Na última quinta-feira, José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, saíram da cela para se encontrar com parlamentares no prédio da administração do presídio, que fica fora da área onde estão os blocos e alas do Centro de Internamento e Reeducação (CIR). José Genoino, ex-presidente do PT, já tinha sido levado para o hospital. Apenas Romeu Queiroz, ex-deputado federal por Minas Gerais, e Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL (hoje PR), estavam na cela. Resignados, não demonstravam indignação com a pena de prisão nem com as condições de reclusão. Pelo contrário: os dois elogiaram o tratamento recebido na cadeia. Reclamaram apenas que a comida poderia ser “um pouco melhor”.
— Aqui na cela somos três advogados e temos ciência do que estamos passando — disse um deles quando abordado por uma autoridade.
Protesto de parentes de presos comuns
No mesmo dia, a mulher e uma sobrinha de Cleber Bonfim, um bombeiro hidráulico de 28 anos, chegavam à Defensoria Pública no Distrito Federal sem saber o paradeiro do jovem. Preso em casa, de madrugada, por uma equipe de policiais sem farda e sem carro caracterizado, Cleber começou um périplo por cadeias do DF. Passou pela carceragem de um distrito policial na periferia e por um centro de triagem numa área nobre, até finalmente ser levado para a Papuda. O réu está no Centro de Detenção Provisória (CDP). Na próxima terça-feira, o “bonde” passará e levará Cleber para as celas comuns do CIR ou para o bloco G da Penitenciária do Distrito Federal (PDF 2). Os recém-chegados no bloco G, diante da lotação de 20 pessoas numa cela onde só cabem oito, dormem na área da privada cavada no chão.
— Os mensaleiros foram avisados de que seriam presos. O Cleber vai ter cela especial também? — questiona a mulher do bombeiro hidráulico, que pede para não ser identificada por medo de perder o emprego.
Ela levou aos defensores públicos a carteira de trabalho do marido, assinada desde junho. Em um mês, se Cleber não perder o emprego e o salário de R$ 1,1 mil, a Justiça poderá permitir o trabalho externo.
O núcleo político do mensalão que começou a cumprir a pena e o bombeiro hidráulico estão no mesmo regime de prisão, o semiaberto. As penas dos mensaleiros, condenados por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro, se aproximam de oito anos. Cleber foi preso em razão de uma condenação por portar arma de fogo. A pena é de dois anos e quatro meses. Por ser reincidente – a família diz que o processo anterior é por assalto à mão armada –, o juiz determinou o semiaberto como regime. A realidade mostra que autoridades – ou ex-autoridades políticas – carregam um tratamento especial para dentro dos presídios sem precedentes junto à massa carcerária. O GLOBO