Por que devemos aceitar a corrupção e proteger os ladrões

Gilvan Freire

Todos devemos nos acostumar com a indecência e a imoralidade, em vez de estarmos ofendidos com o despudor. Assim como a transexualidade está invertendo os papeis antes vividos por homens e mulheres, que cada dia mais buscam a felicidade fora das convenções sociais e dos modelos biológicos, é inteiramente possível que os indivíduos todos sejam em essência desonestos enrustidos, desses que estão esperando apenas uma chance para revelar as suas propensões. A hora está chegando. Teremos chance de ser felizes com as nossas inclinações para a gatunagem porque, se faltavam organizações poderosas, como acontece com os movimentos de libertação sexual, na área da roubalheira e, especialmente, com relação aos assaltos aos cofres públicos as minorias estão crescendo muito. São sinais dos novos tempos. Veja-se que o Congresso Nacional, onde os minoritários amorais têm assento, já quer evitar que o Ministério Público tenha poderes para investigar ladrões. Este é um grande momento do crime organizado de colarinho branco no Brasil, um organismo de minoria social que já é quase majoritário em determinadas instituições do Estado.

O CONGRESSO PRECISA APROVAR A PEC que retira atribuições investigatórias do MP, para dar espaço ao crescimento da criminalidade e dar também evasão aos sentimentos enrustidos dos que são propensos ao crime de furto mas ainda não querem aparecer. Há quem diga que esse apego às desonestidades vem de um determinismo genético, ou seja: o homem, desde seus primórdios, possui esse sentimento atávico para a criminalidade. Por que o Congresso ficar produzindo leis de combate aos delitos humanos, quando é da índole humana delinqüir e cometer atrocidades? Não é mais democrático afrouxar e ver como a sociedade se comporta com as suas inclinações naturais?

SE NÃO HOUVESSE OS MOVIMENTOS TRANSEXUAIS, como se poderia conhecer os gays e lésbicas, por exemplo? De que adiantaria reprimir as tentações do corpo e as compulsões do cérebro se eles lutam para se revelar?

É precisamente no Congresso Nacional onde esses movimentos das minorias crescentes se abrigam. Afinal, não é ali a casa da democracia onde o povo tem voto e vez? Que tal as minorias assumirem em definitivo o comando do Congresso? Pois bem, isso já está em andamento. A tentativa de desalojar o pastor-deputado Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos é um grande passo dos minoritários para ocupar a Câmara. Na democracia dos minoritários organizados o cidadão comum só não é livre para ter opinião contraria às deles e, se as tiver, não pode professar. E, se professar, comete ‘delito de opinião’, pelo qual tem que ser punido, de preferência punido com o silêncio sobre o que as minorias pensam e querem. Que democracia danada é essa que não proíbe ninguém de pensar, mas pune quem pensa diferente das minorias?

PELA LEI GENÉTICA DAS INCLINAÇÕES, talvez não haja clamor público se esse pastor for substituído na Comissão por um parlamentar gay ou afim, e se o MP ficar afastado do combate à criminalidade que estupra os cofres públicos no país todo. Faz parte das propensões humanas, nesses novos tempos de grandes transformações dos costumes.

O HOSPITAL DE TRAUMA E OS TRAUMAS MORAIS

As revelações do deputado Aníbal Marcolino e as denúncias feitas pelo jornalista investigativo Clilson Jr., sobre a organização criminosa que tomou de assalto o Hospital de Trauma e se espalha por outros hospitais do Estado, envolvendo carimbados espertalhões que roubam dinheiro público também noutros estados, são de ferir os mais indiferentes cidadãos de boa vontade. Além de tudo, traz à tona uma doação generosamente podre do grupo delinqüente ao então candidato a governador Ricardo Coutinho, de R$ 300.000,00 antes que ele se elegesse e essa corja pudesse assumir o Trauma e seus R$ 100.000,00 de receitas anuais, uma operação esgotária que, segundo dizem, tem a maquinação do ex-Senador Ney Suassuna, com larga experiência em ações de saúde e criatório de sanguessugas.

O que está acontecendo na administração pública da Paraíba, hoje, ou levará as autoridades e o povo a uma grande mobilização de saneamento moral, ou então nos levará a aceitação da criminalidade pública, partindo do pressuposto genético especulado de que todos queremos ser ladrões cínicos, e só estamos aguardando uma chance para demonstrar a nossa vocação de sermos transamorais e transanormais. O resto conto depois.