificar a denominação de ruas e bairros deve ser submetida aos seus habitantes. Seria o caso de se promover um plebiscito colado a uma consulta sobre os nomes que poderiam substituir o atual.

Tudo com apoio logístico da Prefeitura da Capital, se possível sob a supervisão da Justiça Eleitoral e obviamente depois de o prefeito sancionar lei oriunda da Câmara dos Vereadores criando a chance da troca de nomes.

O Paladino de Taperoá

O jornalista e diácono José Nunes deve anunciar nos próximos dias o lançamento de livro seu sobre Dorgival Terceiro Neto, falecido no dia 12 deste mês, em João Pessoa. Traz o relato dos últimos dias de vida e as homenagens que se seguiram ao falecimento do ex-governador da Paraíba e ex-prefeito da Capital.

Por deferência e generosidade de Nunes, farão parte de sua obra colunas aqui publicadas contando um pouco da história de Dorgival e os exemplos que ele protagonizou e fizeram dele uma das nossas mais positivas referências de homem público, além de respeitado jornalista, escritor, advogado, jurista e professor de Direito.

Segundo o autor, o seu ‘Dorgival – O Paladino de Taperoá’ (título do livro) “deveria para ser publicado nas comemorações dos oitenta anos do homenageado, ocorrido em setembro de 2012, mas, como ele pediu que deixasse para depois, a obra ficou no prelo. Acredito que chegou o momento da publicação. Pena que ele não possa estar fisicamente presente ao lançamento”.

Pena, Nunes, pena mesmo. Mas, como diriam lá em Taperoá, ‘mãos à obra’.