Política paraibana influencia rumos da CPI

Nonato Guedes

A disputa política paraibana está envenenando as relações entre o PT e o senador paraibano Vital Filho (PMDB), presidente da CPMI que investiga conexões do contraventor Carlos Augusto Ramos (Carlinhos Cachoeira) com agentes públicos e privados. É o que constata o jornalista Josias de Souza em seu blog, aludindo aos reflexos da campanha pela prefeitura de Campina Grande, onde o esquema de Vital, liderado pelo seu irmão, o prefeito Veneziano, lançou a candidatura de Tatiana Medeiros e perdeu o apoio de petistas que se bandearam para Daniella Ribeiro, candidata do PP e irmã do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro.

O jornalista dá conta do tratamento contraditório que está sendo dispensado ao senador Vital Filho, explicando que ele é adulado em Brasília enquanto no seu Estado é maltratado pelos petistas. “Essa dicotomia – acrescenta Josias de Souza – começa a interferir nos trabalhos da CPI presidida pelo senador”. Historiando os fatos, Josias narra que dava-se de barato que o PT se aliaria a Tatiana Medeiros, mas, para desassossego do senador e do seu irmão, o petismo campinense roeu a corda e ensaiou coligação com Daniella. Veneziano e Vital não se conformaram com o desfecho. O prefeito tem se queixado de traição, enquanto o senador esforça-se para deter os “silvérios”. O assunto já teria sido levado diretamente ao conhecimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra Ideli Salvatti, que é coordenadora política do governo de Dilma Rousseff, mas, pelas versões transmitidas por Josias, não houve qualquer possibilidade de reversão do cenário.

Como represália, deu-se que na última quarta-feira Vital retirou-se da presidência da CPI, transferindo-a a Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Estava em pauta a apreciação de requerimentos de convocação de três governadores para depor: Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, filiado ao PT, Marconi Perillo, de Goiás, filiado ao PSDB, e Sérgio Cabral, do Estado do Rio, filiado ao PMDB. Agnelo e Perillo foram instados a comparecer para depoimento sobre supostas conexões com “Cachoeira”, enquanto Cabral, do partido de Vital Filho, foi poupado de ser chamado.

A atitude do presidente da CPMI, prossegue Josias de Souza, acendeu a luz amarela no painel de controle do PT, por ter se verificado em meio a uma sessão radioativa da CPI. A ausência de Vital provocou protestos generalizados e cobranças de parlamentares de diferentes agremiações, interessados em dispor de uma bússola sobre como agir diante dos requerimentos colocados na pauta. O senador paraibano foi insistentemente procurado, num esforço inútil, já que ninguém tinha informações sobre seu paradeiro. Reapareceu mais tarde, ainda a tempo de proferir seu próprio voto sobre a convocação ou não dos governadores. Nessa ocasião, Vital titubeou entre o ‘sim’ e o ‘não’, aparentemente numa estratégia calculada para confundir e irritar os petistas que integram a CPI do Cachoeira. Na sequência, o parlamentar saiu de Brasília para submeter-se a um exame de cateterismo em São Paulo. Correu tudo bem, mas, ao invés de retornar ao Planalto, Vital abalou-se para Campina Grande, seu reduto principal, onde o irmão comanda os festejos juninos que atraem turistas de várias regiões do país e do exterior.