Porta-voz da alegria

Rubens Nóbrega

O ex-deputado Ramalho Leite é o ranzinza mais bem humorado que conheço. Quem o vê de perto, mas não tem o privilégio de com ele trocar dois dedos de prosa ou tomar um cafezinho, é bem capaz de achá-lo uma pessoa de mal com o mundo.

Impressão, só. Absolutamente natural para quem lhe percebe o semblante carrancudo com que observa tudo e todos. Perfeitamente normal para quem lhe ouve a voz em tom de briga interrompendo a conversa dos outros sem pedir licença.

Quase sempre a interrupção é por uma boa causa. Quer dizer, por um bom causo. Ou uma boa piada, que ele sabe contar como poucos.

A inteligência criativa, o raciocínio ligeiro, a resposta na ponta da língua e a presença de espírito do Coronel Severino compensam com sobras os seus apartes não concedidos.

Ao final de suas intervenções, a risada é geral e certa ao redor, invariavelmente sequenciada por pedidos de bis de algumas passagens e boutades clássicas da antologia ramalheana, já registradas em três ou quatro livros de agradável leitura.

Estou enchendo a bola do cara porque, em primeiro lugar, ele é de Bananeiras, cidade mágica onde as poucas virtudes abafam os muitos defeitos que alguns possam ter. Devo estar babando mesmo, diria o amigo Gesiel Cândido, porque além de tudo ou, sobretudo, Ramalho é o marido de Martha, a insuperável alcaidessa da Rainha do Brejo. Mas se essas são as suas melhores qualidades, outra variante há que ser considerada.

O homem tem atributos de caráter em boa quantidade, o que faz da sua proverbial e coloquial deseducação tão somente uma questão de estilo, um jeito de ser, ainda que um jeito meio estúpido de ser, segundo ensina o verso do rei e poeta Roberto Carlos.


Bananeiras é tri no Selo Unicef

Digo tudo isso também porque Ramalho Leite, ao divulgar as coisas de Bananeiras, faz-se porta-voz da alegria, multiplicador das boas novas do lugar abençoado que me deu algumas tristezas na infância e hoje só me traz contentamento.

Alegria de saber, por exemplo, que a cidade foi premiada pela terceira vez consecutiva com o Selo Unicef Município Aprovado.
Unicef todo mundo sabe o que é, mas custa nada lembrar repetindo o que diz sobre a sigla a Wikipédia, a enciclopédia livre da Internet: em inglês significa United Nations Children’s Fund; traduzindo para o português, dá Fundo das Nações Unidas para a Infância.

Pois bem, o Selo Município Aprovado foi criado para reconhecer e premiar as gestões públicas que ajudam aquele órgão da ONU a defender os direitos das crianças e ajudá-las no seu desenvolvimento físico, humano e material.

No caso da distinção aos municípios nordestinos, agraciou aqueles que diminuíram a mortalidade infantil, a repetência escolar e incentivaram o aleitamento materno, entre outras ações e programas sob gerência e execução das prefeituras.

A Prefeitura de Bananeiras, sob Martha Ramalho, já coleciona três Selos do Unicef. É a única da Paraíba capaz de exibir tal coleção. Talvez seja uma das poucas do Nordeste e do Brasil.

A repetência dos bons feitos

Não me dei ao trabalho de conferir os demais tricampeões. O importante é ver a terrinha reprisando feitos como aquele que pude testemunhar, guardar e dele me orgulhar desde quando alisava os bancos do primário no Grupo Escolar Xavier Júnior.

Feitos como o de cidade com menor índice de analfabetismo na Paraíba, isso no começo dos anos 60, graças à sorte que Bananeiras teve de ter como Juiz de Direito da comarca local ninguém menos que o saudoso Doutor Simeão Cananéa.

Saibam que o inesquecível desembargador, quando na sua magistratura de primeira instância, repreendia e até prendia – dizem – pais negligentes com a educação dos filhos. Criança fora da escola em Bananeiras, naquela época, era uma raridade para os educadores e uma temeridade para os responsáveis.

Resultado: logo após a criação do Mobral, fizeram um censo do analfabetismo com a participação dos alunos mais taludos da rede municipal de ensino. Este mirrado estudante de quarta série foi escalado para contar analfabetos na periferia e zona rural.

Deu Bananeiras na cabeça do ranking dos municípios com maior índice de alfabetização da Paraíba. Devemos essa marca em boa parte ao Doutor Simeão, como devemos o tri do Selo Unicef à gestão Martha Ramalho.

Mas a prefeita não foi a Brasília semana que passou para receber o prêmio. No seu lugar, mandou o vice-prefeito Douglas Lucena, que vem a ser o prefeito recém eleito, que viajou em companhia do vice, Matheus Bezerra, e do articulador do Selo Unicef, o psicólogo Jivago Fialho.

Espero que Douglas e Matheus tenham retornado de Brasília bem conscientes de que ninguém espera deles menos que o tetra do Selo Unicef. Bananeiras merece. E eles não podem desmerecer a confiança recebida dos eleitores e a honra de suceder Martha Ramalho.