Polícia humilhada

Rubens Nóbrega

É muito importante apurar direitinho o crime que deixou de ser apurado ou retomar e concluir o inquérito policial que ficou engavetado, mas a Força Nacional de Segurança Pública poderia fazer mais pela Paraíba.
O Governo do Estado deveria requerer ao Ministério da Justiça uma tropa a mais da Força Nacional para investigar, combater, reprimir, inibir e vez em quando prender os bandidos que vêm aterrorizando o nosso interior.
A Força Nacional seria talvez a única força capaz de deter a ousadia e a facilidade com que esses bandos agem em mais de 150 municípios paraibanos onde o policiamento resume-se a nada ou, quando muito, a dois ou três soldados.
Somente a Força Nacional seria capaz de atender à necessidade de segurança que o atual governo não consegue oferecer à população, pois o Estado não dispõe sequer de um plano de ataque à criminalidade, muito menos de defesa social.
Acredito que apenas a Força Nacional supriria com sua presença e competência a falta de policiais militares e civis que o Estado precisa urgentemente recrutar, através de concursos, para reforçar pelotões e delegacias Paraíba adentro.
Essas providências são pra ontem, mas o nosso governo parece indiferente ou não compreende que a gente chegou a um ponto em que o cidadão não sabe se na Pequenina é ele ou a própria Polícia que precisa mais de Polícia.
Que o diga o delegado Ivanildo Moraes, de Guarabira, para quem na Paraíba “a violência está generalizada, está um negócio insustentável”, conforme declarou na segunda (26) após ser libertado da cela onde fora trancafiado por um bando.
Doutor Ivanildo teve a sua delegacia invadida no domingo à tarde por quatro homens bem armados que renderam a delegado e o colocaram no lugar de um detento de apenas 19 anos que vieram resgatar, e resgataram.
O ataque à Delegacia de Guarabira foi tão humilhante para a força policial do Estado quanto o arrastão, explosão e roubo de agências bancárias efetuados ontem de madrugada na cidade de Montadas.
O episódio fez a Paraíba virar novamente piada nacional porque dessa vez os assaltantes – seis, armados e encapuzados, segundo o Uol – explodiram o Bradesco e o Banco do Brasil após trancarem com uma corrente o destacamento da Polícia Militar.
Evidente que apenas policiamento e repressão não resolvem, mas já é alguma coisa. Estaríamos pelo menos cuidando dos efeitos, já que a causa, todo mundo sabe, é a intocada e tremenda injustiça social que penaliza dois terços da população brasileira.
De outro lado, injustiça social, todo mundo também sabe, a gente combate muito mais eficazmente com educação e saúde de qualidade para o povo, deveres de Estado que são vitais para desconcentrar e distribuir a renda.
Mas, por enquanto, para muitos, renda… Só aderindo ao crime, em especial ao tráfico de drogas, onde é tão fácil ganhar dinheiro como perder a vida, principalmente a vida de quem não teve chances de escolarização e jamais soube o que é cidadania.
Mas como esperar educação e saúde de qualidade em um Estado governado por alguém que manda fechar maternidades e hospitais, quando não terceiriza, e, achando pouco, agora deu pra fechar colégios, também?
‘Camará não resolve’

O agrônomo Newton Marinho presenteou o colunista com o texto transcrito adiante (e à disposição para contradita). Nele, o autor sustenta mais uma vez que a reconstrução da barragem de Camará, em Lagoa Nova, não trará os resultados que o governo espera e alardeia. Deixo vocês com o Doutor Newton, a partir deste ponto.
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No Wscom, no último dia 21, em matéria relacionada ao PAC II, o Senhor Governador fala sobre os recursos a serem liberados no valor de R$ 215 milhões, beneficiando 17 municípios. Na mesma oportunidade demonstra certa preocupação, pois os recursos seriam insuficientes. “Fico feliz, mas, ao mesmo tempo, preocupado com os recursos que ainda não conseguimos, pois a Paraíba tem problemas graves no abastecimento de água. Os sistemas antigos não comportam o crescimento da população ao longo do tempo. Estamos invertendo essa lógica com uma estratégia diferenciada e contando com a sensibilidade da presidenta Dilma Rousseff”, disse Sua Excelência.
Não dá para entender. Invertendo a lógica? Há uma contradição inequívoca nisso: mandou reconstruir Camará dizendo abastecer 160.000 habitantes em Esperança, Alagoa Nova, Areia, Remígio, Lagoa Seca, Lagoa de Roça, Matinhas etc. Camará conta com apenas 26.500.000m³ de água, faltando tirar daí as perdas por evaporação e águas de fundo, impróprias para serem ofertadas. Que reserva estratégica da própria água estará à disposição desses municípios para desenvolvimento? São 160.000 habitantes, são 26.500.000m³ de água a ser acumulada, são 50% de perdas por evaporação e águas de fundo, são 200 litros de água o consumo diário de cada habitante.
Para se tirar a conclusão, o Governador pode consultar sua própria equipe técnica e verá que Camará não atenderá à sua afirmativa ou expectativa. O plano de Camará bem que poderia ser chamado de águas para a sobrevivência, nunca para o desenvolvimento. Se tivesse buscado a água via adutora em Boqueirão, que é um receptor do São Francisco, aí sim: seriam águas para o desenvolvimento. O dinheiro que o governo está gastando em Camará e posteriormente nas adutoras não trará, infelizmente, benefícios para a sociedade.