Por que parou?

Marcos Tavares

Confesso que gastei vários – dos poucos – neurônios que me restam para entender por que o povo foi às ruas, sua motivação, sua ira. Agora sou forçado a gastar o restante para saber por que o povo saiu das ruas e cedeu seu lugar aos sindicalistas. O que mudou desde a passeata dos 20 centavos até agora? Mudaram exatamente os 20 centavos retirados da passagem, pois tudo continua como d’antes no quartel do Abrantes. Muito se falou, muito se discutiu, mas de real não sobrou nada além de pedágios incendiados, lojas assaltadas e gente atropelada, o que se faz normalmente sem necessidade de levar o povo às ruas. Nenhuma medida concreta, nenhuma proposta salvadora e nenhuma ação impactante.
O plebiscito que dona Dilma – a búlgara – tirou do seu arsenal de mágicas definha a cada passo. Já se sabe que ele não entrará nas próximas eleições e há quem duvide que ele entre em pauta algum dia. A inflação não caiu, no máximo estacionou. A balança comercial despencou, a credibilidade dos políticos e dos partidos continua a zero e mesmo assim o povo cansou de gastar solas e foi para casa. A prometida reforma da saúde com a obrigatoriedade de médicos no SUS virá daqui a um 8 anos quando a primeira turma pós-Dilma terminar seus estudos, a mobilidade urbana não melhorará nos próximos 20 anos. Enfim, o que fizemos?

Não se espere que os políticos deixem de malversar a coisa pública por conta do povo, principalmente se os réus do mensalão ganharem penas brandas. Não esperem gasolina e diesel baratos porque a Petrobras está na pindaíba e aumentos virão. Não espere nem sonhe com reajustes salariais, pois aí o governo é inflexível, e absolutamente não espere o final ou o arrefecimento da violência. Então fomos à rua apenas exercitar a democracia e botar a molecagem em dia, fomos apenas matar saudades dos anos de chumbo, fomos porque está na moda ir às ruas e nada mais do que isso fizemos. Fomos sem saber de nada. Paramos justamente porque não sabíamos o que fazer. E nosso sindicalismo não é absolutamente a solução.

Burrice

O povo é burro – perdoem a forte expressão – ao fechar estradas e proibir o tráfego de veículos muitos deles de transporte. É que esse custo adicional, pela carga que não chegou, pela carga que se deteriorou, vai terminar no bolso desse mesmo povo.

Assim, ao pensar que ofendem Dilma, a República, partidos ou os políticos queimando pneus e fechando rodovias, estão simplesmente encarecendo o preço dos gêneros que eles mesmos irão comprar quando passar esse breve furor cívico.

Até para protestar é preciso usar estratégia que firam o alvo do seu protesto e não se vire contra quem estiver protestando. Não fazer isso é uma consumada burrice. Mesmo vindo do povo.

Economia

O prefeito de Cabedelo, Luceninha, foi rápido no gatilho ao cortar os salários de seus secretários por considerá-los exagerados. Mas deixou intactos seus vencimentos e os do vice-prefeito e o povo foi para as ruas cobrar dele mais igualdade nessas medidas de enxugamento.

Enxugar o salário alheio e deixar o seu alcançando as nuvens não mostra boa intenção.

E muito menos, boa política.

Sumido

Lula sumiu das páginas, dos vídeos e dos microfones.

Desde que a crise chegou às ruas ele trancou-se num silêncio claustral.

Interdito

TCE proíbe novas licitações para assentamentos na Várzea de Sousa. A medida é decorrente de um trabalho feito pelo conselheiro Fernando Catão que verificou várias irregularidades no manejo da água.