Rubens Nóbrega

Você já reparou como enfeia a paisagem urbana aquela fiação toda suspensa e amarrada aos postes da iluminação pública? Pois bem, há decênios alimento a esperança de viver o suficiente para um dia ver a minha cidade livre desse infeliz adereço que um bem enorme faria se fosse embutido, enterrado.

Não sei quanto custa fazer, se é difícil esconder debaixo da terra ou das calçadas, mas tenho certeza de que é uma necessidade. Não apenas estética, de ficar bonita para o transeunte que quiser apreciar uma fachada de casa, um frontispício de igreja ou as mariposas do poeta Adoniran “dando volta em volta da lâmpida pra se esquentar”.

Não sei também se a manutenção será mais cara, mas aposto como será mais segura para os eletricistas que fazem reparo e religam a energia elétrica. Acredito mesmo que entubando a fiação sob o passeio público diminuirão extraordinariamente os riscos de caminhões, ônibus, trios elétricos etc. se enroscarem nos fios, derrubarem postes e matarem pessoas eletrocutadas.

Se alguém aí pensa que é besteira, dê uma busca na Internet e tente ver fotografias ou vídeos de cidades pelo mundo onde fio agarrado em poste deve ser uma lembrança rala na memória dos mais velhos do lugar. Olhe direitinho e perceba quão diferente e mais agradável é viver só com os postes e suas luzes.

Digo isso e faço essa defesa de uma ideia já me dirigindo ao atual prefeito, ao futuro, à Energisa e às companhias de água, telefone, gás, tevê a cabo e outras que usam o nosso solo à vontade e, até onde sei, por esse uso que lhes dá tanto lucro não recolhem um níquel ao erário. Bem, mas isso é outra conversa. Primeiro, vamos reunir esse povo para discutir modos e formas de fazer. Se eles aderirem à proposta, claro. O passo seguinte seria ver que tipo de posteação e iluminação nós queremos e podemos fazer, inclusive para criar um atrativo a mais para a nossa Capital, um diferencial turístico que com certeza teria uma cidade liberta desse horror de fios. Se querem desde já uma sugestão, dou. Graças à colaboração da Doutora Rosa de Luzes, quer dizer, Rosa de Lourdes, colega de trabalho que quando encontra coisas boas repassa aos amigos e admiradores. Coisa que pode dotar João Pessoa de uma iluminação cem por cento alimentada por energia eólica e solar. Se o sonho virar realidade, nossas ruas e vias de acesso do entorno passarão a contar com postes e luminárias semelhantes a essas que vocês podem conferir nas fotos que hoje, excepcionalmente, ilustram esta coluna.

Vieram com matéria do Portal do Meio Ambiente, assinada por Gevan Oliveira e enviada por Rosa. Trata-se de invento do engenheiro mecânico Fernandes Ximenes, do Ceará, que projetou, desenhou e montou postes como esses das fotografias.

Como é, como funciona
“Com modelos de 12 e 18 metros de altura (feitos em aço), o que mais chama a atenção no invento, tecnicamente denominado de Produtor Independente de Energia (PIE), é a presença de um avião no topo do poste”, escreveu o jornalista cearense.

“Feito em fibra de carbono e alumínio especial – mesmo material usado em aeronaves comerciais –, a peça tem três metros de comprimento e, na realidade, é a peça-chave do poste híbrido. Ximenes diz que o formato de avião não foi escolhido por acaso. A escolha se deve à sua aerodinâmica, que facilita a captura de raios solares e de vento”, acrescenta.

O engenheiro e Professor Pardal garante ainda que em forma de avião o poste fica mais seguro, porque são duas fontes de energia alimentando-se ao mesmo tempo, podendo ser instalado em qualquer região e localidade do Brasil e do mundo.
Além do mais, “as asas do avião abrigam células solares que captam raios ultravioletas e infravermelhos por meio do silício (elemento químico que é o principal componente do vidro, cimento, cerâmica, da maioria dos componentes semicondutores e dos silicones), transformando-os em energia elétrica (até 400 watts), que é armazenada em uma bateria afixada alguns metros abaixo. Cumprindo a mesma tarefa de gerar energia, estão as hélices do avião”.

Gevan informa também que cada poste é capaz de abastecer outros três ao mesmo o tempo. Ou seja, um poste com um “avião” – na verdade um gerador – é capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis lâmpadas leds (mais eficientes e mais ecológicas, uma vez que não utilizam mercúrio, como as fluorescentes compactas) de 50 mil horas de vida útil dia e noite.

E arremata: “Por meio dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o poste tem autonomia de até sete dias, ou seja, é à prova de apagão”. Com um detalhe: a economia com esse sistema seria de cerca de R$ 21 mil por quilômetro/mês, considerando-se a fatura cheia da energia elétrica e o custo de instalação de cada poste, 10% menor que o convencional.
O mercado deve ter outros produtos e tecnologias assemelhados. Se acender uma luz na cabeça dos nossos dirigentes, eles saberão onde procurar e encontrar o melhor para os seus governados. Até por que devem procurar, porque de mais uma coisa estou convencido: o futuro não comporta rede de iluminação pública tão feia, cara e perigosa como a que temos agora.