“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela opinião formada sobre tudo” é o que diz a famosíssima “Maluco Beleza” do eterno Raul Seixas. Talvez, essa seja a música mais adequada para começar o meu texto de hoje, mas o trecho mencionado deveria ser os versos seguintes, quando o autor afirma “se hoje te odeio, amanhã lhe tenho amor” e explico o motivo.
Em setembro do ano passado, com o lançamento do primeiro EP da Ex-BBB Juliette, escrevi meu pensamento sobre o trabalho e o título que me veio foi o seguinte: “Juliette e as celebridades que se tornam artistas”. Por ironia do destino, a temática que encabeçou meu artigo voltou a adentrar a vida da advogada paraibana, na última semana, quando a atriz Samantha Schmutz questionou a condição de Juliette ser uma “artista”. Agora cabe outra pergunta: uma Ex-Zorra Total pode criticar uma Ex-BBB?
O incômodo quando li no jornal diante aquela pergunta tão arrogante me fez botar a mão na consciência e sentir a necessidade, não de corrigir a escrita da matéria, mas refletir novamente sobre a carreira de Juliette. Por trás da pergunta da Samantha Schmutz existe uma série de fatores que precisam ser analisados, afinal, se uma palavra pode ter muitos significados, quanto mais uma frase.
Sou de uma geração que praticamente cresceu assistindo BBB. Fora da curva, fui contra a mais esta regra do meu tempo e sigo detestando o programa, nada contra quem goste, mas um relato extremamente pessoal. Ainda que a ideia do “Grande Irmão” do George Orwell onde o mundo é monitorado por câmeras que invadem a intimidade das pessoas (o que é genial), quando se transformou em reality passou a se mais um “mero besteirol americano”
Ainda assim, diante tamanha crítica, tenho de admitir que uma pequena parte dos participantes do jogo conseguiram prosperar em uma carreira artística.
A atriz Grazi Massafera, por exemplo, se tornou um nome importante na dramaturgia brasileira. A apresentadora Sabrina Sato, conquistou o público e até hoje segue na televisão. Poderia citar até outros nomes, mas este não é o objetivo.
Quero questionar o que define ou não a arte, o ser artista e esta pergunta também ganharia respostas dos mais variados teóricos que estudam a produção cultural. O que existe ainda na área, assim como nos demais nichos da sociedade, é a taxação das pessoas. Em pleno século XXI, o ser humano ainda vive mais ligado às classificações de gênero, raças, credos e classes, porém, muitas vezes é esquecido que pessoas são pessoas independente de tudo isso.
SER OU NÃO SER?
Segregar é uma realidade que atinge até a arte, a forma mais sensível da nossa representatividade. Algo básico, que mais parece não termos aprendido na escola, é que não existem culturas superiores e nem inferiores, afinal ela é construída por humanos e também não existe essa distinção entre nós.
A Bossa-Nova, um dos gêneros musicais mais lindos do mundo, só surgiu do movimento antropofágico de “deglutir” ritmos populares como o samba e baião, além do requintado jazz, para nascer. O mesmo aconteceu com o Tropicalismo, Rock Nacional, Axé e tantos outros sons que ouvimos por esse enorme Brasil. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira foram referências para Raul Seixas e João Donato.
Fonte: Luã Diógenes
Créditos: Luã Diógenes