POLÊMICA: Como Eduardo Cunha vai provar que não mente - Por ALEX SOLNIK

cunha 3

Cunha tem uma boa resposta por dia para as repórteres e os repórteres que o assediam enquanto caminha, impassível, entre o plenário e o seu gabinete, alheio às pedras que a cada manhã os jornais lhe atiram e agindo como o sândalo, que perfuma o machado que o fere.

Ontem ele cunhou duas boas: 1) “Vou provar que não faltei com a verdade”; 2) “Há 150 deputados na mesma situação que a minha”.

Eu até consigo adivinhar como ele vai provar que não está mentindo e não me baseio em nenhuma informação vazada por seus aliados ou adversários.

Somente na lógica.

Cunha disse na CPI de mintchura que não tinha contas no exterior. Muito bem.

Enquanto não for condenado por ter contas no exterior – e uma condenação no STF, principalmente, nunca é rápida, seja devido ao trâmite lento, seja devido aos inúmeros recursos – ele tem a presunção da inocência. Não adianta usar notícias de jornal como provas. Tolice.

Enquanto ele não for condenado com sentença definitiva – e não forem, assim, confirmadas oficialmente as contas na Suíça – e não o será nos próximos meses, não se pode dizer que ele mentiu.

A mentira não foi provada.

Enquanto a mentira não for provada pela Justiça prevalece a palavra dele, certo?

Se não mentiu, não quebrou o decoro.

O caso vai morrer na própria comissão de ética, nem irá ao plenário, garante a “bolsa de apostas de Londres”.

Ao declarar que há 150 deputados na mesma situação que ele – acusados, mas ainda não condenados – ele passou um recado claro a esses 150 votos garantidos: me salvem que eu salvo vocês; me condenem que os jogo no inferno.

O primeiro candidato ao inferno é Chico Alencar, que liderou o pedido de cassação de Cunha e em represália também foi denunciado à comissão de ética por Paulinho da Força, muito apropriadamente definido por ele como “Paulinho Mandado”.

Foi constrangedor assistir à cena em que Paulinho denunciava Chico na tribuna por contribuições à campanha de 3.800… 1450 reais…

Quando os observadores constatam que há ao menos 150 Cunhas na Câmara dos Deputados e que o PT continua refém de suas ameaças, as apostas pela cassação de Cunha, na “bolsa de Londres”, caem a praticamente zero.

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais “Porque não deu certo”, “O Cofre do Adhemar”, “A guerra do apagão”, “O domador de sonhos” e “Dragonfly” (lançamento janeiro 2016).