Poupança eleitoral

Rubens Nóbrega

Os últimos acontecimentos e declarações atribuídas ao Ricardo I, entre elas a de que admite discutir melhorias salariais para o funcionalismo estadual, mas só em 2012 ou a partir de, convenceram-me do seguinte: ele está fazendo poupança para gastar generosamente em ano eleitoral ou pré.

Não tenho dúvidas de que os servidores serão contemplados com reajustes no primeiro e grande tira-teima da força eleitoral do monarca, que acontecerá ano que vem, ano em que Sua Majestade precisa desesperadamente de vitórias municipais expressivas para poder sonhar com reeleição em 2014.

Enquanto isso, o monarca vai cuidando de tocar obras planejadas, projetadas, licitadas e com recursos captados por seus antecessores. Presentemente, a menina dos olhos do soberano são as estradas, porque asfalto em interior é bicho fazedor de muitos votos pra uns e bastante dinheiro pra outros.

O imperador gostou tanto dos efeitos que causa asfaltamento ou recapeamento de estradas nos sertões, cariris e brejos, que decidiu ir atrás de pelo menos mais meio bilhão de reais do BNDES para expandir a atual maratona de obras viárias que os predecessores legaram.

Mas não pensem que o soberano pensa assim. Ele não dá o menor crédito a quem lhe deixou obras concluídas, em andamento ou faltando apenas iniciar. Afinal, na cabeça do Ricardo I e dos ricardistas mais ortodoxos, tudo de bom que a Paraíba possa ter ou viver somente começou a acontecer após o 1º de janeiro do ano da graça de 2001.

Não teria a menor importância cobrar postura em contrário de Sua Majestade não fosse por um detalhe: em tempos de raríssimas e ralíssimas virtudes dos nossos homens públicos, alguns poderiam pelo menos usar de lealdade intelectual quando da entrega de obras que propalam como suas, mas que na verdade foram iniciadas ou no mínimo projetadas e asseguradas por quem veio antes.

Vejam. Como já disse, o gestor real vem asfaltando estradas no interior e, através delas, o caminho para conquistar uma popularidade que ainda desfruta por empréstimo tomado junto a Cássio Cunha Lima nas eleições de 2010 e vem pagando em suaves prestações, a juros módicos, com prazo que em tese vai até 2014.

Mas, nem assim, nem para fazer justiça a seu aliado e grande eleitor, o absolutista Ricardo I é capaz de reconhecer – muito menos dizer – que não é iniciativa sua qualquer obra iniciada, em andamento ou concluída até aqui em seu governo. Nem mesmo os 27,5 km de asfalto ligando Sousa a Lastro que inaugurou no final de semana.

Anunciada como “a primeira obra rodoviária iniciada e concluída neste governo, em apenas cinco meses e meio”, na verdade a estrada Sousa-Lastro foi projetada ainda no Cássio II, licitada e iniciada no Maranhão III, com dois terços do seu custo total (R$ 7,4 milhões) financiados pela Corporação Andina de Fomento (Caf).
Estradas como aquela integram o Programa Novos Caminhos, idealizado e formatado no governo de Cássio, que para tanto negociou e conseguiu 100 milhões de dólares junto à Caf, mas não pôde gastar um centavo porque a grana ficou travada em Brasília por inadimplências do Estado e excessos nos gastos com pessoal.

“O maior obstáculo ao verdadeiro parto que foi a assinatura desse contrato com a Caf consistiu em sobrepujar as quase diárias inserções do Estado no cadastro de inadimplentes, isso devido às dívidas herdadas (algumas bastante antigas) bem como o também herdado descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), razões essas que também impediram o governo CCL de dar início ao programa”, lembrou-me ontem o Professor Francisco Sarmento, a quem recorri para colher subsídios sobre aquele programa.

Secretário de Infra e depois de Recursos Hídricos no governo imediatamente anterior ao atual, foi Sarmento quem coordenou os esforços do Maranhão III para destravar o empréstimo da Caf e recorda ainda que, “finalmente, com a assinatura do contrato Caf, o programa foi viabilizado, as licitações foram feitas e as ordens de serviços foram assinadas, mais ou menos entre os meses de agosto e setembro (de 2010)”.

Mas, para ter direito aos U$ 100 milhões da Corporação Andina, o governo teve que garantir outros U$ 50 milhões em novas obras. “Assim, mesmo antes da assinatura, as obras concernentes ao Estado foram tocadas com recursos próprios (contrapartida).

Exemplos são a rodovia de Emas e a de Sumé-Congo, entre outros trechos, integralmente concluídos no ano passado”, destaca o ex-secretário, acrescentando:

– No mesmo período, outras estradas foram parcialmente concluídas, como a PB-196 (entroncamento da BR-104 até Riacho de Santo Antônio com 10,5 km), esta com a curiosidade de ter sido recentemente anunciada na imprensa a assinatura da ordem de serviço (!!?).

Bem, mas o governo da hora vai dizer, como já diz recorrentemente o seu chefe, que encontrou tudo esculhambado, abandonado, feito a estrada Sousa-Lastro, que retomou a e fez ‘todinha’. Mas por que essa e outras obras assemelhadas foram paralisadas no governo anterior? A resposta virá na coluna de amanhã, porque por hoje o espaço que resta só dá para uma colaboração do amigo Potinho de Veneno.

Outro significado para CCJ

Potinho de Veneno integrou a comitiva real que foi inaugurar a estrada Sousa-Lastro. Na volta, parou em Pombal para um lanche e lá colheu esta:

– A CCJ da Assembléia não é mais a Comissão de Constituição e Justiça. Agora, significa ‘Cuidado Com Janduhy’!